“O feminismo não é uma causa conveniente. É um compromisso inegociável”. Foi com esse recado que as executivas da Think Eva, Maíra Liguori e Nana Lima, abriram o evento de lançamento do Report #CompromissoInegociável, realizado na manhã desta quinta-feira, 27, em São Paulo. Trata-se de um estudo sobre o papel do feminismo na nova dinâmica entre mulheres e marcas. No encontro que reuniu profissionais de agência, marcas e imprensa, Maíra e Nana falaram sobre a mudança de cenário, o papel do marketing e alertaram: se for para falar de empoderamento por falar, apenas fique em silêncio.
O Report apresentado é o primeiro documento de uma série de análises feitas pela Think Eva. Para compor o levantamento, cinco especialistas estiveram ao lado da empresa: Djamila Ribeiro (pesquisadora e mestre em filosofia política), Rosane Borges (pós-doutora em ciência da comunicação), Rafaella Gobara (sênior digital manager da Avon), Cindy Gallop (fundadora CEO da If We Ran The World/Make Love not porn) e Nádia Leão (especialista de mídia para indústria de beleza). Juntas, elas descobriram que é necessário entender o marketing como parte da cultura da sociedade.
“Precisamos entender o passado para desenhar o futuro. O marketing precisa parar de ‘lavar as mãos’ achando que é apenas o reflexo da sociedade. O marketing influencia a cultura e precisa ter responsabilidade nisso”, declarou Nana. De acordo com a executiva, o mercado vive momento gestado nos últimos três anos: a internet amplificou a fala da mulher e as velhas formas de fazer marketing estão com os dias contados. “No digital, o feminismo que lidera é o interseccional, ou seja, não fala só da mulher branca que quer seus direitos. As marcas precisam entender isso, fazer recortes e falar com várias mulheres. Mais do que consumir, o público feminino quer ser respeitado”.
O estudo mostra por meio de uma linha do tempo que, ao longo da história, as reivindicações das mulheres foram sistematicamente ignoradas ou diminuídas. Mas, agora, esse tipo de comportamento não é mais tolerado.
O maior desafio: se manter relevante
Maíra conversou com a reportagem do Portal Comunique-se sobre o assunto e apontou que o principal desafio das marcas é se manter relevante. A executiva aponta que o consumidor tem muito mais poder do que a marca está acostumada a lidar. “Em um futuro próximo, teremos o desafio de manter a nossa voz (como marca) sendo ouvida”.
A executiva pontua que a falta de conhecimento sobre o assunto é um dos maiores erros cometidos pelas marcas. Por outro lado, ela entende que é natural, já que todos estão vivendo período de aprendizado. Ela tranquiliza as equipes à frente da comunicação das marcas. “Ter boa intenção e errar não é o erro maior. Agora, fazer por obrigação ou por achar que é “moda”, sim. Soa como falso, não é profundo, tampouco relevante”.
Para Maíra, esse é um momento em que as marcas e as equipes de comunicação estão sendo cobradas quando o tema é feminismo e empoderamento, mas reforça: não faça por oportunismo. “O marketing de oportunismo não leva a marca a lugar algum. É desperdício de tempo, trabalho e atenção do consumidor. Precisamos refletir sobre. Se você não tem o que falar, ou não faz sentido para a sua marca levantar esse tipo de bandeira, apenas não fale. Se a sua marca não é nociva, não reforça estereótipos ou propaga o discurso de ódio, já é algo muito relevante”, afirma.
As principais descobertas do Report #CompromissoInegociável
- O marketing é parte da cultura da sociedade e não apenas reflexo dela. O marketing precisa assumir essa responsabilidade;
- Na internet, as mulheres passam a conversar sobre as barreiras que enfrentam e tomam consciência sobre o seu poder de influência;
- Há momento de amplificação da consciência;
- A internet teve papel fundamental na disseminação dos conceitos feministas que levaram a esse “basta” por parte das mulheres;
- Atualmente, o momento é de “despertar” das empresas para essa virada;
- Não é mais o bastante conhecer os valores do consumidor e mostrar-se alinhado com eles. É preciso tomar decisões que os coloquem verdadeiramente em prática, para além do discurso, a qualquer custo e sem subterfúgios;
- Quando o mercado ignora as demandas das mulheres, elas inovam;
- As marcas precisam ir além do básico, do “não ofender”, e transformar a sua relação com elas, oferecer inovações;
- O papel de uma empresa que pretende fazer parte do futuro não é o de salvar o mundo para as mulheres, ou de ensinar a elas algo que ainda não saibam sobre si mesmas, mas sim de apoiá-las.