A Netflix brasileira: No dia 15 de julho, foi lançada a Snapcine, iniciativa do diretor da produtora cearense Casa dos Bits, Philipe Ribeiro
Neste mês, a Netflix anunciou a marca de 104 milhões de assinantes em 190 países. Em apenas 20 anos de história, a plataforma conseguiu superar o número de assinantes das operadoras de TV a cabo nos Estados Unidos.
O domínio da Netflix vem incomodando entidades do setor audiovisual que a acusam de concorrência desleal e de afastar as pessoas das salas de cinema que, tradicionalmente, lançam as produções. Uma briga que esquentou quando produções da marca foram indicadas para o Cannes deste ano. No Brasil, por exemplo, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) quer regulamentar a distribuição de vídeos on demand (VoD).
Enquanto essa trama não se desenrola, a popularização do acesso à internet e aos dispositivos (smart TVs, smartphones, tablets) aumenta o consumo de filmes e séries por streaming. De olho neste mercado, grandes empresas de mídia e entretenimento por aqui investem em plataformas VoD (Globo Play, Sky On Demand, Net Now, por exemplo).
Apesar das opções, há poucas iniciativas dedicadas exclusivamente às produções regionais, assim como àquelas de menores orçamentos. Mas há empreendimentos empenhados em transformar esta realidade.
No dia 15 de julho, foi lançado no Brasil a Snapcine (clique aqui), iniciativa do diretor da produtora cearense Casa dos Bits, Philipe Ribeiro, cujo objetivo é ampliar a distribuição de conteúdo audiovisual para além do circuito de festivais e da rede de exibição em salas de cinema, dando visibilidade aos filmes, documentários e séries produzidas em todas as regiões do país, tornando-os acessíveis às pessoas conectadas à internet.
Philipe Ribeiro conversou comigo e contou um pouco mais sobre o projeto pioneiro no Brasil. Confira a entrevista:
Como surgiu a ideia do projeto?
O Snapcine surge da necessidade de alcançarmos um público maior de nossas produções e de parceiros. Nossa empresa trabalha com desenvolvimento de soluções para internet há vinte anos e com produção de conteúdo audiovisual há mais de dez anos e, por isso, foi possível juntar as duas expertises e entregar um serviço inovador no concorrido mercado audiovisual, não tivemos nenhum investimento externo nem investidor-anjo, muito comum em startups.
Qual é a importância da Snapcine para o cinema nacional?
Nossa contribuição ao cinema brasileiro é trazer para o mercado um serviço inovador que tem como foco exibir filmes e séries brasileiras de todas as épocas (temos filmes de 1920!), de todas as durações (curtas, médias, longas-metragens e séries) e de todas as estéticas e temas em um amplo acervo gratuito e lançamentos a preços populares.
A iniciativa pode diminuir a concentração das produções no sul e sudeste?
A plataforma está fornecendo as condições técnicas necessárias para qualquer cineasta, de norte a sul do país, do interior e das capitais, enviar seus filmes e séries para análise e publicação. Tivemos, desde o lançamento, o cuidado de catalogar todo o acervo por estado, ou seja, estamos fortalecendo as cenas locais e propiciando aos usuários filmes que foram produzidos por seus conterrâneos – se identificando com as histórias – e, ainda, conhecer lugares dos quatro cantos do país por meio da fotografia das obras catalogadas.
Como a iniciativa pode contribuir com a formação dos estudantes e profissionais na área?
Nosso acervo é composto por filmes e séries brasileiras de todas as durações, portanto, é um excelente lugar para experimentar estéticas e temas e fortalecer o network com profissionais da área, pois cada diretor(a) tem uma página dentro da plataforma com todos os filmes que dirigiu. Isso já é um excelente portfólio para futuros projetos.
A Netflix tem gerado incômodo entre entidades preocupadas com a lotação nas salas de cinema? Você concorda com este pensamento sobre este tipo de negócio? Sim ou não? Por quê?
A história recente nos prova que a abertura de uma janela não fecha outra. Esse incômodo foi anunciado com a entrada do VHS das locadoras de filmes, depois voltou com a chegada do DVD, retornando agora com o vídeo sob demanda. O mercado passa a incorporar uma nova tecnologia a partir do momento que ele vê o “incômodo” se transformar em oportunidade de negócio e, de preferência, com a manutenção das margens de lucro do mercado já consolidado. Assim foi com os blogs e e-books no mercado editorial, com os podcasts na radiodifusão e agora com o VOD no mercado audiovisual.
É possível que este tipo de iniciativa/negócio seja sustentável para toda cadeia de produção?
Nosso acervo é majoritariamente composto por conteúdo gratuito monetizado por meio de publicidade com a metade do valor retornando ao realizador ou produtor. Já os lançamentos têm preços acessíveis: para séries inéditas, cada temporada custa R$ 3,99; já os filmes inéditos têm o valor de R$ 1,99. O valor de retorno ao realizador ou produtor é a metade do valor da locação. A partir do momento em que os produtores tem retorno financeiro em suas obras, mais filmes e séries podem ser produzidas e toda a cadeia produtiva é beneficiada com novas produções.
Gostou do projeto? Clique aqui.
Até! ?
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Por Raquel Melo. Jornalista formada pela Facha, especialista em gestão de comunicação em mídias digitais pelo Senac-SP e mestranda em ciências da comunicação pela USP. É professora no Instituto de Pós-Graduação e Graduação do Distrito Federal (Ipog-DF) e Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Na imprensa, entre outros projetos, atuou nas rádios Globo e CBN de São Paulo e na Record TV. É editora do blog Rackeando, onde a entrevista divulgada pelo Portal Comunique-se foi publicada originalmente.
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