A quantidade de informação produzida hoje pela imprensa pode ser esmagadora para os consumidores. Um site de notícias argentino que acaba de completar um ano nasceu para combater esse ruído. “Acreditamos que há uma parte da audiência no ambiente digital que sofre com o que chamamos de intoxicação informativa”, disse Chani Guyot, fundador e diretor do site Red/acción, ao Centro Knight.
Em todo o mundo, o número de pessoas que cada vez mais evita o consumo de notícias vai aumentar em 2019, de acordo com uma recente estimativa dos professores Ruth Palmer e Benjamin Toff para o observatório de jornalismo Nieman Lab, da Universidade de Harvard. Entre as razões para essa tendência estão a falta de confiança na imprensa e certo desconforto gerado pelas notícias, segundo a pesquisa. Para Guyot, o foco negativo das notícias, as notícias fraudulentas e a superabundância de manchetes que buscam produzir mais visualizações de página para o meio – sem necessariamente oferecer conteúdo original, ressaltou ele – são as principais razões do cansaço que os leitores experimentam e que os leva a parar de acompanhar as notícias.
Portanto, Red/acción procura fazer outro tipo de jornalismo, explicou Guyot. Um jornalismo construtivo que possui reportagens originais, que integra alguns elementos e ferramentas do jornalismo de soluções e que lida com problemas sociais em torno de temas como educação, saúde, gênero, sustentabilidade, focado em pessoas e organizações que estão fazendo algo para resolver esses desafios, explicou ele. “E tudo isso acreditando que a coisa mais distinta que aconteceu à sociedade e que acontece com aqueles que estão online hoje é o fenômeno da participação, de modo que, em muitos aspectos e em várias ocasiões, estamos apelando para a participação da audiência em nosso conteúdo”, disse.
Para Adriana Amado Suárez, jornalista da Radio Ciudad no canal Todo Noticias e presidente da organização Info Ciudadana, a proposta de Red/acción é muito original. O tipo de jornalismo que eles fazem tem como foco a agenda do cidadão, “ou seja, a originalidade da proposta consiste em subverter a lógica do início da notícia: é a necessidade do cidadão que a propõe”, disse Suárez ao Centro Knight.
“Eu vejo [em Red/acción] um novo modelo e isso me deixa feliz, vejo um modelo que busca o protagonismo do público e que também me deixa feliz, vejo uma busca diferente daquela da grande mídia e gosto que isso esteja acontecendo no país”, disse ao Centro Knight Ana Gueller, diretora de arte do jornal argentino La Nación e ex-colega de Guyot na publicação. “Acho que isso contribui tanto para a sociedade quanto para a mídia tradicional”, acrescentou ela.
Recentemente, o Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea) e o Google premiaram Red/acción com o Prêmio de Inovação Jornalística Digital. O júri escolheu o site argentino por sua originalidade de conteúdo destinado à web, sua cobertura com uma abordagem humana e a busca de soluções.
O júri também destacou o modelo de negócios de Red/acción, que inclui a associação de leitores, como algo novo para a Argentina, conforme publicou Fopea em seu site. “Não é apenas uma proposta econômica, mas uma ação de lealdade e busca de participação de seu público”, afirmou.
Red/acción concluiu recentemente um ano desde seu lançamento, em maio de 2018. Desde então, também experimentou um modelo de negócio relativamente novo para o jornalismo, que envolve um programa de associação (membresía). Na Argentina, “o desafio que Red/acción tem é gerar um novo tipo de leitor”, disse Suárez, referindo-se ao fato de que não há cultura no país de pagar por notícias digitais.
Segundo Guyot, esse novo modelo oferece aos associados mais oportunidades de participar do processo editorial antes da redação dos artigos. Red/acción Digital oferece três planos de associação por diferentes quantias mensais: associação digital, associação completa (que também inclui conteúdo impresso) e associação mecenas. Os três planos, que incluem vários benefícios, têm em comum o fato que os membros podem participar semanalmente do planejamento editorial do site.
“Todas as sextas-feiras, nossos membros recebem uma newsletter. Lá lhes dizemos em que [temas] estamos trabalhando e os convidamos a participar”, disse Guyot. Além disso, embora 90% do conteúdo do meio seja de acesso gratuito, os planos de associação incluem acesso a conteúdo exclusivo. Isso inclui Mono, a publicação impressa mensal da Red/acción, produzida e projetada para seus membros. Ela ganhou uma medalha de prata em design em fevereiro de 2019, concedida pela Society for News Design (SND).
É uma revista multiformato de 16 páginas que é muito visual, que segundo Guyot é lida em 15 ou 20 minutos e que pode ser desdobrada para que a informação seja apresentada em vários formatos. Começa como uma pequena revista, depois abre para um formato tabloide e termina em uma “folha” padrão. Essa ênfase no design também está presente no site, que é redesenhado a cada seis meses, levando em consideração as necessidades do público de Red/acción e sua equipe.
“Esta última reformulação faz parte dessa mentalidade que estabelecemos desde o primeiro dia. O novo visual que apresentamos há menos de um mês tem como principal objetivo melhorar a experiência do usuário – com maior velocidade de carregamento em desktops e celulares – e a interface – maior apresentação de conteúdo na primeira barra de rolagem”, disse Maxi De Rito, editor de design e produção, ao Centro Knight.
Outros produtos que distinguem a Red/acción em seu objetivo de alcançar maior participação da audiência são suas sete newsletters diárias e semanais. “Acho que a maioria da mídia continua pensando na newsletter como um meio de distribuição, e nós a consideramos um produto em si”, explicou Guyot. Os tipos de newsletter do site cobrem temas de tecnologia, sustentabilidade, sociedade, tempo livre, livros, notícias.
Cada newsletter tem um autor, um tema definido, um foco, uma identidade com a qual eles buscam cultivar a “transparência radical”. É “uma espécie de declaração de princípios”, além de sua reportagem original, explicou Guyot. O jornalista comentou que eles gastam muito tempo atendendo e respondendo aos comentários de seus leitores do site e das newsletters, de quem recebem muito feedback e participação.
Em suas reportagens, a equipe de Red/acción se esforça para produzir matérias que apresentem tanto os problemas que afetam as comunidades e as cidades e as soluções que essas mesmas pessoas estão encontrando. Por exemplo, em uma reportagem sobre sustentabilidade ambiental, publicada em março, sobre como o gado está destruindo a pastagem dos Pampas, Javier Drovetto, jornalista e editor geral da Red/acción, mostra as alternativas de solução que os produtores locais encontraram para remediar o problema.
Em outra reportagem, a jornalista e editora Stella Bin abordou o problema do suicídio entre jovens na Argentina. Segundo sua investigação, o suicídio é a segunda causa de morte entre os argentinos de 15 a 20 anos. Em sua reportagem, ela fala sobre um programa de prevenção do suicídio liderado por jovens da cidade de Fiambalá, na província de Catamarca, no norte do país.
Em termos da interação que eles buscam com seu público, Red/acción criou uma ferramenta, que eles chamam de “botão de ação”, que convida os leitores a participar de questões que lhes dizem respeito. A cada semana, leitores do site que desejam participar respondem a uma série de perguntas da seção botão de ação nas redes sociais, para compartilhar suas experiências e conhecimentos. No final desta pequena pesquisa, que às vezes também é publicada em um artigo, uma ação é proposta para o leitor.
Por exemplo, um dos temas escolhidos para essa ferramenta foi o autismo. A pesquisa começa perguntando ao leitor seu conhecimento sobre quando a lei argentina sobre os transtornos do espectro do autismo foi aprovada. Duas perguntas são colocadas na pesquisa e depois que elas são respondidas, há uma proposta. Os leitores são convidados a enviar um tuíte ou um e-mail para a Presidência pedindo que a lei seja aplicada.
“Acho que em algum momento a loucura por pageviews e volume distraiu uma parte do jornalismo, então é necessário voltar a focar em resolver de que forma o jornalismo que fazemos tem um impacto positivo na sociedade, entre outras coisas, gerando maior participação”, disse o fundador da Red/acción.
O botão de ação foi lançado em fevereiro de 2019. Desde então, gerou mais de mil respostas ou ações entre seus membros. O tipo de jornalismo em que Red/acción se engaja para tentar envolver seus leitores é o que eles chamam de jornalismo humano, “que visa resolver a desconexão gerada pelo excesso de negatividade, para que o público possa se reconectar a uma marca jornalística confiável e próxima”, disse Guyot.
“Esse desafio de fazer notícias do zero e envolver o público na criação é novo e, portanto, como sempre acontece na imprensa, devemos esperar que o público entenda esse novo jogo e aproveite o potencial que ele tem”, disse Suárez. Guyot confessou que aprendeu muito com a experimentação, querendo fazer algo novo no jornalismo com seu projeto.
“Como ouvimos o nosso público? Não só como interpretamos seus cliques, mas como os ouvimos de verdade, ou qual é a representação do nosso público em termos de fontes ou imagens? Como estamos alinhados com as suas necessidades e interesses?”, questiona Guyot. E, acrescentou, trata-se apenas disso, de usar algumas ferramentas tecnológicas, mas também de ter uma atitude muito humana e antiga, como a empatia ou a escuta.
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