O ‘Câmera Record’ que vai ao ar nesta quinta-feira, 16, mostrará investigação sobre trabalho escravo na cidade de São Paulo. Para a pauta, o repórter Daniel Motta se infiltrou como em fábrica têxtil, para trabalhar durante 14 horas por dia, com a promessa de receber no final do mês um salário de cerca de 400 reais.
Disfarçado de imigrante nordestino, recém-chegado a São Paulo, Motta foi contratado sem carteira assinada. “Às seis horas da manhã eu tinha que acordar. Ganhei um café e um pão amanhecido, duro, para começar o trabalho”, conta o profissional. O expediente só chegou ao fim por volta das 22h, com pequenas pausas para o almoço e jantar. E ainda há um porém: “Eles descontam do salário a comida”, revelou o repórter.
Durante três meses, os repórteres Motta, Romeu Piccoli, Ana Haertel e o editor Marcelo Magalhães flagraram 22 confecções clandestinas explorando trabalhadores de todas as maneiras na Grande São Paulo. O procurador da Justiça do Trabalho, Luis Fabre, estima que existam 100 mil pessoas em condições análogas à escravidão apenas na capital paulista.
Nas chamadas “casas da escravidão”, mesmo o recém-empregado, que geralmente não tem experiência alguma com o maquinário, é obrigado a fazer mais de 150 peças de roupas diariamente. “O tempo era muito pouco pra aprender a costurar”, disse o repórter, que experimentou desde o início a pressão do supervisor da oficina.
Motta passou a noite em claro, com receio de ser descoberto, em um pequeno quarto no fundo da casa. De manhã, a surpresa: “A porta é trancada. Eu não conseguia sair. Ela é fechada por fora. E assim deve ser o quarto de todos os outros que trabalham aqui para que eles não saiam”.
Segundo a produção do programa, além da experiência do repórter infiltrado, o ‘Câmera Record’ teve acesso exclusivo a imagens que mostram trabalhadores de uma oficina, em condições degradantes, colocando etiquetas de uma outra grande empresa de roupas, que possui 35 lojas no Estado de São Paulo.