Desde maio, o jornalista Leonardo Coutinho é alvo de ataques por parte de políticos bolivianos, em reação a um trecho de seu livro “Hugo Chávez, o espectro”
O vice-presidente da Bolívia, o presidente do Senado e o vice-ministro de Regime Interior e Polícia contestaram a credibilidade e fizeram acusações contra o jornalista, que também é repórter da revista Veja. Os ataques são motivados por um trecho do livro que cita acusações feitas por Marco Antonio Rocha, ex-major da Força Aérea Boliviana e sócio da companhia área LaMia, contra Evo Morales. O presidente foi associado pelo ex-major à “Rota de Alba”, pela qual drogas seriam transportadas de forma sistemática do país andino para Venezuela e Cuba. Segundo Rocha afirmou ao DEA, órgão de combate às drogas dos EUA, mais de 500 quilos de drogas teriam sido enviados em malotes diplomáticos, em cada um dos voos militares, partindo de La Paz e chegando a Caracas e Havana.
Um senador boliviano fez um pronunciamento no dia 7 solicitando que o governo instaurasse investigação dos fatos mencionados.
No dia seguinte, o vice-presidente Álvaro Garcia reagiu ao pronunciamento atacando Coutinho. Em declaração publicada no Cambio, periódico do governo da Bolívia, afirmou que o jornalista consumia “algum tipo de droga” e era “louco”. Disse também que o governo já estava ciente da “orientação e do financiamento político” do jornalista.
Horas depois, o vice-ministro de Regime Interior e Polícia fez uma declaração à imprensa boliviana desqualificando o jornalista. “[Na apresentação] diz que trabalho a mando de um ex-ministro boliviano que está no exílio. E, para ‘provar’, usa uma foto de uma palestra gratuita que fiz na Universidade de Miami, na qual há um banner da ONG de que o ex-ministro é membro. Depois pinça na Internet uma entrevista que concedi no mesmo dia para sustentar a tese de minha vinculação política”, relata Coutinho.
“Ao longo da minha carreira, passei por vários ataques pessoais promovidos por políticos – que diante de reportagens sobre os seus malfeitos – optam por atacar o jornalista ao invés de esclarecer os fatos. Mas, desta vez, o Governo da Bolívia usa o aparato estatal para desqualificar um jornalista e criminalizar a profissão”, aponta o jornalista.
Na última terça-feira, 15.mai, o presidente do Senado, José Alberto Gonzales ironizou a seriedade do jornalista brasileiro, questionando a credibilidade de Coutinho e afirmando que o livro é “ficção científica”.
A Associação Nacional de Imprensa (ANP, na sigla em espanhol) da Bolívia rechaçou as declarações dos políticos que “põem em xeque o trabalho jornalístico de investigação”. Segundo a associação, sua unidade de monitoramento de violações contra jornalistas no país registra “contínuos ataques de governantes a comunicadores, muitas vezes questionando a qualidade profissional dos jornalistas e a independência dos meios de comunicação”. A ANP afirma que o próprio presidente Evo Morales, o vice-presidente Álvaro e Garcia e outros militantes do partido governista já emitiram opiniões questionando jornalistas “com a intenção de estigmatizá-los por seu ponto de vista crítico”.
A Abraji expressa solidariedade a Leonardo Coutinho e repudia os ataques dos agentes públicos bolivianos ao jornalista. Reagir a reportagens com ataques pessoais a um profissional da imprensa é atentar contra a liberdade de expressão e comprometer o direito à informação.