“O principal é demonstrar amor pela profissão”, destaca editora do Formando Focas

A oficina “Como conseguir um estágio em Jornalismo?”, realizada pela jornalista e professora Patrícia Paixão, responsável pelo blog Formando Focas, reuniu, na tarde de sábado, 8, dezenas de estudantes de comunicação, de diferentes universidades, interessados em discutir e aprender como construir o seu primeiro currículo e a se preparar para o mercado de trabalho.

Realizada no auditório Vladimir Herzog, no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, o evento, promovido pela entidade, também contou com a participação do jornalista Dal Marcondes, da Envolverde e da Associação Profissão Jornalista (APJor), que proferiu palestra sobre “Empreendedorismo no Ecossistema do Jornalismo”.

Patrícia apresentou check list que deve ser seguido pelo aluno de Jornalismo que deseja conseguir estágio, a começar pela necessidade de respeito à Língua Portuguesa. Ela ressaltou que, segundo estudo promovido pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), 40% das reprovações em processos seletivos de estágio acontecem por conta de erros gramaticais. Para a blogueira, não adianta saber outras línguas sem dominar primeiro o português. Ela destaca que, para cometer menos erros, a chave é se tornar “neurótico”, revisando muitas vezes o texto, lendo bastante, fazendo cursos de gramática, consultando o dicionário, se empenhando sempre para ter bom domínio da língua que, para um jornalista, é condição essencial.

Outro ponto destacado pela professora foi a atenção que os focas precisam ter para não limitar, no campo “objetivo” do currículo, a área pretendida para atuação. Segundo ela, quando se está começando, deve-se colocar no campo “objetivo” algo mais amplo, como “atuar na área jornalística”, para assim estar aberto a qualquer tipo de vaga que possa aparecer. “Não é estratégico deixar o campo objetivo muito fechado, colocando, por exemplo: atuar em produção de TV. Se você está começando, precisa estar aberto a qualquer tipo de vaga. Toda experiência é válida”, enfatizou.

Para Patrícia, o aluno tem que ser proativo, participando de eventos na área e cursos complementares ao jornalismo. Além disso, é importante apostar na produção e publicação de reportagens, mesmo que seja em página pessoal.

Sobre a língua inglesa, não é segredo pra ninguém que ela é essencial para o ingresso no mercado de trabalho. Independente do nível, é sempre bom constar no currículo dos alunos. Além disso, conhecimentos nos demais idiomas e em programas como o Pacote Office, Photoshop e InDesign são muito importantes para o repertório dos estudantes que estão à procura de uma vaga.

Mas a docente destacou, finalizando sua palestra: “o principal é ter tesão e brilho no olhar, demonstrar amor pela profissão. Nenhum empregador quer um estagiário que não sabe o que está fazendo na área”.

Patrícia trouxe dois alunos dela para compartilhar suas experiências de estágio com o público: Beatriz Sanz e Kaique Dalapola, estudantes da antiga Faculdade do Povo de São Paulo (FAPSP), hoje graduandos da Universidade São Judas e das Faculdades Integradas Rio Branco, respectivamente. Beatriz e Kaique relataram suas histórias de superação ao público, mostrando como conseguiram entrar na área jornalística.

Beatriz, atualmente estagiária do jornal El País e colaboradora da Agência Mural (que tem parceria com a Folha de S.Paulo), falou sobre a importância de aproveitar oportunidades. A aluna garantiu seu atual emprego em um evento que ela participou e no qual ela era a única estudante de jornalismo. “Só eu de estudante estava lá, então isso chamou a atenção do pessoal”.

Seu primeiro furo de reportagem no veículo em que trabalha foi a revelação de que um dos presos na Operação Hashtag, durante as Olimpíadas no Brasil, não tinha qualquer tipo de ligação com um movimento terrorista; era apenas um professor de árabe.

A estudante destacou que, além dos conhecimentos elencados por Patrícia Paixão, marketing digital, em especial SEO, é essencial para o ingresso do jornalista no mercado de trabalho. Ela também salientou que o estudante de jornalismo precisa ter visão solidária e humanista. “Jornalismo é tratar todo mundo igual, porque é isso que nós somos. Será que você é o cara que seu colega indicaria para uma vaga de estágio? Como você trata as pessoas ao seu redor? É preciso pensar nisso”, finalizou.

Kaique, estagiário do portal R7 e colaborador da Ponte Jornalismo, também falou sobre a sua trajetória de lutas para ingressar na área. Morador da periferia, ele quase teve que parar a faculdade duas vezes por ter dificuldade de financiá-la. Embora jovem, ele foca o trabalho jornalístico na ajuda às pessoas das periferias, que passam por muitas das questões que ele enfrentou. Para ele, o mais importante no jornalismo é dar voz a aqueles que foram esquecidos pela sociedade. “A gente pode mudar o mundo de várias pessoas, sim!”, afirmou o estudante, fazendo referência à fala da repórter do SBT, Thaís Nunes.

Seu primeiro furo de reportagem pela Ponte Jornalismo foi sobre a morte do menino João Victor em frente ao Habib’s. Kaique mostrou que os advogados da empresa ofereceram dinheiro para a família do menino esquecer o caso. Ele também participou de duas reportagens especiais do R7 sobre o sistema carcerário no Brasil e sobre torcidas organizadas. “O jornalismo mudou a minha vida”, finalizou Kaique.

*Elizabeth Matravolgyi, integrante do projeto Correspondente Universitário e estudante do curso de Jornalismo da Faculdade Mackenzie.

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