Nos últimos meses, Diego Escosteguy trabalhou para estruturar uma ideia de jornalismo digital e, ao ir tirando o projeto do papel, foi montando a equipe que irá acompanhá-lo no início dessa caminhada. A partir de terça-feira, 8, o trabalho começará para valer. Afinal, a data marcará o início da produção de conteúdo por parte do Vortex Media. Voltado às editorias de política e questões do Judiciário, o novo site define estratégias para se diferenciar de outros players. A começar por algo que — convenhamos — não é muito comum na própria imprensa. O veículo admite desde já que poderá cometer erros. Ao admitir que, por ser movido por humanos, tende a cometer falhas, a empresa quer contar com a participação direta do público.
Ao lado do leitor, o Vortex Media chega com a intenção de ajudar a elevar o jornalismo brasileiro. Pretensão? Para Diego Escosteguy, não. Muito pelo contrário. O jornalista, que nos últimos anos fez carreira na mídia impressa como funcionário da Infoglobo, analisa que o fato de ser o mais claro possível com a audiência e admitir, quando necessário, que equívocos foram cometidos ajudará inclusive outras redações. No escritório do Vortex Media em Brasília, ele adianta que não há busca para que ninguém se torne “profeta da verdade”. Nesse ponto, o mais novo empreendedor da comunicação do país critica o excesso do que chama de “off invisível” e explica, em contato com a reportagem do Portal Comunique-se, que o site terá como um de seus diferenciais a divulgação de métodos de apuração, inclusive explicando quais fontes foram utilizadas.
Confira, abaixo, a segunda parte da entrevista com Diego Escosteguy, fundador do Vortex Media:
Na apresentação, afirma-se que o Vortex Media não terá lado, partido ou ideologia. Com um país que parece caminhar para os extremos, como se dará esse trabalho apartidário?
Queremos ser referência quanto aos fatos, ao que sabe e o que não se sabe, não quanto às opiniões, que podem ser infinitas e repletas de nuances. Nossa resposta para conquistar a confiança e o respeito de um público polarizado passa pelo nosso método e pela nossa postura. Seremos transparentes quanto aos nossos propósitos e nossas intenções editoriais.
A maioria das matérias terá uma inovação: uma espécie de box de transparência, em que explicaremos o que nos levou a apurar e publicar aquele conteúdo. Ou seja, porque o julgamos de interesse público. Nosso método será, em alguma medida, científico: partiremos de hipóteses e tentaremos provar que estamos errados, buscando evidências sob todos os ângulos. E, novamente, seremos transparentes quanto ao nosso processo de apuração. Diremos quais fontes fundamentam nossas afirmações – e descreveremos como essas fontes têm conhecimento do assunto. Publicaremos documentos e bancos de dados. Em resumo, nosso princípio é: sempre daremos razões para o leitor acreditar no que estamos dizendo. E estaremos à disposição para esclarecer possíveis dúvidas ou, evidente, corrigir erros.
Ao pré-lançar o Vortex Media, você reforça que o projeto terá como base o relacionamento com os leitores. Na prática, essa interação se dará de qual forma?
Num primeiro momento, por meio de e-mails, no caso de newsletters; no Twitter, por meio de replys; e, sobretudo, no nosso site, por meio de textos e vídeos interativos. Provocaremos debates, inclusive com uso de robôs, e responderemos aos leitores no nosso próprio site. Teremos, em breve, fóruns fechados e civilizados para discussão de termas pertinentes. Temos planos para, no futuro próximo, aumentar de modo significativo a participação dos leitores, mediante o uso de funcionalidades promissoras. Não é um mero capricho. Acreditamos ser esse o jornalismo que o leitor do século XXI quer e merece.
“Explicaremos quais fontes usamos e quais métodos de apuração empregamos”. Qual a razão de explicar as fontes usadas para a produção de determinada pauta? Haverá a divulgação dos nomes dessas fontes?
Como disse acima, queremos dar razões para as pessoas concluírem se nossas apurações se sustentam ou não. Idealmente, o leitor teria condições de checar nosso trabalho. Em alguns casos, isso será possível. Mas, é claro, recorreremos a fontes em off, que ficam no anonimato. Mas nosso método nos forçará a sermos claros e francos com o leitor – o máximo possível. Essa transparência é essencial.
Há um abuso no uso do off, especialmente do que chamo de off invisível. Ou seja, o pobre do leitor nem sabe que determinada informação ou matéria se fundamenta em alguém. Há apenas a afirmação – e pronto. Isso esconde, com frequência, a fragilidade de uma reportagem. Se você se obriga a fundamentar o que diz, pensará duas vezes antes de publicar uma matéria. Afinal, nenhum jornalista sério quer escrever que apurou certo fato com apenas uma fonte – fonte que, aliás, talvez nem tenha conhecimento direto do fato narrado como verdadeiro. Em parte, é isso o que queremos dizer quando afirmamos que queremos elevar o jornalismo. Envolve um novo método.
Você também fala por diversas vezes em “erro” e “errar”. Acredita que o fato de assumir que o site poderá vir a cometer erros já o diferencia dos demais projetos jornalísticos do país? Acredita, nesse sentido, que falta a veículos e jornalistas perderem, de certo modo, a soberba e admitirem que também falham?
Sem dúvida. Admitir a obviedade de que somos humanos e de que erramos é fundamental. Primeiro, para nós mesmos. É algo que falo bastante à equipe: precisamos parar de achar – ou ter certeza – de que somos donos da verdade, de que, no fundo, o leitor é um simples receptáculo da sabedoria jornalística. Não. Somos profissionais treinados para descobrir e checar fatos, padrões e anomalias.
No nosso modelo, não seremos profetas da verdade, moralistas no sentido dos filósofos iluministas. Essa mudança de postura, esse reconhecimento de que o leitor é um igual, um parceiro, muitas vezes mais bem capacitado em certos assuntos do que nós, conduz a um modo mais eficaz e sério de praticar jornalismo. Pode parecer contraditório, mas admitir que podemos errar não diminui nosso jornalismo. Ao contrário: creio que o eleva.
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