Ex-trabalhadores do jornal Hoje em Dia – controlado pela Ediminas S/A – estão desde a manhã de quinta-feira, 1º de junho, ocupando prédio da JBS, em Belo Horizonte, onde funcionava a sede do impresso. O movimento é realizado em protesto contra a falta de pagamento de seus direitos salariais após serem dispensados. Na internet, a editora publicou posicionamento onde afirma que “vem cumprindo rigorosamente a legislação trabalhista”.
O imóvel ocupado foi citado na delação premiada do executivo Joesley Batista, que informou que adquiriu a propriedade por R$ 17.354.824,75, a pedido do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). Dono da empresa de comunicação à época da negociação, Flávio Jacques Carneiro negou irregularidades na venda do prédio. Apesar do valor recebido, os profissionais demitidos em 2016 pela Ediminas não receberam pagamento até agora.
“A atual gestão da Ediminas S/A assumiu o jornal Hoje em Dia quando a venda do prédio já havia sido concluída e vai colaborar com a Justiça prestando todos os esclarecimentos que forem por ela solicitados. O jornal não funciona mais no prédio da rua Padre Rolim”, informou a empresa no comunicado oficial. Atualmente, a editora pertence ao ex-prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz, marido da deputada federal Raquel Muniz (PSD-MG).
A empresa de comunicação informou, ainda, que as rescisões de contrato estão sendo tratadas caso a caso por meio do Ministério Público do Trabalho, da Justiça do Trabalho e de sindicatos das categorias profissionais relacionadas ao jornal. “O Hoje em Dia reitera o compromisso com a transparência das informações e a ética profissional e informa que mantém seu funcionamento regular, o que permite a preservação de dezenas de empregos”, disse a nota.
A reportagem do Portal Comunique-se entrou em contato com a equipe de comunicação da J&F – holding que controla a JBS – para saber o posicionamento da empresa em relação ao prédio ocupado. Em resposta, foi informado que “a ocupação não tem nenhuma relação com a J&F e com a delação” e que “todos os documentos referentes à delação foram entregues à Justiça”.
Demitidos contestam posicionamento da editora
Após a publicação do posicionamento da editora, os jornalistas demitidos afirmaram, em texto publicado no site do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, que estão consternados com a situação.
Segundo a entidade, “o grupo foi demitido ao findar do último dia do mês de fevereiro [de 2016] propositadamente, de modo a não incorrer no período alusivo à negociação salarial, mas, ao mesmo tempo, fazendo os mesmos, inocentemente, fecharem a edição do dia seguinte sem saber que seriam defenestrados ao findar da jornada, numa atitude que evidencia a covardia dos gestores”.
O sindicato informou, ainda, que a Ediminas se comprometeu, diante do Ministério do Trabalho, a pagar o rescisório, chegando a marcar horários com os demitidos na sede da entidade. No entanto, na véspera dos encontros, a empresa depositou o montante de R$ 500 na conta de cada um, sem nenhuma explicação.
“No dia do acerto, os representantes da mesma compareceram ao Sindicato, em veículo identificado do jornal, e, frente aos demitidos e aos advogados e representantes, se negaram a pagar, dizendo que deveríamos procurar a justiça”, disse a entidade. “Não bastasse, ainda se retiraram do lugar rindo, o que foi devidamente fotografado. Com essa atitude irresponsável e leviana, jogaram os demitidos numa barafunda sem fim, pois sequer tiveram acesso de imediato ao FGTS, dado o grau de irregularidade da demissão”.
Segue a ocupação
Cerca de 150 pessoas – entre os profissionais que não foram pagos pelo Hoje em Dia e organizações que anunciaram apoio à causa – passaram a noite na ocupação do prédio vendido pela Ediminas para a JBS. Em contato com a reportagem do Portal Comunique-se, o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Kerison Lopes, informou que o movimento não tem previsão de quando deixará o local.
“Estamos dispostos a continuar ocupando, permanecendo no espaço até que as empresas que nos devem deem algum posicionamento sobre o tema. Ainda não abriram negociação, nós estamos tentando também que eles tenham alguma iniciativa. Só sairemos daqui quando derem posição concreta de quando os demitidos receberão os valores que lhe são de direito. Mas, enquanto isso, continuaremos ocupando e não temos previsão de sair do prédio”, disse.
Além de jornalistas e iniciativas do jornalismo independente, o movimento de ocupação conta com apoio de famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do município mineiro de Itatiaiuçu, que foram ao local da ocupação para levar alimentos para os manifestantes.
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