O ator Stenio Garcia e as cantoras Madonna e Preta Gil têm algo em comum: passaram por episódios recentes de sepse, levantando mais uma vez a questão da importância de conhecer os sinais e sintomas dessa condição. Estudo realizado pelo ILAS (Instituto Latino-americano de Sepse) em 2022 demonstra que a cada ano mais de 460 mil adultos e crianças são internados em UTIs em decorrência de um evento séptico e mais de 238 mil pacientes evoluem a óbito durante a internação.
Em serviços de emergência no Brasil, cerca de 40% dos pacientes com diagnóstico de sepse não conseguem um leito hospitalar para concluir seu tratamento. Destes, 60% acabam falecendo.
A sepse é hoje uma prioridade mundial de saúde, pois segundo dados da Global Sepsis Alliance, são registrados entre 47 milhões e 50 milhões de casos todos os anos, com uma letalidade elevada: 11 milhões de mortos, ou uma morte a cada 2,8 segundos.
Conhecida antigamente como infecção generalizada ou ainda como septicemia, a sepse é uma resposta inadequada do próprio organismo contra uma infecção que pode estar localizada em qualquer órgão. Essa resposta inadequada pode levar ao mau funcionamento de um ou mais órgãos, com risco de morte quando não descoberta e tratada rapidamente. A infecção pode ser bacteriana, fúngica, viral, parasitária ou por protozoários.
“Mudar esse quadro depende de aumentar a percepção de leigos, profissionais de saúde, políticos e formadores de opinião sobre o que é, como identificar e tratar a doença”, afirma a Dra. Flavia Machado, do ILAS. Também são prioridades do ILAS, instituição sem fins lucrativos, fundada em 2005, aprofundar e difundir os conhecimentos sobre sepse e infecções graves, coordenar estudos clínicos e epidemiológicos e apoiar instituições de saúde a melhorar a qualidade assistencial dos pacientes com sepse e sobreviventes.
“Ao longo dos últimos 18 anos, o ILAS treinou mais de 500 instituições brasileiras. Se o público em geral souber um pouco mais sobre os sintomas, e os profissionais sobre os protocolos, que ajudam a diagnosticar rápido a sepse e tomar a melhor decisão clínica, conseguiremos ao menos mudar o desfecho dos casos cujas mortes seriam evitáveis”, afirma a especialista.
O diagnóstico da sepse é feito com base na identificação do foco infeccioso e na presença de sinais de mau funcionamento de órgãos. Não há exames específicos, mas sim aqueles voltados para a identificação da presença de infecção, como um hemograma, e para a identificação do foco, como radiografia de tórax, e exames de urina.
É também importante a identificação do agente infeccioso, com coleta de culturas de todos os sítios sob suspeita de infecção, mas principalmente do sangue. Outros exames ajudam a identificar a presença de mau funcionamento dos órgãos, principalmente o chamado lactato, que mostra se a oferta de oxigênio aos tecidos está adequada.
“Qualquer tipo de infecção, leve ou grave, pode evoluir para sepse. As mais comuns são a pneumonia, infecções na barriga e infecções urinárias. Por isso, quanto menor o tempo com infecção, menor a chance de surgimento da sepse. Para tal, o reconhecimento precoce, o tratamento e adequado rápido da infecção são estratégias que devem ser adotadas”, diz a médica.
O risco de sepse pode ser diminuído, principalmente em crianças, respeitando-se o calendário de vacinação. Uma higiene adequada das mãos e cuidados com os equipamentos médicos podem ajudar a prevenir infecções hospitalares que levam à sepse. A especialista esclarece ainda que a sepse não acontece só por causa de infecções hospitalares. “Bons hábitos de saúde podem ajudar, além de se evitar a automedicação e o uso desnecessário de antibióticos”, conclui.
Nos sites do ILAS é possível encontrar informações, materiais e orientações para as instituições de saúde utilizarem no processo de implementação do protocolo gerenciado de sepse (www.ilas.org.br; www.diamundialdasepse.com.br; e Youtube) e também para o público em geral conhecer mais sobre a doença e os sintomas e a reabilitação pós-sepse (https://reabilitasepse.com.br/ e YouTube).