Luís Alberto Caldeira (**)
Há muito tempo que o Facebook se tornou grande passatempo eletrônico. Se num passado não muito distante a opção era gastar a tinta da esferográfica naquelas revistinhas com palavras cruzadas, hoje escorregamos o dedo na tela do celular (ou no scroll do mouse) matando preciosos minutos de vida nesta vasta rede onde todos gozam do direito de expressão.
Durante a minha faculdade de jornalismo, na época quando nem o Orkut existia e quando profissional de mídia era chamado de “o carinha da internet”, meus professores previam que, quando todo mundo pudesse falar ao mesmo tempo, ninguém seria ouvido. Antes, os meios de comunicação de massa eram os únicos emissores e nós mero receptores. Hoje, temos facilmente a ferramenta nas mãos para iniciar qualquer transmissão.
E daí todo mundo virou jornalista. Não é necessário mais diploma nem os ensinamentos da universidade. Se um corpo está no chão, vamos fotografar, postar e espalhar via zap. De que importam a ética, a filosofia, a sociologia e outras ciências chatas…
E nesse meio de se sobressair na multidão, recorremos ao marketing de conteúdo para angariar audiência e curtidas. É fácil perceber o número de posts sobre comportamento e dicas para o dia a dia sem muita profundidade espalhados por aí. Publicação com mais de dois parágrafos é textão. Que ninguém lê, inclusive este aqui.
E no vale tudo para ganhar direcionamentos para sua página, tira-se proveito daquilo que é o quente do momento e de assuntos mais buscados. Isso é marketing e não há nada de errado nisso, até você passar por cima de valores humanitários como o respeito ao outro e à vida. O caso do Catraca Livre, que pegou carona no acidente aéreo com o time do Chapecoense para postar links com dicas sobre como lidar com o medo de voar, fotos de pessoas em seus últimos dias de vida e imagens de pânico de passageiros, ainda na manhã em que a população buscava informações sobre a tragédia, lembrou a exploração daqueles comerciantes que aumentaram o preço da água mineral em cidades atingidas pela lama da Barragem de Fundão em Mariana. A miséria de uns é o lucro de outros. E isso me faz seriamente repensar se a raça humana deu certo ou se devemos entregar logo nosso planeta aos ETs.
Não passou do meio-dia para que as postagens estourassem protestos contra a página no Facebook. Um paraíso para os haters. Não igual, mas uma atitude semelhante à crítica do apresentador Zeca Camargo sobre a repercussão da morte do sertanejo Cristiano Araújo. A opinião é dele – você pode ou não concordar – mas exposta ao público na hora errada, quando a consternação e o luto ainda tomavam conta do país.
A página pediu desculpas. Tá bom. É nobre reconhecer o erro. Ficou a reflexão. Que estamos errando demais.
(*) Jornalista. Bacharel em Comunicação Social pela PUC Minas desde 2003. Pós-graduado em Comunicação Digital. Trabalha atualmente como Assessor de Comunicação e Marketing.
(**) Texto originalmente publicado no Facebook em 29/11/2016.
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