O governo chega à conclusão que é preciso adicionar etanol na gasolina. Esta é um produto caro, poluente e que constantemente está submetida às intempéries internacionais. Ou conflitos do petróleo, especialmente no Oriente Médio, ou dos manipuladores dos preços do barril que flutuam ao sabor dos interesses das grandes petroleiras internacionais. São carinhosamente chamadas de As Sete Irmãs. Parece nome de filme de terror. Adicionar etanol alivia o uso da gasolina, a poluição, e incentiva os usineiros a produzir combustível de melhor qualidade.
É verdade que há super produção especialmente no Nordeste. Desde o início da colonização portuguesa no século 16, a vocação dessa região são os grandes plantations de cana de açúcar, inicialmente voltados para abastecer o mercado europeu de açúcar. Hoje a produção do etanol compete com o açúcar, mas para tanto é preciso assegurar que o mercado interno se abra para o consumo do produto. E sem dúvida, uma das formas é a lei que obriga a mistura na gasolina. Nem é preciso mexer nos motores dos carros.
Dada a tradição histórica do Brasil, não há concorrentes para a produção do etanol. O mesmo não se dá com o açúcar. Mesmo assim o mercado consumidor mundial de açúcar não para de crescer, e isto põe em risco o consumo local. Os usineiros preferem receber o produto em dólar. A saída, segundo o governo, é impor uma lei que obrigue a reter no país dez por cento da produção, à título do que convencionou chamar de “estoque regulador”. Ou seja o Estado tem que intervir para que a população não compre açúcar pelo preço que é vendido nos super. mercados americanos, ou ocorra um estímulo ao mercado negro do produto.
O que move os motoristas a usar o etanol é o preço. Não estão preocupados com os produtores, o meio ambiente, ou o proprietário do posto que está com estoques lotados. Afinal, não é necessário ser um técnico para saber que com um litro de gasolina é possível percorrer uma distância muito maior do que queimando um litro de etanol. Ainda mais com os carrões com motores guarnecidos de uma verdadeira cavalaria. É preciso manter o mercado com as rédeas curtas, de acordo com a tendência atual de intervencionismo estatal onde quer que ele seja necessário.
Como gostam alguns, o setor de combustível é estratégico. É de interesse nacional e não pode ser levado pelos ventos do mercado. Para isso nada melhor do que criar uma autarquia, ligada ao presidente da república. Ela fica sob controle direto do executivo que tem a caneta para mudar o que e quando quiser, principalmente na nomeação dos filhotes e afilhados dos poderosos políticos regionais. É um ativo excelente para a política do “é dando que se recebe”. Como não pode deixar de ser a estrutura foi ficando cada vez mais complexa com mais órgão e mais funcionários.
Ainda assim, ninguém tinha coragem de dar um basta em uma autarquia criada logo depois da chegada dos revolucionários no poder. Era desafiar o poder da força, em um país que vive sem uma constituição para chamar de sua. O ditador suspendeu a constituição da república e governa como um verdadeiro caudilho latino-americano. Getúlio Vargas criou o Institui do Açucar e do Álcóol. Naquela época não se dizia etanol. O IAA durou até 1990 depois de 67 anos de vida.
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