Pensamento crítico, analítico e inovador, resolução de problemas, iniciativa, autogerenciamento e capacidade de aprender rapidamente através da prática. Essas são habilidades fundamentais para um futuro próximo, segundo o relatório “The Future of Jobs”, produzido pelo Fórum Econômico Mundial. No entanto, hoje já faltam trabalhadores habilitados para realizar de forma estratégica a digitalização nas empresas.
Em 2021, no Brasil, havia 159 mil vagas abertas em tecnologia, mas apenas 53 mil profissionais se formaram, segundo relatório produzido pela Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação – TIC – e de Tecnologias Digitais). De acordo com o estudo, até 2025, a demanda nessa área será de 797 mil trabalhadores pelo mercado. Então, como a educação pode formar profissionais especializados para os negócios 4.0?
O modelo tradicional de ensino, ainda vigente nas escolas e centros de treinamento, tem seu foco no uso de ferramentas, técnicas e conceitos teóricos fundamentais e tradicionais de cada área de estudo. No entanto, quem se forma nesse contexto não se encaixa com o que pede o mercado. “Como as ferramentas e o próprio conhecimento de base estão evoluindo muito rapidamente, este tipo de modelo não forma o profissional que o setor produtivo necessita”, esclarece Álvaro Cantieri, professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR).
Cantieri explica que o ambiente produtivo atual “é dinâmico e multiconceitual, ou seja, exige que o profissional possua competências e habilidades em diversas áreas do conhecimento além da área técnica e específica na qual atua”. Para o especialista, o principal desafio também passa pelo domínio de ferramentas tecnológicas, pela habilidade de aprender novos conceitos e dominar técnicas de forma rápida, conseguir comunicar-se e compreender conceitos das diversas áreas envolvidas em um processo.
As perspectivas para o futuro próximo
Mas como virar a chave para essa mudança de paradigma? “Um bom ponto de partida seria remodelar o ensino profissional (e se possível o ensino básico) para trabalhar em modelos como o Aprendizado Baseado em Projetos ou Aprendizado Baseado em Problemas (Project/Problem Based Learning – PBL)”, sugere Cantieri, Doutorado em Engenharia Elétrica pela UTFPR, na área de robótica aplicada.
Para isso, seria necessária a parceria entre entidades de ensino e empresas, que ofereçam problemas reais a serem trabalhados pelos estudantes. “Assim, seriam avaliados os resultados práticos obtidos para sua implementação nos processos”, esclarece.
Enquanto não são colhidos os frutos dessa mudança necessária, empresas têm buscado talentos cada vez mais cedo, visando sua formação continuada dentro do formato “learn by doing”. Cantieri, que também será palestrante do evento FestQuali, relata que “atualmente, muitas das grandes empresas multinacionais estão preferindo contratar jovens por volta de 16 anos, com conhecimento em tecnologia, para “formá-los” no ambiente de trabalho, através de treinamentos feitos pela própria empresa e a integração destes jovens nos projetos em andamento”.
Contudo, o professor alerta: “Não deveria ser papel da empresa fazer essa formação, mas isso tem sido necessário para prover o tipo de profissional que a empresa necessita no ambiente supercompetitivo que nos encontramos atualmente”. Ele pontua, ainda, que os governos e as escolas terão, em algum momento, que assumir a tarefa e mudar seus paradigmas educacionais. Deve-se permitir a formação de profissionais adequados e em quantidade suficiente para suprir as necessidades dessa nova sociedade.
A formação de profissionais preparados para o novo paradigma dos negócios 4.0 atualmente é um desafio mundial. Mesmo nos países desenvolvidos, são grandes as dificuldades de remodelamento dos sistemas de ensino.
O professor argumenta que não existe uma solução única capaz de solucionar todos os problemas, mas o aprendizado através da prática pode ser uma forma de iniciar um novo modelo de formação para profissionais altamente eficazes e com as competências importantes para a geração de resultados nos negócios 4.0.
Toda essa mudança não produz frutos da noite para o dia – educação é um investimento de médio a longo prazo. “Isso leva tempo, e os resultados práticos levam ainda mais tempo para chegarem à sociedade”, salienta.
Enquanto uma nova proposta educacional não se estabelece para resolver a questão, empresas como a Google, Iteris, Ame, Magazine Luiza, iFood, Dell e VTEX têm oferecido ao público acesso a cursos gratuitos na área tecnológica. Também é possível encontrar capacitação gratuita em universidades como as de Edimburgo, Toronto, Washington, a Fundação Getúlio Vargas, a Fundação Bradesco, Senai, entre outros.
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