Tudo começou na Revolução Francesa. Nem bem o processo revolucionário avançou, caiu a censura da imprensa. Partidos, grupos, particulares passaram a editar jornais, pasquins, folhetos, panfletos e tudo aquilo que podia difundir uma ideia, conceito, crítica, ataques pessoais e políticos de toda ordem. No meio da barafunda que se seguiu bem que algumas autoridades tentaram impor censura seletiva da publicações. O método mais simples era obter uma ordem judicial em qualquer instância, invadir a gráfica, quebrar tudo o que encontrava pela frente e prender o editor.
Alguns escaparam dessa onda reversa, como Jean Paul Marat e o seu radical L´Ami du Peuple. Os autores dos textos eram inúmeros na Revolução Francesa, ainda que, devido as dificuldades da época, a tiragem era baixa. Contudo, nem toda publicação era verdadeira, havia uma guerra de informações, opiniões, análises e não se sabia se o autor era mesmo quem assinava o texto. A agravante é que boa parte da população francesa, e de Paris especialmente onde a luta era maior, era analfabeta. Portanto havia o perigo do texto falso e das versões orais se propagarem como rastilho de pólvora. Posteriormente se verificou que nem tudo o que era atribuído ao rei, à rainha, ou ao líder político adversário, tinha realmente saído de suas bocas. O fato é que com notícias verdadeiras ou não essa mídia acelerou o processo revolucionário com a derrubada da monarquia, o advento da república até o radicalismo do período do Terror.
A tecnologia à disposição das redes sociais criou nova oportunidade de divulgação de qualquer informação. Chegou a um ponto onde os bots, ou robots, executam as tarefas de interferir no conteúdo mais rápido que os seres humanos. São softwares para aumentar audiência, compra de curtidas e até de militantes falsos. Nas últimas campanhas eleitorais eles difundiram informações falsas e mentirosas sobre os adversários. Uns criaram verdadeiras fazendas de cliques, com smartphones conectados e pagos para isso.
Os truques de todo lado incentivaram o nascimento da militância automatizada. Mais uma vez é necessário reavivar o bom e velho ditado: não acredite em tudo o que vê. Especialmente nas redes sociais. E o que é mais importante, em dúvida, não compartilhe. Teoricamente todos têm acesso aos aplicativos, mas se for um especialmente criado para atingir os ricos, famosos, celebridades, poucos receberão uma informação ou um convite.
Os bots também são programados para selecionar. Uma das formas mais fáceis é entrar em um arquivo de um empresa aérea e copiar o nome de todos os passageiros que viajam de primeira classe. Não vão errar. Até ladrões, sequestradores e terroristas podem ter acesso, ou comprar essa lista de hackers invasores. A Policia Federal também.
A tecnologia proporciona também um mundo paralelo, totalmente fake. Fotos de praias e resorts de causar inveja, carros luxuosos, comida de chefs famosos, viagens, alta costura, hotéis cinco estrelas faz com que muita gente só exista virtualmente. Os perfis falsos se revestem de títulos acadêmicos inexistentes, currículo de palestras jamais proferidas, fatos do cotidiano jamais vividos e outra patifarias. O mais grave são informações tratadas como verdade só por seu apelo emocional independente de serem checadas em seu conteúdo. É a contaminação do jornalismo com a fake news.
De quem é a responsabilidade para conferir a autenticidade de um head line? Do público ou do emissor? Ou de ambos? Os desmentidos, como sempre, não tem a mesma força da divulgação. Pessoas conhecidas vão ver a sua reputação jogada no lixo e uma avalanche de ofensas entopem as redes sociais. Como os pasquins da Revolução Francesa essa onda de fake news vai passar se os jornalistas se esforçarem e mostrarem que a profissão busca o acumulo de credibilidade, independência focada no serviço público, que fiscaliza os indivíduos e instituições, uma vez que o jornalismo de interesse público é o mesmo no transcorrer de mais de dois séculos.
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