A Inteligência Artificial (IA) está cada vez mais presente no dia a dia das empresas, como mostrou a pesquisa Agenda 2023, realizada anualmente pela Deloitte. Segundo a consultoria, sete em cada 10 empresas investirão em IA ainda neste ano. Nas entrevistas realizadas com 501 empresas brasileiras que alcançaram receitas líquidas de R$ 2,1 trilhões em 2022, 20% afirmaram que já usam IA, outros 20% disseram que estão com as aplicações em teste e 31% pretendiam iniciar os investimentos nessa área ao longo de 2023.
Segundo a pesquisa, parte dessas empresas acredita que a nova tecnologia será usada especialmente em suporte e atendimento ao cliente. Mas há intenção de também usar a IA em outras áreas das empresas, que vão desde campanhas de marketing até gestão financeira e gerenciamentos operacionais, por exemplo.
Com 20 anos de experiência na área de Design Digital, o designer Altair Sampaio também é otimista quanto ao uso da Inteligência Artificial. Ele explica que a tecnologia não precisa ser uma ameaça aos profissionais, mas sim uma colaboradora para o ganho de tempo na execução de projetos. Ele cita como pontos positivos da IA o uso em pesquisas de imagens e esboços de ideias. Isso porque os algoritmos utilizados pela tecnologia podem gerar insights que de forma manual demorariam horas.
De acordo com Sampaio, atualmente muitas editoras já estão fazendo testes com criação de imagens generativa em programas como o MidJourney, um serviço de inteligência artificial de geração de imagens a partir de descrições do solicitante, o que pode vir a substituir o uso de banco de fotos, por exemplo.
“A utilização de algoritmos de Deep Learning de IA permite que os designers automatizem tarefas repetitivas, como o ajuste de imagens ou o redimensionamento de elementos gráficos. Acredito que se usada de forma correta, essa nova ferramenta pode mais cooperar do que rivalizar com o trabalho dos profissionais da área de design. Pessoas leigas já conseguem bons resultados, mas os profissionais com mais experiência terão melhor proveito desta ferramenta expandindo os limites da arte e desenvolvendo novas formas de expressão”, destaca.
O designer destaca ainda que teóricos da área de Design também tendem a concordar com os benefícios da IA para facilitar o trabalho dos profissionais. “Um deles é o Marcus du Sautoy, professor de matemática da Universidade de Oxford e autor do livro The Creativity Code. Ele disse em entrevista para o The Economist que a Inteligência Artificial está mais para colaborar do que para competir, porém mudará a forma como os designers trabalham, usando-a com uma ferramenta de suporte nos processos de criação”, comenta.
Altair Sampaio também cita como benefício a maior valorização dos profissionais, uma vez que as tarefas mais simples e repetitivas poderão ser feitas por tecnologias de IA, enquanto a parte de criação e inovação ficará a cargo dos designers. Apesar disso, ainda que os benefícios se sobressaiam, o designer chama atenção para um ponto que pode ser negativo da adoção da tecnologia nessa área.
“Um dos campos que mais preocupam os artistas e designers são os direitos autorais. A quem pertencerão, como isso será definido? Muitas das artes terão semelhanças devido a forma como os algoritmos são configurados”, questiona.
Evento destaca a aplicação da IA no mercado editorial
No 2º Encontro de Editores, Livreiros, Distribuidores e Gráficos, realizado pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) entre os dias 2 e 4 de agosto passado, em Atibaia (São Paulo), a aplicação da Inteligência Artificial no mercado editorial foi um dos temas abordados. Um dos convidados, Peter Schoppert, diretor da Nus Press, de Singapura, defendeu a importância de se utilizar a IA para aprimorar processos editoriais, complementando o trabalho de profissionais humanos.
“A IA não é só um software, é um ecossistema. Quem cria os dados são os humanos, os algoritmos são treinados, aprendendo a prever quais palavras virão em seguida. Esses módulos são repetidores de padrões”, disse, em aspas reproduzidas pela assessoria de imprensa da CBL.
Segundo a entidade, para Schoppert, a “postura a ser tomada pela cadeia do livro deve ser a de melhorar o processo da mensagem final e utilizar as inteligências, não para substituir pessoas, mas sim para melhorá-los.”
Para Altair Sampaio, que é membro da CBL, a discussão sobre o tema ainda está no começo e, quando a tecnologia de IA estiver mais disseminada, será possível prever melhor benefícios e desvantagens. “Com o uso de IA no design, creio que um ponto positivo é que a arte, por exemplo, será mais democrática e inclusiva, abrindo espaço para todas as culturas. No entanto, é preciso lembrar que ainda é uma tecnologia de difícil acesso, o que acredito que será por pouco tempo, uma vez que é inegável que a Inteligência Artificial veio para ficar”, conclui o profissional.