Quando se fala em economia, é comum que venha à mente setores como a indústria, o agronegócio e o varejo. Resultado disso, a cultura e a economia criativa, que reúnem os mercados de games, cinema e entretenimento, deixam de receber investimentos e políticas públicas, apesar dos resultados entregues.
Para se ter ideia, apenas o mercado de games movimentou R$ 11,8 bilhões em 2021, conforme um levantamento realizado pela Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos), em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Andrea Lofgrën, MSc e MBA graduada pela Full Sail University – que atua com economia criativa e gestão para as Indústrias criativas -, explica que a cultura é reconhecida internacionalmente como uma área fundamental de apoio e estímulo à diversidade de manifestações culturais dos povos.
“A existência de órgãos públicos dedicados é fundamental para ampliar o acesso aos bens e serviços culturais, fomentar a produção cultural e promover a economia da cultura, assim como garantir a representatividade da classe artística e por todos os trabalhadores da cultura”, afirma.
Lofgrën destaca que, no âmbito do poder público, o termo “criativo” costuma ser associado às atividades culturais. No entanto, os setores criativos englobam muito mais do que atividades relacionadas às artes.
“Existe uma discussão mais ampla sobre o escopo dos setores criativos na economia de países em desenvolvimento, notadamente naqueles que adotaram estratégias nacionais robustas e estruturadas para os seus setores criativos, como a Colômbia e o México”, afirma. “Esta discussão atinge, entre outras questões, a classificação das atividades a serem abarcadas pelas políticas públicas”, complementa.
Para a especialista, a dificuldade em definir o escopo de atuação dos governos se dá pela falta de uma classificação internacional única que delimite os setores criativos, que se estende ao Brasil. Ela conta que a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), que monitora a economia criativa desde 2013, propôs uma classificação que divide as indústrias criativas em treze segmentos agrupados em quatro núcleos.
“O núcleo da cultura inclui as expressões culturais, as artes cênicas, a música, o patrimônio e as artes. Já o núcleo da mídia inclui o editorial e o audiovisual, enquanto o núcleo do consumo inclui a moda, a arquitetura, o design e a publicidade e marketing”, reporta. “O núcleo tecnologia, por sua vez, inclui a TIC, Biotecnologia e Pesquisa & Desenvolvimento. Este modelo considera, portanto, setores que atuam com criatividade artística, criatividade científica, criatividade econômica e criatividade tecnológica”, diz ela.
Lofgrën conta que, no passado, foram feitas diversas tentativas de criar classificações que tivessem uma natureza mais abrangente, como as propostas pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), em 2004, e pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2008.
“Na prática, os setores selecionados tendiam a incluir aqueles de natureza tipicamente cultural – patrimônio, expressões culturais, artes de espetáculo, audiovisual e livro, leitura e literatura -, assim como setores que tinham uma base cultural, mas que incluíam um viés funcional, como moda, design, arquitetura e artesanato”, articula.
A especialista explica que nem sempre eram incluídas atividades como o marketing, TI (Tecnologia da Informação), Biotecnologia e P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) – segmentos não tradicionalmente associados aos setores criativos. “Em um artigo recente no Valor Econômico, João Bernardo Caldeira destaca que o setor cultural é a face mais visível da economia criativa. No entanto, existem outros setores com igual ou maior relevância como a publicidade, marketing, design, arquitetura e moda”, diz.
Lofgrën reconhece que elaborar políticas públicas para os setores criativos é uma tarefa complexa. Apesar de terem como ponto comum a criatividade humana como insumo principal, a heterogeneidade desses setores exige uma estratégia multissetorial de difícil coordenação.
“Políticas públicas relacionadas à economia criativa precisam estar pautadas no viés do desenvolvimento social e econômico para que possam ajudar a minimizar as desigualdades regionais, criar condições estruturais para o empreendedorismo e fomentar a geração de empregos e renda”, afirma. “Isto só se torna possível se houver alinhamento das políticas públicas setoriais em uma trajetória comum, como definiu Luciana Guilherme, pesquisadora da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)”, acrescenta.
A MSc e MBA graduada pela Full Sail University acredita que a economia criativa e o fomento cultural são elementos fundamentais para o desenvolvimento econômico da cultura, assim como a melhoria das condições dos trabalhadores da cultura. “Governos de países em desenvolvimento não poderão deixar de abordar outros setores da economia criativa, que hoje passaram a ser estratégicos, como a tecnologia da informação e pesquisa & desenvolvimento”.
Para Lofgrën, os entes governamentais devem se comprometer a investir nesse potencial criativo para alavancar o desenvolvimento econômico dos países, enfatizando a superação da pobreza, a inclusão social e a geração de emprego e renda. “Só assim será possível, utilizando os recursos do meio ambiente de forma responsável, alavancar os talentos criativos e a capacidade de inovação, transformando esses ativos em produtos e serviços que têm, ao mesmo tempo, potencial econômico e valor simbólico”, conclui.
Para mais informações, basta acessar: @fullsailbrazilcommunity
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