O presidente sabe como criar polêmica. Sabe que uma vez lançada na mídia vai gerar uma avalanche de comentários contra e à favor de sua ação. Nos aglomerados de toda espécie grupos pró e contra o presidente vão ajustar suas baterias e trocar chumbo. O alvo é atingido: falem mal, mas falem de mim, já dizia um antigo político alemão. A última canetada presidencial é em direção aos funcionários públicos federais. Não seria a primeira vez em sua longa carreira política que molestava os funcionários com discursos, visitas inesperadas nas repartições públicas, sempre acompanhado pelos repórteres.
Todos são avisados com antecedência e ninguém pode ficar fora da cobertura sob a ameaça de perder público e o emprego. Diz todos os dias que vai desaparelhar a máquina pública limpar a presença de ativistas de toda ordem, bem como os nomeados pelos governos anteriores. Jura que vai acabar com o compadrio o e só vai ter acesso a cargo púbico através de concursos honestos e sem o viés ideológico do passado. Corporativismo jamais, vai para a lata do lixo junto com o “é dando que se recebe”, a barganha de cargos no governo federal em troca de boa vontade para votar os projetos no Congresso Nacional.
O Palácio do Planalto anuncia que todos os funcionários públicos federais vão ter que usar uniforme para serem identificados pela população. Não importa se motorista, chefe de seção ou professor universitário. Todos vão ter que usar slack, um blusão de com quatro bolsos e cintos, semelhante ao que se chama de safári. Homens usam calças e mulheres saias. O tecido pode ser do gosto do funcionário. O modelito é o mesmo que o presidente usa no dia a dia em Brasília. As opiniões contra e a favor do uniforme, como era esperado, abre um amplo debate em todo o país e as associações dos servidores ameaçam entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade, pela obrigação de se trajar como o governo manda.
A reação é de tal ordem que o decreto presidencial estipula que o uso é optativo e não obrigatório. Para não haver erro, o Diário Oficial da União publica as medidas e as cores das roupas. Podem ser compradas prontas nas lojas da moda ou serem feitas nas costureiras da preferência de cada um. A economia é evidente, diz o presidente, com apenas três uniformes é possível passar um ano e com isso parar de gastar dinheiro com roupas convencionais.
Presidente, deixe essas coisas pequenas e ridículas e gaste o seu tempo com as grandes questões nacionais. A crítica parte da tribuna do senado. Ele já é acusado de criar fatos novos para desviar a atenção da população dos graves problemas nacionais, entre eles o déficit das contas públicas que não para de crescer. O governo gasta mais do que arrecada. Do outro lado, os apoiadores do presidente argumentam que o uniforme democratiza os funcionários, acaba com a competição de modelitos nos órgãos públicos. A recepção é de tal ordem positiva que até um concurso de beleza com uniforme está previsto para os próximos dias no Rio de Janeiro. Adeus gravata.
A vestimenta vai se aproximar do modelo chinês implantado por Mao Ze Dong. É o Brasil entrando na era da modernidade ainda que os reacionários de toda ordem resistam. Estes apelidam o slack de pijânio, uma mistura de pijama com Jânio, o nome do presidente. Ele diz que o grau de profissionalização do serviço público é baixíssimo. Os servidores são chamados jocosamente de barnabés porque acumulam incompetência, acomodação e descompromisso com o pagador dos seus salários: o contribuinte, e 85 por cento são nomeados por políticos. Depois de sete meses o presidente renunciou e os tais safáris nunca viralizaram como moda.
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