O Prêmio Abraji de Contribuição ao Jornalismo, que destaca pessoas e instituições que prestam auxílio relevante ao jornalismo brasileiro, será entregue a Sérgio Gomes pelo trabalho à frente do Projeto Repórter do Futuro. A sessão solene acontecerá no 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.
Conhecido como “Serjão”, o jornalista, além de coordenador do projeto, é diretor da OBORÉ – Projetos Especiais em Comunicações e Artes e integrante do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog desde sua fundação. Tem mais de 40 anos de carreira dedicada ao fomento do jornalismo.
Gomes ingressou no curso de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 1970. Na faculdade, foi representante discente e diretor do Centro Acadêmico Lupe Cotrim. Destacou-se por organizar atividades de formação entre estudantes e contribuir, junto a professores, para mudanças no curso de graduação. Também participou da criação dos jornais A Prensa, Prensinha, A Ponte – Quando Um Muro Separa (publicação semanal de centros acadêmicos da época) e da revista Balão, ao lado de figuras como Laerte Coutinho, seu grande amigo na escola.
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, Gomes trabalhou como repórter em redações como Gazeta de Santo Amaro, Diário do Comércio de São Paulo, revista Construção em São Paulo, Agência Folhas, Folha de S. Paulo e Folhetim. De 1986 a 1992, também foi professor no curso de jornalismo da ECA-USP.
A criação da OBORÉ veio em 1978. Formada por artistas e jornalistas, a empresa surgiu como uma cooperativa voltada a contribuir para a elaboração de jornais, planos de comunicação e departamentos de imprensa de sindicatos e movimentos sociais. “Queríamos que trabalhadores e entidades contra a ditadura tivessem imprensa própria, uma imprensa bem feita”, diz Gomes. Desde então, o jornalista tem atuado junto à imprensa sindical e comunitária.
Ao longo dos anos, a OBORÉ ajudou a produzir mais de 200 títulos, esteve junto a trabalhadores rurais e urbanos, atuou com rádio e, em 1994, criou um núcleo de formação, com oficinas para comunicadores populares e cursos de complementação universitária, como o Projeto Repórter do Futuro. Atualmente, além do projeto, a empresa atua com consultoria, desenvolve atividades de relacionamento com a imprensa para entidades, dirigentes e gestores e desenvolve pesquisas de monitoramento e avaliação de projetos e produtos de comunicação.
Criado oficialmente em 1994, o Projeto Repórter do Futuro surgiu como um curso de complementação universitária, de capacitação e profissionalização de estudantes de jornalismo. Ministrado por especialistas e jornalistas profissionais, busca articular reflexão e prática jornalística, promovendo o autodesenvolvimento e incentivando as carreiras dos jovens. Seus cursos, ofertados semestralmente, contam com o apoio e parceria de organizações da sociedade civil (incluindo a Abraji), faculdades de jornalismo, profissionais da área e lideranças diversas.
Os cursos desenvolveram uma metodologia própria de conferências de imprensa seguidas de entrevistas coletivas. Gomes diz que o funcionamento é o mesmo de uma “sala de aula invertida”: os estudantes, que sabem de antemão da presença dos especialistas, escutam uma palestra por quarenta minutos e depois se organizam para entrevistá-los. Em seguida, os alunos devem então produzir textos e, ao fim do curso, executar uma proposta de produção jornalística para publicação. Os textos são avaliados individualmente, em encontros com o instrutor do curso.
O projeto foi idealizado a partir da série de reportagens “Cidade x Cidadão”, publicada no Diário Popular em janeiro de 1991 para o 437º aniversário da cidade de São Paulo. O trabalho foi o resultado de atividades laboratoriais da disciplina “Jornalismo Comunitário”, da ECA-USP, ministrada por Gomes em 1990. As matérias foram escritas a partir de palestras, conferências, coletivas de imprensa e desafios organizados pelo professor, que chamou especialistas em sala e levou os estudantes à rua quando percebeu que eles “não podiam escrever três linhas com informações” sobre os problemas paulistanos. “Era possível fazer um curso melhor, atingir padrões mais altos de qualidade e competência”, diz.
Atualmente, os módulos regulares do projeto tratam de temas como cidades, direitos humanos, Amazônia, conflitos armados e direito de defesa e cobertura criminal. Os cursos costumam ocorrer aos sábados e contam com turmas de, no máximo, vinte pessoas. Os estudantes do Repórter do Futuro também realizam as coberturas dos Congressos Internacionais de Jornalismo Investigativo da Abraji. “É um curso para quem quer ser jornalista, repórter de verdade”, diz Gomes. Em mais de 20 anos, o projeto já formou cerca de 700 jovens.
O Prêmio Abraji de Contribuição ao Jornalismo foi entregue pela primeira vez em 2014 ao economista Gil Castelo Branco, pelo trabalho na Associação Contas Abertas. Em 2015, foi homenageado o jornalista Claudio Weber Abramo, então diretor-executivo da Transparência Brasil. Já o ano passado, o prêmio foi concedido a Alberto Dines, pelo trabalho de 20 anos à frente do Observatório da Imprensa.
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