Projeto mantém histórias de jornalistas mortos ou ameaçados

A necessidade de tal organização é dolorosamente visível. Em anos recentes, jornalistas indianos foram queimados vivos para parar suas reportagens sobre mineração ilegal

Há mais de 15 anos, o jornalista francês Laurent Richard produz grandes reportagens investigativas. Nesse período, esteve no Iraque, no Uzbequistão, no Cazaquistão e em vários outros países onde a liberdade de imprensa é escassa e fortemente ameaçada.

No ano passado, Richard lançou o Forbidden Stories. O projeto, feito pela Freedom Voices Network — da qual ele é fundador — em parceria com a organização Repórteres Sem Fronteiras, objetiva dar continuidade ao trabalho de jornalistas mortos, ameaçados ou presos. Assim como o Programa Tim Lopes — que tem objetivo bastante semelhante —, o Forbidden tem inspiração no Arizona Project, realizado nos anos 70, em que 38 jornalistas de 28 jornais e canais de televisão de todo os Estados Unidos decidiram trabalhar juntos para completar o trabalho do repórter Don Bolles, morto em uma explosão de carro em Phoenix, Arizona.

Na entrevista a seguir, Richard explica a motivação, os objetivos e a estrutura do Forbidden Stories.

O que motivou a criação do projeto?

Três anos atrás, em 7 de janeiro de 2015, às 11h30 da manhã, um evento na França, meu país nativo, mudou minha vida. Os jornalistas do Charlie Hebdo – colegas que haviam trabalhado no mesmo andar que em um prédio comercial em Paris – foram assassinados por dois terroristas, membros da Al Qaeda no Iêmen. Eu via esses jornalistas todos os dias, e de repente, com outros colegas na Premières Lignes, eu tentava ajudar aqueles que ainda estavam vivos. O massacre me fez mais consciente do que nunca da fragilidade da liberdade de imprensa.

Eu cheguei na Universidade de Michigan em Ann Arbor há um ano como um bolsista Knight-Wallace com um sonho em mente – criar uma plataforma internacional dedicada a publicar o trabalho de jornalistas que foram mortos, presos ou ameaçados. Meu objetivo era derrotar a censura através do jornalismo colaborativo e garantir o acesso à informação independente sobre temas críticos.

Qual o objetivo do projeto e qual mensagem ele tenta transmitir?

Eu acredito que quando um jornalista está disposto a arriscar a sua vida por uma história e pela livre circulação de informações, outros jornalistas comprometidos com os mesmos ideais precisam ajudar esse trabalho a chegar ao público.

Ao proteger nossas histórias e continuar o trabalho de repórteres que não podem mais investigar, nós podemos mandar um poderoso sinal para os inimigos da liberdade de imprensa: mesmo que você consiga parar um único mensageiro, você não vai parar a mensagem.

A necessidade de tal organização é dolorosamente visível. Em anos recentes, jornalistas indianos foram queimados vivos para parar suas reportagens sobre mineração ilegal. No Azerbaijão, o repórter Seymur Hezi e outros jornalistas foram presos por reportagem sobre corrupção. No México, jornalistas investigando cartéis de drogas poderosos ou políticos estão sob constante ameaça de perigo. E os jornalistas enfrentam perigos semelhantes em numerosos outros países.

“Colaboração” se tornou um slogan excessivamente usado no jornalismo hoje em dia. Mas pode ser uma ferramenta tão poderosa para a prestação de contas e transparência quanto a tecnologia que nós precisamos hoje para distribuir e compartilhar nosso trabalho.

Como o Forbidden Stories ajuda os jornalistas a manter suas histórias e suas vidas a salvo?

Se você é um jornalista em perigo, você pode enviar suas informações sensíveis através de um dos nossos canais de comunicação segura. Nossa redação nunca vai roubar sua história. Mas se alguma coisa acontecer com você, nós seremos capazes de continuar seu trabalho e publicá-lo amplamente, para além das fronteiras, através da nossa rede colaborativa. Se você está fazendo uma reportagem sobre questões potencialmente perigosas como meio ambiente, corrupção, violações de direitos humanos ou outras questões perigosas, nossa rede oferece um tipo de seguro para o seu trabalho, para que ele continue mesmo que você seja parado.

Quem está apoiando o projeto e como a rede se formou?

O jornalismo investigativo transfronteiriço está entre os mais caros e arriscados do mundo. O Forbidden Stories é um projeto sem fins lucrativos que depende de fundações de caridade e do suporte financeiro do público. Nosso principal financiador atualmente é a Omidyar Network, que financia nossa organização através do nosso parceiro Repórteres Sem Fronteiras.

A Freedom Voices Network é uma redação independente e transparente. O Forbidden Stories e a Freedom Voices Network mantêm um limite rígido entre nossa política editorial e nossa captação de recursos. Todas as decisões editoriais são feitas de forma independente, e nenhum doador ou instituição influencia a cobertura do Forbidden Stories ou da Freedom Voices Network.

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Abraji

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Criada em 2002 por um grupo de jornalistas brasileiros interessados em trocar experiências, informações e dicas sobre reportagem, principalmente sobre reportagens investigativas. É mantida pelos próprios jornalistas e não tem fins lucrativos.

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