A avaliação sensorial desempenha um papel fundamental no entendimento e na abordagem terapêutica de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com o aumento significativo dos casos de autismo, é importante compreender o perfil individual de cada criança e identificar suas habilidades sensoriais específicas.
De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, em 2000, um caso de autismo era registrado a cada 150 crianças observadas. Em 2020, esse número saltou para um caso a cada 36 crianças. Embora não haja estatísticas específicas para a população brasileira, é possível usar esses dados como uma referência para entender o que está ocorrendo no país.
Ainda segundo o CDC, várias hipóteses têm sido levantadas para explicar o aumento dos casos de autismo. Algumas delas incluem maior acesso ao diagnóstico, melhor preparo dos pediatras e maior conscientização por parte dos professores. Além disso, tem sido levada em consideração a compreensão de que existem casos “leves” de autismo, bem como a identificação de fatores ambientais, como a idade dos pais e alterações durante a gravidez.
A Avaliação de Processamento Sensorial é realizada por terapeutas ocupacionais, que visam compreender o diagnóstico e direcionar estratégias mais adequadas para cada indivíduo. Essa avaliação se fundamenta em 17 testes padronizados embasados em pesquisas científicas, nos quais são analisados tanto os resultados quantitativos quanto qualitativos dos distúrbios de integração sensorial.
Os testes são organizados em quatro categorias distintas. A primeira categoria é a percepção visual-motora livre, na qual são avaliadas a capacidade de perceber visualmente o espaço e a forma das coisas, independentemente da coordenação motora. A segunda categoria é a somatossensorial, responsável pela avaliação da percepção tátil, muscular e das articulações. Já a terceira categoria, denominada práxis, analisa a interpretação de instruções, habilidades de imitar posturas corporais e copiar modelos simples. Por fim, a categoria motor engloba a avaliação da coordenação bilateral, duração dos reflexos, equilíbrio dinâmico e estático, além da precisão motora.
A diretora do Instituto Neuro e especialista em neurodesenvolvimento, Dra. Jéssica Cavalcante, avalia que no Brasil o autismo tem recebido cada vez mais atenção, o que é um bom sinal. No entanto, para ela, ainda há muito que precisa ser melhorado em termos de políticas e os tratamentos para autistas. Nesse contexto, a Lei Berenice Piana, também conhecida como Lei 12.764/2012, é um marco importante. “Ela reconhece o autismo como uma deficiência para todos os efeitos legais, garantindo aos autistas os mesmos direitos que outras pessoas com deficiências. Isso inclui o acesso à saúde, educação e assistência social”, destaca.
De acordo com a especialista, em alguns lugares, faltam profissionais bem-preparados para lidar com o autismo, e faltam recursos para oferecer um bom tratamento. Além disso, muitos autistas ainda não têm acesso a um diagnóstico precoce, que é muito importante para começar o tratamento logo. “Precisamos trabalhar para que todos os autistas, não importa onde morem, possam ter acesso a tratamentos de qualidade e aos direitos garantidos pela Lei Berenice Piana”, diz.
Segundo Cavalcante, os autistas podem sentir os estímulos do ambiente de maneira diferente. “Alguns podem ter sensibilidade maior a barulhos, por exemplo. Por isso, é muito importante avaliar como cada autista percebe o mundo ao seu redor. Assim, podemos encontrar a melhor maneira de ajudá-los a lidar com essas diferenças”, explica.
A diretora do Instituto Neuro ressalta que cada autista é único e tem suas próprias habilidades. “Quando a gente conhece bem cada criança, podemos ajudá-la de maneira mais eficiente. Saber o que ela sabe fazer bem pode aumentar a confiança dela e ajudar no aprendizado. Entender os desafios que cada um nos ajuda a encontrar as melhores formas de apoiá-la”, esclarece.
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