O tema ainda pouco explorado e, ao contrário dos meios tradicionais de comunicação, não há uma regulação específica sobre a publicidade infantil na internet. Em evento realizado em São Paulo, nesta terça-feira, 27, especialistas do Instituto Alana, FGV, Cásper Líbero, Procon e Pereira Neto Advogados apresentaram casos e pesquisas que mostram como as empresas vêm se aproveitando da falta de regulamentação para promover seus produtos na plataforma de vídeos.
“Se a plataforma diz que não é feita para maior de 18 anos, existe uma dissonância aqui”, explica o advogado do Instituto Alana, Pedro Hartung, ao abrir o evento e mostrar os termos de acesso do YouTube. Crianças entre 0 e 12 anos já somam mais de 50 bilhões de visualizações na plataforma (pesquisa ESPM MEDIA LAB). “Hoje o evento mais famoso é quando um youtuber está lá”. Durante a apresentação, Hartung também falou como as crianças que geram esse tipo de conteúdo estão expostas ao estresse do trabalho comum.
Ainda representado o instituo Alana, a advogada Livia Cattaruzzi reforçou sobre os perigos do acesso feito pelas crianças e como as empresas estão se aproveitando deste momento. “O acesso é totalmente aberto. Você entra e vê os vídeos sem ter feito o cadastro”, explica.
Para Cattaruzzi, exibir o dia a dia da criança atrelado ao “unboxing” (termo utilizado para vídeos que mostram crianças desembrulhando brinquedos) vem chamando a atenção da audiência e consequentemente das empresas. Os estudos apresentados durante o evento mostraram que as crianças não sabem diferenciar a publicidade do conteúdo.
Claudia Pontes de Almeida, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), chamou a atenção para a audiência desses canais e usou o “Fran Nina e Bel para meninas” para exemplificar. Hoje, o canal soma mais de 5 milhões de inscritos e tem como principal público crianças até os 10 anos de idade. Nos vídeos, é possível ver mãe e filha interagindo com produtos como material escolar por exemplo. O que parece ser espontâneo, não passa de estratégias corporativas. “A criança vê o youtuber como amigo”, diz a especialista.
Já o advogado Philippe Sundfeld chamou a atenção para os desafios impostos por outras crianças, fator que ganhou notoriedade com o desafio da baleia Azul. Segundo Philipe circula na Câmara dos Deputados dois projetos de lei para este tipo de prática, a 7458 e 7430.
Presente no evento, o coordenador do Procon Paulistano, Adriano Nonato Rosetti, reforçou a importância do debate sobre o tema. “Esses eventos são importantes para consolidarmos as pesquisas e transformamos em programação de ações”.
No site do Procon Paulistano é possível denunciar este tipo de publicidade. Para isso, basta acessar este link e clicar em “Denúncias”.
Ricardo Nóbrega. Especialista em comunicação organizacional e Assessor de Imprensa da Fundação Cásper Líbero. Também faz parte do corpo discente do programa de Mestrado da Faculdade Cásper Líbero.
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