Curitiba, PR. 13/1/2021 –
Em 2018, a chefe da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU), Alicia Bárcena, alertou para as rápidas transformações do mercado de trabalho em todo o mundo. De acordo com a dirigente, 65% das crianças que entram na escola primária hoje terão, no futuro, profissões que ainda não existem.
Ao contrário do que acontecia em um passado não muito distante, quando ser médico ou advogado era o objetivo de quem buscava uma carreira promissora, as possibilidades de sucesso em novas ocupações ligadas à ciência e à tecnologia já são – e serão, cada vez mais – significativas. De acordo com David Forli Inocente, diretor geral de pós-graduação e educação continuada da Universidade Positivo, o que está havendo atualmente é uma digitalização geral das profissões. “Todas serão impactadas por mais tecnologia, desde o advogado até o geneticista”, afirma.
E, com a pandemia do novo coronavírus, não só aceleraram-se os processos de construção de novas profissões e atualização daquelas que já existem, como a importância de algumas ocupações ganhou destaque, aumentando o interesse dos jovens que se preparam para o Ensino Superior. “Carreiras evidenciadas pelos problemas causados pelo isolamento social, propagação de fake news e corrida pela vacina tiveram aumento na procura não apenas em cursos de graduação, mas também em especializações e cursos de curta duração. A educação formal como instrumento para interpretação e transformação da sociedade nunca esteve tão em alta”, afirma Inocente. Ele aponta seis tendências do mercado de trabalho para 2021.
Fact checking
Se, há 20 anos, alguém se apresentasse como especialista em checagem de fatos (ou fact checking, para aqueles mais acostumados ao termo em inglês), provavelmente a curiosidade seria geral. Afinal, com uma internet que ainda engatinhava no início dos anos 2000, pensar em um profissional inteiramente dedicado a essa função era inimaginável. Mas os anos passaram e as fake news se tornaram um terreno fértil e perigoso. Durante a pandemia, elas influenciam inclusive o debate sobre saúde, espalham desinformação e prejudicam os esforços de enfrentamento do problema. Por isso, esse tipo de especialista está se tornando indispensável.
Para ser um profissional dessa área, um bom começo é investir em uma graduação em jornalismo ou cursos que envolvam tecnologia da informação. Depois, organizações como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) oferecem cursos e oficinas totalmente voltados a essa função.
Saúde mental e bem-estar
Passar a maior parte do tempo em casa, longe de amigos e familiares, com um vírus potencialmente letal circulando entre as pessoas é um enredo próximo aos de filmes pós-apocalípticos. Não à toa, um levantamento realizado pela SEMrush apontou que as buscas por termos como “terapia” e “psicólogo online” dispararam depois da chegada da quarentena. Entre fevereiro e março, o aumento de procuras por esses termos foi de 50% e 83%, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2019.
Nesse cenário, profissões voltadas à promoção do bem-estar devem ser cada vez mais necessárias. Para trabalhar nessa área, é necessário cursar uma graduação em Psicologia, por exemplo. Também valem opções que promovem o bem-estar físico, social e mental, como uma pós-graduação em Terapias Integrativas e Complementares, prática reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para Inocente, esses profissionais precisam ser “alguém que encontra a confluência entre psicologia, saúde mental e nutrição, por exemplo”. Outro aspecto que a pandemia trouxe ao debate, segundo ele, foi a questão da sexualidade. “Os terapeutas perceberam a evolução da demanda em seus consultórios, o que culmina em mais procura por educação continuada nesta área”.
Vacinas
A falta de tratamentos comprovadamente eficazes para a Covid-19 tornou a busca por uma forma de imunização contra a doença uma urgência. Por isso, laboratórios de todo o mundo começaram uma corrida para desenvolver, testar e produzir uma vacina o mais rápido possível. Especialistas de todo o mundo alertam que pandemias como a do novo coronavírus podem se tornar cada vez mais comuns, o que significa que profissões que lidam com o desenvolvimento de vacinas estarão em alta por um bom tempo. Uma boa opção de curso superior para quem quiser se dedicar a essa tarefa é a Biomedicina – que pesquisa a interação entre microrganismos e o sistema biológico humano.
Meio Ambiente
O crescimento da população global, a urbanização e a industrialização da agricultura provocam uma crescente demanda e exploração de recursos naturais, trazendo consequências como a alteração dos ecossistemas, levando as pessoas a cada vez mais se aproximarem de animais selvagens que podem ser vetores de doenças. O uso excessivo de pesticidas, medicamentos e outros contaminantes que são lançados no ambiente, por exemplo, acarretam em mudanças genéticas em microrganismos e aumentam a probabilidade de doenças zoonóticas, como a própria Covid-19, alcançarem os humanos. “Os motores centrais da destruição e invasão dos ecossistemas são econômicos e sociais e requerem soluções complexas que, por conseguinte, dependem de profissionais com visão interdisciplinar”, afirma o professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental e da Business School da Universidade Positivo, John James Loomis. Segundo ele, embora profissionais ligados ao meio ambiente não possam evitar a próxima pandemia, eles podem tomar medidas para recuperar e fortalecer os ecossistemas que, em última instância, servem como barreiras para o surgimento de doenças.
Responsabilidade Social
Uma pesquisa realizada pela Central Press com executivos de empresas de diversos tamanhos revelou que, mesmo 49% deles relatando queda de 50% a 100% no faturamento da empresa, 35% das organizações ampliaram as doações e projetos sociais por conta da pandemia. O momento fez as empresas se atentarem à responsabilidade social – e essa atitude veio para ficar.
O relatório especial do Edelman Trust Barometer 2020: Confiança nas Marcas, que ouviu mais de 22 mil pessoas, em 11 países, entre o fim de maio e o início de junho, revelou que, para 69% dos brasileiros, tão importante quanto o produto ou o serviço é a forma.
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