Um motoboy que começou a blogar para ter uma válvula de escape da profissão da qual não gostava, mas tinha que encarar por “necessidade de vida”. Assim, Paulo Cezar de Andrade Prado colocava no ar o Blog do Paulinho em novembro de 2006. Dez anos depois do início do que começou com hobby virtual, o hoje jornalista – formado pela Universidade Nove de Julho (Uninove) – que se dedica integralmente à página que criou tem muitas histórias para contar. Histórias que passam pela pública admiração a Juca Kfouri, pelo “choque” que levou a ter contato com o que define como “altíssimo” nível de “corrupção no jornalismo” brasileiro, inúmeros processos e o fato ter ficado preso por mais de 100 em 2015.
Sobre a prisão, Paulinho se diz “vítima da vingança dos que tiveram malfeitos escancarados” pelo blog e revela que no momento em que foi encaminhado à delegacia, após ser abordado por policiais na Zona Leste da cidade de São Paulo, chegou a temer pela própria vida – por não saber o que lhe esperava do “outro lado da grade”. Solto depois de passar por duas delegacias da capital paulista e pelo famoso presídio de Tremembé, no interior do estado, o jornalista fala das dificuldades de manter o blog e do arrependimento de ter trabalhado com Jorge Kajuru e de, por algum tempo, ter “adjetivado” determinadas denúncias que publicava, o que o transformou em uma das figuras mais processadas do país.
Esses e outros detalhes, o blogueiro conta com exclusividade à reportagem do Portal Comunique-se. Confira, abaixo, a íntegra da conversa.
O MOTOBOY QUE VIROU BLOGUEIRO
O que fez despertar no então motoboy o interesse pelo jornalismo e pela blogosfera?
Desde sempre sou leitor de jornais, revistas e diversos conteúdos jornalísticos. Assim que se iniciou a fase dos blogs passei a acompanhar os jornalistas que mais gostava, entre eles o Juca Kfouri (posso dizer que me alfabetizei lendo seus artigos). Estava num período da vida, então com 34 anos, em que era motoboy por necessidade de vida e não porque gostava. Precisava de uma válvula de escape, surgiu, então, o Blog do Paulinho.
Como o blog foi transformando em trabalho?
O blog entrou na minha alma, passei a me dedicar não apenas a comentar matérias dos outros ou acontecimentos do cotidiano, mas também a sentir o desejo de checar a veracidade do que era disponibilizado publicamente, que, aos poucos, transformou-se em busca por informações inéditas. Percebi ser capaz e, daí por diante, larguei a moto, dediquei-me totalmente ao jornalismo, fiz faculdade e estou, dez anos depois, ainda motivado a prosseguir.
Ao falar do aniversário de uma década do Blog do Paulinho, você revela que o empresário Xico Malta, da Central 3, financiou a sua graduação em jornalismo. Como se deu esse contato?
Conheci o Xico quando ambos fomos chamados a participar, com colunas, no Blog do Birner que tinha em seu subtítulo “e seus titulares” (minha participação durou poucos meses). Gentilmente, ele se apresentou como fã de meu trabalho. Pouco tempo depois, ele disse que queria pagar minha faculdade, assim como já fazia com outras pessoas. A princípio, neguei, mas depois fui convencido pelo Birner de que o Xico era pessoa de bem, sem envolvimento com esporte e que se tratava de um gesto de pura generosidade. De fato, era. Aceitei e consegui me formar. Estudei na Uninove e nunca fiquei de “DP”.
A amizade com o Xico Malta segue até hoje?
Tempos depois, poucos anos após estar formado, já há tempos sem ver o Xico, criei a web-rádio MidiaCast e dentro dela um programa chamado “Blogueiros”, em que torcedores discutiam assuntos esportivos e eu, em contraponto a todos, emitia a opinião jornalística. Participaram, além do próprio Xico Malta (Corinthians), Marcos Kleine-Ultrage a Rigor (Palmeiras), Fajopa e Fabiano Pellege (São Paulo) e Dr. Marcelo (Santos). Diguinho Coruja (do ‘The Noite’, SBT), assim como o Fernando Pereira. A amizade estreitou sem que nunca, em momento algum, o Xico tenha me cobrado ou jogado na cara a ajuda dispensada. Com o fim da MidiaCast, o Xico empreendeu, como projeto pessoal, a Central 3, levando consigo boa parte dos colaboradores da minha rádio.
Com o início do blog, você – como sinalizado acima – foi estudar, fazer faculdade. Em que o curso da Universidade Nove de Julho (Uninove) contribuiu para o seu trabalho como blogueiro?
Diria que mais do que o curso, viver o período universitário, que não mais acreditava fosse ocorrer naquela altura de minha vida, foi muito importante. Dividir ideias, opiniões e conhecimentos com alunos e professores ajudou a lapidar minha conduta como jornalista. Do curso em si, o mais importante foi, tecnicamente, aprender o comportamento diante dos produtos rádio, TV, material impresso e internet, facilitando, assim, o entendimento de como funcionava as coisas no mercado.
No começo, você chegou a pensar em desistir do curso de jornalismo e, consequentemente, do Blog do Paulinho? Quais as dificuldades financeiras de manter a página?
Nunca, em momento algum, pensei em desistir. Não tinha problemas com o curso porque os professores entenderam que, devido ao andamento de minha profissão (o blog já era famoso antes de eu ingressar na Uninove), vez por outra era obrigado a fazer horários fora do estabelecido pela faculdade. Sem esses conflitos, meu desempenho foi suficiente para conseguir a formação. No âmbito do blog, os desafios costumam mais me estimular do que deixar chateado. As dificuldades financeiras de um trabalho independente são conhecidas, mas o público do Blog do Paulinho, extremamente solidário, sempre ajudou o espaço, entendendo a necessidade de manter no ar uma página com nosso comportamento.
Você comenta que o Juca Kfouri serve de inspiração. Você também enfatiza o fato de ele ter sido o primeiro a acreditar no seu trabalho. Como foi que a relação com o Juca se construiu?
Sou fã do Juca desde criança. Dois anos antes de conhecê-lo pessoalmente, sem nunca sequer ter falado com ele, criei uma comunidade no Orkut denominada “Fãs de Juca Kfouri”. A aproximação se deu quando criei o Blog do Paulinho e passamos a trocar e-mails sobre diversos assuntos de nossas postagens. O Juca passou a ler o blog e, vez por outra, comentava sobre o trabalho, até que um dia perguntou, por e-mail, se eu não gostaria de assistir a um programa dele, na CBN. Fui e constatei que, diferentemente do que ocorre em muitos casos em que o fã encontra o ídolo, o Juca era um ser humano ainda melhor do que demonstrava por meio de seu jornalismo.
E depois da visita aos estúdios da CBN na época em que o Juca comandava o ‘CBN Esporte Clube’, você pegou ainda mais gosto pela profissão?
Passei, então, por conta própria, a frequentar a CBN três vezes por semana, e o Juca, com absoluta generosidade, aceitava travar discussões com este então blogueiro iniciante, que aproveitava cada segundo para aprender sobre a profissão. Por acreditar em meu trabalho e, principalmente, em minha conduta, o Juca passou a citar minhas matérias (em seu blog e na CBN), apresentando também a seu público o Blog do Paulinho. Sempre que posso converso com o Juca, por quem tenho estrema gratidão, não apenas por acreditar no blog, mas por, involuntariamente, ter contribuído, com suas matérias, para minha formação ética, moral e intelectual, mesmo quando sequer sonhava um dia que seria jornalista.
O Blog do Paulinho é marcado por ser um veículo que publica denúncias relacionadas sobretudo ao meio futebolístico. Como você deu início a esse trabalho?
Tudo começou quando percebi que muitas notícias e avaliações de bastidores não correspondiam exatamente com a realidade. Atentei-me, a princípio, por ser frequentador do Parque São Jorge desde os tempos da Democracia Corintiana, que tudo o que era publicado sobre o então líder oposicionista Andrés Sanchez (era o período da queda de Dualib) beirava as raias do absurdo. Eu conhecia a verdadeira história, que não era contada, e passei a reproduzi-la no blog. Dentro do Corinthians, os relatos soaram como uma bomba, sendo discutidos, inclusive, em reuniões de conselho.
O Andrés, então, de certa forma impulsionou o blog…
Havia os que eram enganados pelas publicações da imprensa e os que sabiam a verdade, mas não imaginavam que alguém, um dia, devido à periculosidade de Andrés e seu grupo, teria coragem de contá-la. Daí por diante, com o blog tornando-se conhecido publicamente, e, nos bastidores, por honrar a confidencialidade dos denunciantes, passei a ser procurado por pessoas de todos os cantos do Brasil (e também de outros países) ansiosos em ver publicados seus relatos e provas contra determinados corruptos.
“Árbitro da final do Paulistão recebe dinheiro do Corinthians há dois anos”. A manchete publicada por você em 17 de maio de 2013, antevéspera da final do Campeonato Paulista daquele ano, repercutiu em muitos veículos de comunicação, como ESPN e Folha de S. Paulo. A informação fez com que a Federação Paulista de Futebol tirasse Rodrigo Braghetto do comando da partida. Você considera esse o seu maior furo da carreira?
Foi de fato um grande furo! Gerou a maior visitação até então do blog num único dia (quase 200 mil visitas), mas não se trata do maior. Tenho diversos trabalhos interessantes, como, por exemplo, as revelações (com todos os documentos publicados em primeira mão), antes da Copa de 2014, sobre os problemas financeiros e de gestão da Arena em Itaquera, que hoje, quase três anos depois, começam a ser comprovados, oficialmente, pela “Operação Lava-Jato” e por auditores contratados pelo clube.
Depois do caso da final do Paulistão, o Braghetto anunciou que estava encerrando a carreira de árbitro de futebol. Em algum momento, vocês conversaram? Em outubro de 2013, em entrevista ao Uol, ele chegou a dizer que pensou em suicídio e garantiu que nunca recebeu dinheiro do Corinthians…
O Braghetto procurou-me uma vez pedindo para que retirasse a matéria do ar, assim como ocorre, frequentemente, com outras pessoas flagradas nos mais diversos desvios de conduta. Neguei-me. Desconfio da versão sobre ele ter pensado em suicídio. O Braghetto é absolutamente ligado ao Andrés Sanches e a todo seu grupo no Corinthians. Frequenta o clube, sempre cuida das arbitragens de torneios internos, foi contratado, em exemplo, para gerir a arbitragem do “Torneio Andrés Sanchez” de várzea. Ele recebia do Corinthians, mas disfarçava em contrato de prestação de serviços de pessoa jurídica. Vez por outra arbitrava no Parque São Jorge (para justificar o acordo), mas, mesmo quando não trabalhava, o acordo não era interrompido. O conflito de interesses é evidente.
A vida de qualquer jornalista são se dá só com furos. Pelo contrário, equívocos sempre giram em torno de quem lida com a imprensa. Nestes últimos dez anos, qual informação você considera como a maior “barriga” veiculada pelo Blog do Paulinho?
Foi ter noticiado que o Andrés Sanches e o Ronaldo estavam numa boate do Rio de Janeiro às vésperas de uma partida do Corinthians. Não estavam. Tratava-se de uma “pegadinha” de um site mantido por dirigentes do Corinthians com objetivo único de desqualificar meu trabalho. Armaram bem: ligaram diversas vezes, colocaram-me na linha com uma pessoa do Rio que se identificou como trabalhador da boate, enfim, acreditei. Assim que publiquei a nota, o tal site, em êxtase, contou sobre a “pegadinha”. Ainda bem que foi logo depois. Tivesse demorado mais, o estrago teria sido maior. Alertado por um amigo, tomei o procedimento que todo jornalista correto deve fazer: retirei a matéria do ar, contei o episódio, pedi desculpas a ambos e segui em frente. Valeu como lição para ficar mais esperto na profissão.
As postagens do Blog do Paulinho vão além de denunciar dirigentes de futebol e árbitros. Parte do conteúdo da página coloca em xeque a conduta de determinados jornalistas. Com isso, no geral, como tem sido a sua relação com colegas da imprensa? Já se arrependeu de alguma denúncia contra profissional da mídia?
Um dos maiores choques que tive na vida foi perceber que o grau de corrupção no mundo do jornalismo era altíssimo. Como leitor, antes dos tempos reveladores da internet, não imaginava. Nem falo apenas em corrupção por dinheiro (que existe), mas por benesses diversas, que acabam por manipular a verdade das informações. Revelar os podres também da imprensa tornaram-me bem quisto pelos que se incomodavam com os corruptos e extremamente odiado por aqueles que passaram anos se vendendo, sem serem notados. Por sorte, tenho ótima relação com a maioria dos que sempre admirei e a perseguição daqueles para o qual não dou a menor importância.
Quem denuncia também pode se tornar alvo de denúncias. Como forma de tentar desacreditar o seu trabalho, tem gente que menciona que você tem, inclusive, dois CPFs. O que você tem a dizer a respeito dessa e de outras acusações?
Aprendi com o exercício da profissão que os que não se portam corretamente tem como procedimento de defesa, após flagrados, três etapas, para desviar os olhares do assunto principal: 1-tentar cooptar o denunciante; 2- desqualificar (quase sempre com mentiras) o denunciante e; 3-por fim, eliminar o denunciante. Disseram que tenho dois CPFs, o que é mentira absoluta, distorcendo um episódio, quando ainda jovem recebi pelos Correios um documento (2ª via) com numeração diferente da que possuía. Dirigi-me à Receita Federal e relatei o ocorrido, que, prontamente, cancelou a duplicidade. Ocorre que ao buscar no sistema pelo meu nome as duas numerações são encontradas: uma com a inscrição “ativo” e a outra como “cancelada”. Foi o que bastou para que inventassem uma mentira que qualquer busca na internet desmentiria.
Ao longo destes 10 anos, você já recebeu claras ameaças pelo conteúdo publicado no Blog do Paulinho? Já chegou a temer pela sua vida?
Recebo frequentemente, mas, apesar de ficar atento, não limito meu trabalho por conta delas. A única vez que pensei: “pode ser hoje”, foi no primeiro dia de minha indevida prisão, sem saber o que me esperava do outro lado da grade.
MAIS DE 100 DIAS NA PRISÃO
Em ação penal movida pelo advogado Carlos Sandoval Catta Preta, que alega ter sido difamado, a Justiça expediu seu pedido de prisão em outubro de 2014. Você não se apresentou e chegou a ser considerado foragido. Por que você não se encaminhou à polícia quando a decisão foi divulgada (sendo detido em julho de 2015)?
Vamos aos fatos: nunca recebi nenhuma notificação de condenação. No processo, em si, compareci a prestar depoimento em primeira instância, mas estava sendo assistido pela Defensoria Pública, que não me avisou do andamento do caso. Fui preso na porta de minha residência, no bairro e cidade que morava há mais de 40 anos. Em verdade, o processo do Catta Preta foi utilizado por um ex-presidente do São Paulo, que, indignado com matérias que resultaram em seu afastamento do cargo, sabe-se lá por quais meios, convenceu policiais que ficavam do outro lado da cidade a levar-me, coercitivamente, sem mandado, para o DP da Vila Sônia, a pretexto de prestar depoimento sobre um inquérito movido pelo dirigente. Os policias utilizaram-se de todos os procedimentos condenáveis nos tempos da ditadura, espetacularizaram a prisão, parando meu carro, em movimento, como se interceptassem um grande bandido. Algemaram-se e levaram-me ao DP. Apenas lá fui notificado que havia um mandado de prisão em meu desfavor.
No processo movido por Catta Preta, você foi condenado ao regime semiaberto, mas ficou preso em regime fechado por mais de 120 dias, passando pelo 34º distrito policial (DP) da capital paulista (Vila Sônia), 31º DP (Vila Carrão) e, por fim, na penitenciária de Tremembé, no interior do estado? Você esperava ficar esse tempo detido? Ao voltar à liberdade, você se disse “vítima da vingança dos que tiveram malfeitos escancarados…”.
Quando entrei na Vila Sônia, muitos dos denunciados passaram a ligar para o DP, pressionando os policiais. Largaram-me por 44 dias numa delegacia de polícia, sem que meu nome estivesse inserido no sistema prisional, proporcionando-me uma situação de cárcere privado, inviabilizando, pela Vara de Execuções Penais, a avaliação de minha situação: preso em regime fechado, mesmo condenado ao semi-aberto, já com tempo cumprido para estar em casa (no regime aberto). No Tribunal de Justiça de São Paulo, pedidos de habeas corpus eram negados sem nenhuma justificativa jurídica crível (já havíamos cumprido a pena) e piorou após minha transferência a Tremembé. Foi necessário uma reclamação no Conselho Nacional de Justiça sobre o comportamento desleal dos magistrados para, somente então, libertarem-me de um presídio de segurança máxima, 130 dias após ter sido preso, na porta de casa.
Dias depois de sua prisão, o ex-secretário nacional de Justiça e seu advogado, Romeu Tuma Júnior, e humorista e apresentador do SBT, Danilo Gentili, se posicionaram publicamente e afirmaram que você tinha cometido “crime de opinião”. Mesmo que de forma reservada, jornalistas entraram em contato contigo para demonstrar apoio?
Recebi solidariedade de muita gente, mesmo que nem sempre expressada publicamente. Um deles, o Marcelo Damato, ex-diretor do Lance, visitou-me duas vezes na prisão. Quanto aos outros, tirando os que já conhecidos, prefiro não declinar os nomes, porque talvez, indiretamente, possa prejudicá-los. O Dr. Romeu Tuma Jr., que ofereceu-se gratuitamente para realizar minha defesa (a quem sou grato), teve tarefa árdua para defender um jornalista absolutamente odiado por aqueles que aproveitaram-se da situação para exercer todo o tipo de influência, legal e ilegal, no intuito de prorrogar o cárcere que, acreditavam (erroneamente), seria a intimidação final ao Blog do Paulinho.
Ao deixar a prisão e voltar a atualizar o Blog do Paulinho, você afirmou que a detenção teria sido “encomendada por um dirigente esportivo”. Quem seria esse cartola?
Ele foi presidente do São Paulo, expulso por corrupção devido a comprovações de denúncias do blog contra ele. Por orientação de minha atual advogada, a Dra. Danubia Azevedo, apesar de querer, não citarei nominalmente (há uma ação judicial que me impede, no momento, de fazê-lo). O leitor do Portal Comunique-se, inteligente, haverá de saber de quem se trata.
Também assim que deixou o presídio de Tremembé, você avisou que contaria a sua experiência em um livro, dando detalhes, inclusive, de como é “a vida na cadeia dos mais famosos presos do país”. Essa ideia segue de pé?
Posso dizer que será um belo livro, contando experiências pelo que passei no presídio, e, também, detalhes da convivência com os presos mais conhecidos do país. O grande empecilho, ainda, é o tempo. O blog me consome por quase 24 horas diárias, mas, aos poucos, vou escrevendo alguns capítulos dessa história.
PROCESSOS, ARREPENDIMENTOS E FUTURO
Você enfrenta quantos processos judiciais? Teme a possibilidade de ser novamente detido?
Enfrento alguns processos mais antigos, que seguem o curso normal dos recursos impetrados. Existirá sempre, depois da minha prisão em 2015, a possibilidade real do feito se repetir em caso de nova condenação. Pela lei, nenhuma pena que venha a receber nos próximos cinco anos pode ser inferior ao regime semi-aberto, apesar de que os juízes, se assim desejarem, podem convertê-la em prestações alternativas de serviços à sociedade, convenhamos, mais adequada a um jornalista.
Desde a reativação do blog, o número de processos contra você aumentou?
Tenho recebido poucos processos desde a saída da prisão e todos já foram resolvidos em primeira instância. Meus problemas jurídicos, inclusive o que foi utilizado para minha prisão, são casos mais antigos, em que, por vezes, o blog, no calor do assunto, mesmo sempre tendo comprovado as notícias publicadas, excedia-se nas adjetivações. Hoje, mais com o trabalho amadurecido, essas situações não mais estão sendo repetidas.
Você sempre enfatizou o fato de seu blog ser independente. Nesse formato, quais as principais dificuldades de se conseguir manter financeiramente?
A dificuldade é a de conseguir convencer patrocinadores e colaboradores sobre a relevância do trabalho, ainda mais nesse período de crise, que tem afetado até as grandes corporações midiáticas.
Nestes 10 anos do Blog do Paulinho, você se arrepende de algo? O que você teria feito de diferente?
Arrependo-me de ter trabalhado com Jorge Kajuru, a quem ajudei e depois, como ocorreu com todos os que lhe estenderam a mão, fui difamado com as mais criativas mentiras, pelo fato de ter me negado a trabalhar ao lado de quem recebeu dinheiro do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Além disso, se maduro fosse, no início, teria evitado as adjetivações que levaram-me a ser um dos mais processados jornalistas do últimos anos. Poderia ter evitado muitos dos problemas apenas relatando os fatos, gravíssimos, sob o qual mantinha absoluta exclusividade. Aprendi com o tempo e o blog, que já era ótimo, ficou ainda melhor. Orgulho-me, porém, dos embates com todos os ex-presidentes da CBF (menos Giullite Coutinho) e muitas das personalidades nocivas do esporte e da política nacional.
Como você acredita que o Blog do Paulinho estará daqui a 10 anos?
Espero que com a mesma independência e vontade de contar a verdade, mantendo a indignação com as irregularidades.
O que hoje, o jornalista e blogueiro Paulo Cezar diria ao motoboy Paulinho que começava a pensar em criar uma página na internet para denunciar o que acontece nos bastidores do futebol brasileiro?
Diria: “garoto, você trabalha direitinho, mas vá com calma! Não proporcione aos corruptos a chance do contragolpe. Publique, conte os fatos e observe-os complicando-se para explicar”.
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