Relatório aponta viabilidade econômica para startups de jornalismo

Com base no estudo de 100 startups de jornalismo brasileiras, colombianas, argentinas e mexicanas, o relatório “Ponto de inflexão”, realizado pela organização SembraMedia, mostra que há viabilidade econômica para iniciativas de jornalismo de nicho ou especializadas nos meios digitais na América Latina.

Produto de uma pesquisa de dez meses, o relatório lançado no último 20.jul.2017 tem o objetivo de estimular e fortalecer o crescente ecossistema de mídia digital na região. “Mais de uma centena de itens foi levantada sobre cada um dos empreendimentos, criando uma imensa base de dados”, conta o jornalista Sérgio Lüdtke, que foi um dos pesquisadores envolvidos no projeto.

Foram analisados tópicos como inovação, impacto dos empreendimentos, modelos de negócios e audiência. “Essa base foi analisada e como resultado se produziu algo muito consistente sobre o estado do empreendedorismo digital na América Latina”, completa Lüdtke.

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Entre os 25 empreendimentos brasileiros que entraram na pesquisa, estão veículos como Agência Pública, Nexo, Meio, AzMina, Aos Fatos, Jota, Ponte Jornalismo e Repórter Brasil, entre outros.

“Há poucas diferenças entre as start-ups brasileiras e a dos outros três países”, diz Lüdtke, “mas uma dela é mais marcante. Parece haver aqui mais dificuldade para obtenção de recursos financeiros. Há várias explicações possíveis para isso, desde a diversidade dos meios pesquisados até a crise econômica pela qual passa o país”.

Resultados de startups de jornalismo

O relatório aponta que o número de diferentes empreendimentos digitais que estão conseguindo se sustentar em torno do jornalismo de qualidade tem crescido dramaticamente na América Latina.

Dos cem veículos estudados, 90 responderam às perguntas da pesquisa sobre sustentabilidade dos negócios. Quase metade demonstra alguma estabilidade financeira. As despesas foram equivalentes às receitas na maioria dos casos; 43 apresentaram lucro, e 47 tiveram perdas. Alguns veículos ainda queimam parte de seu capital inicial para se manter num modelo sustentável, mas nem todos os que prosperaram tiveram grandes investimentos na hora de começar.

Para os veículos mais lucrativos, a publicidade é o principal motor das receitas e grandes audiências são essenciais para o sucesso. Em outros casos, uma crescente lista de oportunidades de renda tem surgido para diversificar os ganhos. Mais de 65 veículos usam pelo menos três maneiras distintas para obter receitas, e apenas nove dependem exclusivamente de uma fonte.

Foram apontadas como principais alternativas à publicidade os subsídios, financiamentos coletivos, oferecimento de treinamentos, serviços de consultoria, distribuição de conteúdo e promoção de eventos. O tamanho da audiência também é variado entre os meios: mais de 30% dos empreendimentos estudados atraem menos de 10 mil acessos em seus sites por mês. Os maiores sites têm cerca de 20 milhões de acessos.

Segundo o relatório, os veículos pequenos devem aprender com os grandes como atrair e manter o maior número de “clientes” possível, encontrando a combinação correta entre conteúdo, ampliação de alcance nas mídias sociais, acessibilidade em dispositivos móveis e análise de dados.

No entanto, ainda que seja necessário aprimorar estratégias de ampliação de alcance e marketing, os empreendedores são otimistas em relação ao crescimento de suas audiências – e, de acordo com o relatório, “eles realmente deveriam ser”. Isso porque têm conseguido gerar impacto e conquistar a confiança do público.

Relatório | Viabilidade econômica

O último capítulo do relatório é dedicado a recomendações a startups de jornalismo. Entre as principais, estão a promoção de cursos e seminários que ensinem aos jornalistas das startups como manusear ferramentas de publicidade e de mídias sociais, por exemplo, além de habilidades básicas de empreendedorismo. O representante de uma organização deve saber como apresentar seus atrativos para um investidor, diz o texto; “não é preciso ser um zero à esquerda nos negócios”.

Há ainda propostas alternativas, como a criação de uma organização que negocie em nome dos empreendedores digitais para ajudá-los a ter acesso a tecnologia de mais qualidade (nos casos em que é preciso conseguir bons serviços de hospedagem de websites, por exemplo). O texto também propõe a fundações que ofereçam subsídios financeiros para organizações promissoras que precisem contratar, administrar e desenvolver equipes de vendas, contabilidade e negócios.

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Por Mariana Gonçalves.

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Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Criada em 2002 por um grupo de jornalistas brasileiros interessados em trocar experiências, informações e dicas sobre reportagem, principalmente sobre reportagens investigativas. É mantida pelos próprios jornalistas e não tem fins lucrativos.

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