A regra do último Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é clara, pelo menos para quem não se perde no obscuro campo da ortografia: são acentuadas as oxítonas, palavras cuja sílaba pronunciada com mais força é a última, terminadas em “a”, “e” e “o”, seguidas ou não de “s”, caso em que se encontra, por exemplo, “cocô”, cujo acento quem não aprendeu a regra, se esqueceu dela ou acha que tanto fez, tanto faz acaba colocando em “coco”, como se lê em certas placas de norte a sul do Brasil, já que esta palavra se escreve da mesma forma que aquela. Se, não importa por que, você tem medo de colocar o acento de uma na outra, principalmente quando for vender água da fruta, lembre-se de que “cocô” rima com DODÔ, IOIÔ e VOVÔ, todos com circunflexo (“^”), e “coco”, com BOBO, BOJO, BOLO, BOTO, FOFO, FOGO, JOGO, LOBO, LODO, MOFO, NOJO, POÇO, POVO, RODO, SOCO, TOCO etc., nenhum com “chapeuzinho”, como carinhosamente o acento circunflexo é chamado pelo povo.
Seguindo ao pé da letra a velha regra, eu gostaria que os incansáveis reformadores da caótica ortografia da língua portuguesa, que, talvez achando que o povo tem dinheiro sobrando para substituir dicionários, gramáticas e livros desatualizados, de tempos em tempos voltam para fazer ou desfazer tudo o que inventam para simplificar ou complicar a vida de quem escreve, me explicassem por que “você”, dissílabo oxítono terminado em “e”, é acentuado e “porque”, dissílabo oxítono terminado em “e”, não é, ficando com cara de paroxítono, como “corte”, “dorme”, “forte”, “morde”, “morte”, “norte”, “porte”, “sorte” e “torne”. Por favor, não me digam que é porque (ops!) a palavra (aliás, é uma palavra ou são duas, juntas à força?) é conjunção, ou serei obrigado a perguntar desde quando uma palavra perde o acento só porque muda de classe ou função. Por acaso, a conjunção “porque” não soa igual ao substantivo “porquê”, da mesma forma que a flexão verbal “água” soa como o substantivo “água”?
Edson de Oliveira. Revisor de textos há mais de 20 anos, corrigindo principalmente legendas de vídeo, transcrição de áudio e textos jornalísticos, é editor dos blogues EFMérides e Blogue da Revisão.