O lugar de todo mundo é em qualquer lugar! Branco, preto, amarelo, vermelho, não importa a cor, a raça, o credo, o “lado” do seu pensamento político! Mas, corrigindo, o lugar de todo mundo deveria ser em qualquer lugar.
Deveria porque muitos de nós, seres humanos, pela força das armas, pela intolerância racial ou sexual, pelo ódio, acabamos reclusos. E a prisão nem sempre é uma cela! Uma burca, a censura de uma música ou de alguma ideia que não podemos expressar publicamente, o olhar repugnante de alguém que não concorda com a sua roupa, sua tatuagem, seu piercing ou seu corte de cabelo, são cadeias que aprisionam a alma, que te impedem de criar, de inovar e deixam o mundo mais cinza a cada dia.
Na última semana assistimos, estarrecidos, afegãos tentando fugir do regime Talibã se agarrando com todas, pelo lado de fora, a uma aeronave que decolava do aeroporto de Cabul. Sete vidas se perderam ali, despencando do alto.
A segunda opção também é válida porque quem viveu ou sabe o que é viver uma ditadura, um regime fundamentalista tão cruel como o que já ocorreu vinte anos atrás, antes da invasão americana ao Afeganistão, talvez tenha imaginado que a volta do Talibã representaria o não-viver! Simplesmente por não poder expressar a sua fé, não poder falar o que pensa, não poder mostrar o rosto em público, no caso das mulheres, ter que rezar somente na cartilha de quem tomou o poder a força e condena a morte os discordantes.
Sim! O lugar de todo mundo deveria ou poderia ser em qualquer lugar. Mas não é! Há milhares de vidas que não podem ir a lugar algum porque se perdem diariamente pela fome, pela falta d´água, pela miséria absoluta. E não pense que é somente na África, não! Basta sair do conforto do seu lar que você vai encontrar gente perambulando nas ruas, pedindo centavos para juntar o suficiente para um prato de comida. E olha como eles estão aumentando!
No Brasil, vivemos um momento difícil da nossa história. Radicais de um lado e de outro, que não conseguem sequer ouvir o que o outro tem a dizer, a argumentar.
É para tentar transformar o mundo com mais lugares assim que devemos brigar! E não apenas nas redes sociais, mas, principalmente, nos plenários das Câmaras Municipais, das Assembleias Estaduais e do Congresso Nacional.
Não adianta insistir. Se você defende uma ideia mais à esquerda, é taxado de “petista” e quer a corrupção de volta! Se exprime qualquer ideia mais à direita, é bolsonarista e não enxerga que o país está “naufragando”.
Seria cômico se não fosse trágico, mas a verdade é que assistimos no final de cada embate – a maioria nas redes sociais onde muitos se escondem por trás de pseudônimos – que não importa o que se discute porque a última palavra acaba sendo do Centrão. Isso, do Centrão! O sempre fiel da balança, que abriga alguns bons políticos, mas também a escória, os politiqueiros do toma-lá-dá-cá, das negociatas, do “retorno” nos contratos de obras públicas, da rachadinha dos salários, da “boa e velha política”!
Em muitos outros lugares do mundo também é assim. Você não pode expressar o que pensa e os políticos ou ditadores dominam o povo com falsas promessas ou com a força dos seus exércitos.
Mas há também lugares em que brancos, pretos, amarelos, vermelhos, gente de que independentemente da raça, do credo, do “lado” do seu pensamento político consegue viver em paz! É para tentar transformar o mundo com mais lugares assim que devemos brigar! E não apenas nas redes sociais, mas, principalmente, nos plenários das Câmaras Municipais, das Assembleias Estaduais e do Congresso Nacional. Porque não há outra saída para transformar um país que não seja pela “mão” dos políticos. E não são só eles que precisam mudar. Somos nós, principalmente. Porque nós é que escolhemos os ocupantes das cadeiras que definem o futuro das nossas cidades, do Estado em que vivemos, do nosso país.
*Hermann Hesse é jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará. Já foi repórter de emissoras de TV afiliadas ao SBT, Globo e Record. Também foi Coordenador de Comunicação da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, Coordenador de Comunicação Institucional da Prefeitura de Fortaleza e diretor de jornalismo do Grupo Cidade de Comunicação
**Texto originalmente publicado no Portal Terra da Luz
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