Penúltimo presidente da ditadura militar brasileira, Ernesto Geisel não só sabia dos assassinatos de opositores ao regime, como os ordenava. A revelação foi feita pelo professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Matias Spektor. Ele teve acesso a material da Central Intelligence Agency, a CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos. As informações divulgadas pelo pesquisador na manhã desta quinta-feira, 10, afetam Elio Gaspari. Jornalistas vieram a público para criticar o colunista da Folha e de O Globo. Isso porque o articulista é autor da coleção de cinco livros sobre o período militar brasileiro. O conjunto de obras, segundo os colegas críticos, enaltece a figura de Geisel.
“O grupo informa a Geisel da execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici, e pede autorização para continuar a política de assassinatos no novo governo. Geisel explicita sua relutância e pede tempo para pensar. No dia seguinte, Geisel dá luz verde a Figueiredo para seguir com a política, mas impõe duas condições. Primeiro, ‘apenas subversivos perigosos’ deveriam ser executados. Segundo, o CIE não mataria a esmo: o Palácio do Planalto, na figura de Figueiredo, teria de aprovar cada decisão, caso a caso”, conta Spektor em meio à revelação.
As informações sobre o memorando da CIA fizeram com que, em questões de horas, ao menos quatro jornalistas criticassem Elio Gaspari. De formas distintas, Maurício Caleiro, Mauro Lopes e Carlos Eduardo Alves falaram sobre os livros escritos pelo colunista. Os três usaram o Facebook para abordar o tema. Além do trio que utilizou a rede social, Mino Carta gravou vídeo para divulgar a sua opinião a respeito do tema que fez o regime militar voltar a ser pauta para a imprensa brasileira.
Professor da pós-graduação em Gestão Cultural do Senac de São Paulo, Maurício Caleiro afirma que o relato de Gaspari “não [é] apenas tendencioso, mas gravemente omisso”. O jornalista e cineasta garante que o colunista de Folha e O Globo teve o próprio Geisel e o ex-ministro Golbery como “principais fontes”. “A descoberta, devida ao professor da FGV Matias Spektor, coloca, ainda, em situação bem difícil a mídia brasileira, incapaz de descobrir (ou, quem sabe, não desejosa de revelar) a verdadeira atuação do por ela mais agraciado dos presidentes militares”. Para Caleiro, as revelações “têm grandes implicações históricas e políticas”.
“Mais um mito cai por terra”. Assim começa o texto de Mauro Lopes, editor do site Outras Palavras. O alvo do conteúdo é Elio Gaspari. “Incensado por boa parte da imprensa como ‘gênio’, Gaspari construiu em seus livros sobre Ernesto Geisel a ficção de que o general-presidente seria um déspota esclarecido que teria combatido a ‘linha dura’ conduzido o país com firmeza e clarividência de volta à democracia. Era cascata. Para ficar no jargão, em vez de um furo, Gaspari produziu uma das maiores barrigas do jornalismo brasileiro”.
O também jornalista Carlos Eduardo Alves alerta que os leitores dos livros de Elio Gaspari podem ir atrás de seus direitos. Ele menciona até o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor. “Podem recorrer ao Procon depois da revelação da CIA que aponta Ernesto Geisel como um dos mandantes de assassinatos de presos políticos durante a ditadura militar brasileira”. “Para quem não leu, Gaspari tem como eixo de sua historiografia a defesa férrea da tese de que Geisel era um ditador, digamos, bonzinho”, prosseguiu. Alves lembra, ainda, que o colunista-escritor tem por hábito validar informações divulgadas pela CIA. “O mais interessante é que Gaspari, em quase tudo que escreve, dá valor absoluto a documentos do governo americano”.
Diretor de redação da Carta Capital, Mino Carta fez uso do canal da revista no YouTube para analisar o assunto. Ele diz que os livros de Gaspari foram “vendidos com grande estardalhaço” pela Companhia das Letras. “O que me assusta exatamente é a demência. E que começa pela forma com a qual contamos a nossa história. Esse último episódio que envolve Geisel é muito simbólico. Geisel apresentado como um lutador anti-tortura, na verdade, aprovava a tortura, desde que aplicada contra quem ‘merecia morrer'”, pontuou o executivo de veículo de comunicação que integra a galeria de ‘Mestres do Jornalismo‘ do Prêmio Comunique-se.
Elio Gaspari, profissional de imprensa que se recusa a conceder entrevistas, ainda não se posicionou a respeito das críticas recebidas. Comercializado pela editora Intrínseca, os cinco livros produzidos por ele buscam destacar os principais pontos envolvendo o regime militar brasileiro. A coleção conta com os seguintes títulos: A Ditadura Envergonhada, A Ditadura Escancarada, A Ditadura Derrotada, A Ditadura Encurralada e A Ditadura Acabada. Para corroborar às críticas públicas dos quatro jornalistas, sinopse da Livraria da Folha mostra como Gaspari foi simpático ao ditador. “A ditadura encurralada, quarto volume, culmina com a exoneração do general Sylvio Frota do cargo de ministro do Exército. Naquele momento, o presidente Ernesto Geisel punha um ponto final na anarquia militar que tomava conta do país”.
LIPHOOK, Reino Unido, Dec. 22, 2024 (GLOBE NEWSWIRE) -- A Lumi Global, líder global em…
O Brasil lidera em inovação na América Latina. Apesar de desafios, investimentos públicos e políticas…
Psicóloga ressalta a urgência de políticas públicas para apoiar as vítimas de abuso emocional
O hotel, localizado no Sul de Minas Gerais, contará com atrações dedicadas a adultos e…
Uma das maiores programações gratuitas de Natal já está acontecendo na cidade e a expectativa…
O animal desorientado entra em desarmonia com o ambiente