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Saudade inspira estudante a construir colégio em jogo eletrônico

Jovem de 15 anos quer reproduzir toda a estrutura escolar e os lugares do entorno para homenagear os espaços de convívio que mais sente falta durante o isolamento

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Curitiba, PR 31/7/2020 –

Em tempos de isolamento, vale tudo para aliviar a saudade sem colocar em risco a saúde de todos e seguindo a regra fundamental para achatar a curva de contaminação da Covid-19: ficar em casa o máximo de tempo possível. A maneira encontrada pelo estudante da 1a série do Ensino Médio, Lucas Werneck, de 15 anos, de conciliar a saudade de estar na escola e das pessoas do seu convívio com a quarentena tem sido recriar cada detalhe de toda a estrutura física do colégio por meio de um jogo eletrônico, que permite construir blocos tridimensionais.

Usando a versão para celular do Minecraft (Pocket Edition) e recursos de textura, em menos de três meses, Lucas já reproduziu a fachada de todas as instalações que compõem a unidade Jardim Ambiental do Colégio Positivo, em Curitiba. “Desde a infância, entre 8 e 10 anos, sempre gostei de construir no Minecraft, mas com o tempo fui parando de jogar. Agora, com a quarentena, aproveitei para voltar. E a primeira coisa que veio à minha cabeça para construir, da qual eu me lembrava bem, foi o colégio”, conta.

Construindo um pouco a cada dia, Lucas também recriou com riqueza de detalhes vários ambientes como o prédio bilíngue, a biblioteca, a sala de aula e várias áreas de convívio. “Um dos recursos que mais usei foram as texturas que permitem os efeitos de sombra e profundidade, mas não sei precisar quantos blocos já fiz, porque no celular os recursos são limitados”, explica. “A biblioteca, por exemplo, separei todo o espaço e decorei por dentro. Mas as quadras esportivas, só possuem as paredes – ainda preciso fazer o chão. O mesmo ocorre com a piscina, que também só tem o espaço em volta”, descreve. O objetivo de Lucas é terminar de construir todo o colégio e os locais do entorno mais frequentados por ele e seus amigos, como o posto de combustíveis, a padaria e a pista de skate. “Ainda falta bastante, mas quando eu terminar gostaria de poder mandar tudo para escola como forma de homenagear a todos que trabalham e estudam lá, de quem eu sinto muita falta”, revela.

A mãe de Lucas, a analista Fernanda Maulepes, conta que se surpreendeu com a importância da escola na vida do filho. “Era um jogo de infância em que ele costumava fazer a nossa casa, a casa da praia, o shopping – e vê-lo reproduzir a escola foi uma surpresa muito grande, porque retratou a saudade do que ele viveu e da expectativa que tem em voltar”, acredita. “Tinha muita expectativa em cima do primeiro ano do Ensino Médio. De ser mais difícil, precisar estudar mais. De repente, Lucas foi arrancado de tudo isso, sem data para voltar, sem previsão do que irá acontecer e, obviamente, isso gera ansiedade. Como mãe, eu tento fazer de tudo para acalmá-lo, mas até nós, pais, estamos perdidos”, confessa. Trabalhando em home office, Fernanda vivencia dia após dia a expectativa do filho por voltar. “Com a quarentena, eu mudei meu olhar. Descobri que ele gosta de estar neste ambiente escolar. Precisou isso acontecer para eu, como mãe, abrir meus olhos e ver o quanto para ele é importante o ambiente escolar”, reconhece.

Reviver é maneira saudável de lidar com a quarentena

A psicóloga e supervisora de apoio escolar do Colégio Positivo – Jardim Ambiental, Cláudia Wiestel, indica a todas as pessoas recorrerem à memória afetiva e ao exercício de reviver lembranças para lidar com a quarentena. Ela considera que manifestações como a encontrada por Lucas de expressar a saudade é um caminho extremamente saudável para enfrentar o isolamento e outros momentos da vida. “O resgate das nossas memórias afetivas é muito importante para o nosso desenvolvimento pessoal. A partir delas, conseguimos dar um novo sentido e uma nova compreensão ao que a estamos vivendo agora”, afirma.

A psicóloga conta que são inúmeros os alunos que, mesmo em suas casas, estão acompanhando as aulas uniformizados e que tais detalhes funcionam como resgate e surgem conforme a intenção do sentimento que se está vivendo. “É comum perceber nas aulas on-line crianças que colocam seu uniforme, estão penteadas, com gel no cabelo, e sentam em frente da tela na esperança de reviver as aulas do começo do ano, junto a colegas e professores. Tem adolescentes que se emocionam ao rever o professor na tela. Nossa tendência é de querer reviver com intensidade tudo que nos traz lembranças boas”, orienta.

Ela também explica que insistir em manter uma rotina com horários para cada atividade é muito importante para a estabilidade emocional de todos, principalmente, das crianças. Outro aspecto importante, do ponto de vista cognitivo, é valorizar o que traz prazer e alegria para gerar memória afetiva. “Os afetos estão na base para formar a nossa memória. Todos os acontecimentos que envolvem uma questão afetiva tendem a ser lembrados”, enfatiza.

Como será o futuro?

Em função de todas essas constatações que a psicóloga avalia, o papel da escola sairá fortalecido com a pandemia. “Mesmo com tantas dificuldades e incertezas, a escola está ganhando, porque os alunos estão querendo voltar”, atesta.

Fernanda reforça essa previsão: “o Lucas me falou que, quando tiver filhos, vai dizer para eles não reclamarem de ir para a escola, porque ele teve que ficar sem ir e foi horrível”, recorda. “Acredito que quando tudo isso passar, sairemos fortalecidos. Valorizaremos o simples acordar para ir para a escola, ir ao trabalho. Quando tudo isso passar, será mais fácil para que as pessoas consigam enxergar e valorizar o dia a dia, porque de uma hora para outra, sem aviso prévio, pode tudo mudar ou acabar”, conclui Fernanda.

Website: https://colegiopositivo.com.br/

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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