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Psicóloga explica como lidar com estresse pós-traumático

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As tragédias naturais, como as enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul, podem deixar marcas profundas não apenas no ambiente físico, mas também na psique das pessoas afetadas. Vítimas diretas e indiretas, incluindo equipes de resgate, terapeutas, jornalistas e a população em geral, se tornam suscetíveis ao desenvolvimento de transtornos, como o estresse pós-traumático (TEPT).

Relatórios divulgados pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul em parceria com a PUC RS indicam que a prevalência do TEPT em vítimas diretas de desastres, em um ano, varia entre 30% e 40%; para equipes de resgate, entre 10% e 20%; e para a população em geral, entre 5% e 10%, sendo a extensão da exposição ao desastre o principal fator para o desenvolvimento da doença. O mesmo estudo também revela que a maioria das pessoas expostas a um trauma irá se recuperar, mas o tratamento é delicado e pode ser demorado. Por isso, é primordial divulgar informações confiáveis para amigos, familiares, terapeutas e todos os envolvidos no resgate e acolhimento das pessoas afetadas pelas enchentes.

Diante desse cenário, profissionais têm desenvolvido conteúdos com o intuito de amenizar àqueles que estão em busca de uma ajuda e muitas vezes não sabem a quem recorrer. A psicóloga Cristina Florentino (CRP-SP 06-84874) tem realizado esse trabalho, ministrando em seu canal do YouTube alguns conteúdos para pessoas que estejam passando por essas situações.

“Os traumas originados por desastres naturais têm características específicas devido à natureza abrupta e muitas vezes devastadora desses eventos. Os principais fatores de risco incluem a extensão da exposição ao desastre, perda de entes queridos, destruição de propriedades e a própria ameaça à vida”, pontua Florentino.

A especialista reforça que os sintomas de TEPT e outros transtornos relacionados ao trauma podem incluir:

Sintomas intrusivos: flashbacks, pesadelos, pensamentos intrusivos;

Evitamento: evitar lugares, pessoas ou atividades que tragam memórias do evento;

Alterações cognitivas e de humor: dificuldade de concentração, pensamentos negativos persistentes, sentimento de culpa – inclusive por ter sobrevivido – e vergonha;

Alterações de excitação e atividade: irritabilidade, explosões de raiva, hiper vigilância, dificuldades para dormir;

Cristina Florentino ainda reforça que os primeiros cuidados psicológicos (PCP) são essenciais para a estabilização emocional imediata das vítimas de desastres. Segundo o Instituto Brasileiro de Trauma, esses cuidados incluem:

Oferecer apoio e cuidados práticos: fornecer informações claras e objetivas, ajudar a suprir necessidades básicas como comida, água e abrigo;

Escuta ativa e compassiva: ouvir as vítimas sem pressioná-las a falar sobre o trauma, validando seus sentimentos;

Garantir a segurança: proteger os sobreviventes de danos adicionais e criar um ambiente seguro;

Corregulação emocional: ajudar as vítimas a se autorregularem emocionalmente, utilizando técnicas de respiração e relaxamento;

Encaminhamento: identificar e encaminhar pessoas que necessitam de intervenção psicológica ou psiquiátrica especializada.

Tipo de abordagem influencia no resultado

De acordo com a psicóloga, durante tragédias e crises, as palavras que são escolhidas para abordar os sobreviventes podem ter um impacto duradouro. “Substituir frases potencialmente prejudiciais por alternativas que reconheçam e validem a experiência emocional dos afetados é crucial para facilitar a autorregulação. Sustentar um ambiente seguro, sem exacerbar o trauma, requer uma comunicação meticulosa e reflexiva, elementos essenciais no manejo eficaz do trauma”, afirma Cristina.

 A combinação dessas estratégias pode criar uma abordagem prática para a recuperação, permitindo que as vítimas de trauma desenvolvam habilidades para lidar com suas emoções, melhorar seu bem-estar geral e, de alguma forma, reduzir o risco de desenvolver doenças psiquiátricas mais graves.

Florentino destaca a importância de os sobreviventes de desastres naturais terem acesso garantido à saúde mental. Governos e instituições devem assegurar a oferta de serviços psicológicos e psiquiátricos acessíveis. Além disso, campanhas de conscientização sobre os sintomas do TEPT e a importância da busca por ajuda profissional são fundamentais. O suporte psicológico não deve ser apenas imediato, mas contínuo, para auxiliar na recuperação a longo prazo.

“O manejo de traumas decorrentes de tragédias naturais requer uma abordagem compreensiva que envolve a identificação de sintomas, a prestação de primeiros cuidados psicológicos e a implementação de estratégias de autocuidado e autorregulação emocional. É igualmente fundamental assegurar que os direitos dos sobreviventes ao acesso à saúde mental sejam respeitados e promovidos. A resiliência e a recuperação são possíveis com o apoio adequado, ajudando as vítimas a reconstruírem suas vidas após a adversidade”, finaliza.

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