Como o mito Eike Batista foi vendido? Como ele caiu para a Lava Jato? Eike é do PT? É cria de Lula e de Dilma? É amigo de Aécio Neves e Luciano Huck? Quem é o bilionário que faturou em cima de especulações e como ele caiu nas garras da Lava Jato?
Se você não conhece as capas acima, eu explico. A primeira é da revista Veja de 2008, a segunda de 2012 e a última de semana passada, em 2017. Nelas, não há apenas a defesa do empresário Eike Batista, recentemente preso na Operação Lava Jato. Há a defesa de um outro Brasil, que não chegou a existir.
Ex-marido de Luma de Oliveira nos anos 90, Eike surgiu do tráfico de diamantes de Serra Pelada, de uma faculdade na Alemanha que não terminou e da sua paixão pelas especulações na Bovespa e em bolsas de valores ao redor do mundo. Chegou a concentrar US$ 36 bilhões no auge do seu império das empresas X. Tornou-se, segundo a revista Forbes, o sétimo homem mais rico do mundo, com capacidade de se expandir e encarar Carlos Slim ou Bill Gates.
Foi pego na Operação Lava Jato por sua ligações ao governo Sérgio Cabral, recentemente preso por esquemas nos governos Lula e Dilma. Isso levou muita gente do espectro da direita a relembrar da proximidade do ex-bilionário do PT, mas botar de lado sua intimidade com Aécio Neves, o PSDB e o longevo governo em Minas Gerais.
Dentro da Editora Abril, Eike Batista era assunto recorrente entre jornalistas. Ele surgiu no segundo governo Lula como esperança de impulsionar o setor empresarial brasileiro. Veja apressou-se em colocá-lo neste pedestal, assim como a Rede Globo e os grandes grupos da imprensa. Pouquíssimos fizeram a autocrítica sobre a OGX, LLX e empresas que prometiam ser a “Petrobras privada” na exploração das riquezas do pré-sal. Não deu outra: Quando os projetos não cumpriram os prazos, os US$ 36 bilhões derreteram e as ações das companhias de Eike chegaram a valer centavos.
Copiando o formato norte-americano de jornalismo de negócios, por muitas vezes sensacionalista e sem nenhuma crítica ao funcionamento real do livre-mercado, ou mesmo do modelo desenvolvimentista petista que fracassou, fabricamos um bilionário falso, baseado em especulações. Copiamos um executivo que quer ser mais Donald Trump e menos Bill Gates, criando negócios sem liquidez. Felizmente (ou não), o posto de Eike foi reposto pelo de Jorge Paulo Lemann, dono da 3G Capital que adquiriu a Heinz e tem participação no Burger King, com fortuna especulada em US$ 28 bilhões. Lemann investe em educação, um bem escasso no Brasil.
Nosso país, no entanto, perde tempo adulando executivos graças a sua mídia e não discute modelos de negócios reais ou empreendedorismo com riscos calculados. Os bilionários são corruptos não por culpa do PT ou do PSDB. São corruptos e corruptores porque aceitam o sistema de pagar propina em troca de favores. Criam efetivamente a corrupção sistêmica.
Um filme sobre a Operação Lava Jato tinha financiamento do próprio Eike Batista, preso recentemente pela Lava Jato.