Estive na CNN em Atlanta para um estágio de um mês em junho de 2015 e vi muita coisa que o jornalismo da Record já fazia no Brasil. Relatei detalhadamente o que vi e aprendi em dois textos:
Em síntese, quando Jeff Zucker assume a direção da CNN, vindo da NBC Universal e da Disney, com o desafio de colocá-la de volta no jogo da audiência, aposta em algumas estratégias:
Douglas Tavolaro tem um mérito gigantesco de transformar essa TV. Se hoje, o telespectador muda de canal para a Record quando algo está acontecendo a “culpa” é do Douglas. Esse é um ativo que não tem preço. Com ele, o jornalismo ganhou prioridade absoluta na programação. Trabalhei na cobertura do acidente da estação Pinheiros em 2007. Foram horas e horas de jornalismo ao vivo. Sujeito a erros? Sim… Mas se corrigindo no ar, com a cultura do instantâneo. Algo próximo a internet : errou, corrige.
Outro grande mérito, a Record passou a investir na grande reportagem e na investigação. São inúmeros núcleos de reportagem pra abastecer semanalmente as séries do Jornal da Record, a Grande Reportagem do Domingo Espetacular e a programas como o Câmera Record e o Repórter Record. São dezenas de produtores, repórteres e editores com salários acima da média do mercado. Os orçamentos de produção sempre foram muito bons. Se a história for boa, sinal verde pra viagens e dias de investimento…Isso se traduziu em inúmeros prêmios Esso, Embratel, Herzog etc.
Outro paradigma que Douglas quebrou — jornalismo dá audiência. Por vezes, ou na maior parte das vezes, há um exagero em surrar determinados assuntos? Sim, há. Mas o público parece querer isso.
Tradicionalmente, o produto jornalístico aparecia na programação televisiva para dar credibilidade , tendo que ser ensanduichado por dois produtos de alta audiência para não derrubar a grade. Ele já era visto como sucesso se conseguisse entregar para o próximo produto com a mesma audiência que recebeu …
Na história do telejornalismo brasileiro, podemos citar o “Aqui Agora” do SBT como exemplo na direção contrária ao que descrevi no parágrafo anterior. Hoje, o “Balanço Geral” e o “Cidade Alerta” atingem constantemente o primeiro lugar .
Quantas “meninas Vitórias” ficamos conhecendo pela Record? Esses casos reais viram novelas. São explorados a exaustão.
O público tem interesse mórbido e a Record só está explorando isso? Talvez, mas acho que a questão é um bocado mais complexa. Uma vez, o Renato Meirelles (ex-Datapopular e atual Instituto Locomotiva) me disse que grande parte do interesse do público nesse tipo de assunto é a necessidade de aprender para prevenir. Como evitar que minha filha/neta/sobrinha tenha o mesmo destino que a menina Vitória…
No período em que estive na CNN , não vi a cobertura de um caso exatamente igual aos que a Record costuma explorar. Acompanhei a que ficou conhecida como New York Manhunt — uma caçada a dois assassinos que fugiram de um presídio de segurança máxima em New York . Horas a fio de repórter em beira de estrada acompanhando buscas… especialistas mil tentando falar sobre como localizar pessoas no meio da mata — até mesmo um caçador foi chamado pra dar seus pitacos…
Essa exploração de quatro/cinco assuntos que a CNN faz durante um dia é sensacionalismo? Talvez. Mas o fato é que isso ajudou um bocado na recuperação da audiência…
Os Estados Unidos vivem o período que está sendo denominado de Trump Bump na indústria da informação. New York Times, Washington Post e a própria CNN ganharam assinantes interessados no que o presidente Trump vem xingando de Fake News…
Aqui no Brasil o interesse na política (que atualmente praticamente se cobre como editoria de polícia) também vem bombando a audiência da Globonews e de portais. As peripécias iniciais do governo Bolsonaro elevam bastante a audiência no realtime dos telejornais.
As primeiras notícias são animadoras:
A saída do Douglas Tavolaro da Record, onde ele tinha uma posição absolutamente confortável, é por si só um bom sinal. Vai ser um chacoalhão na indústria brasileira…
Agora, algumas questões estão em aberto. Como será a condução editorial de uma CNN no Brasil? Ela terá a mesma postura que a matriz em relação ao governo Trump?
O licenciamento que a CNN faz mundo afora estabelece o cumprimento de uma série de regras e procedimentos. Vamos assistir, na prática, o quanto isso é fiscalizado…
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Por Rodrigo Hornhardt, jornalista pós-graduado em jornalismo digital pela ESPM. Texto publicado originalmente na página do Virando Pauta no Medium.
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