Depois de sofrer uma redução de 63% no faturamento em 2020, especialmente por conta da pandemia, o turismo nacional registrou, no primeiro trimestre deste ano, um ganho de R$ 8,2 bilhões, o que representa um crescimento de 25,4% com base no mesmo período de 2022, conforme dados do Conselho de Turismo da FecomercioSP.
A crescente demanda do setor, deve-se, entre outros fatores, ao retorno de reuniões e grandes eventos corporativos no modelo presencial, que têm impulsionado o turismo de negócios no Brasil. De acordo com a Envision Tecnologia, empresa de tecnologia especializada em soluções inovadoras para o mercado de turismo, o volume de viagens corporativas cresceu 80% no primeiro trimestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior, ficando apenas 4% abaixo em comparação à 2019 (pré-pandemia).
O mercado hoteleiro é um dos players da cadeia turística que tem se beneficiado com esse cenário. Para o Adm. Marcelo Boeger, coordenador do Grupo de Excelência em Administração Hoteleira do CRA-SP e consultor na Hospitallidade Consultoria, ao conseguir uma melhor perspectiva de ocupação, o que garante previsibilidade de receitas, o setor pode melhorar a precificação e a distribuição de vagas, com a possibilidade de aumentar o volume de tarifas não reembolsáveis com base no tempo médio de permanência.
Boeger explica também que, nos últimos anos, o setor hoteleiro se apropriou do Revenue Management (gerenciamento de receita), um conceito cujo propósito é vender o maior número de hospedagens, pelo melhor preço possível, a fim de focar no lucro. Para ele, conhecer o comportamento da demanda futura ajuda na definição de tarifário, na estratégia de preços e na política de descontos, podendo maximizar a receita e aumentar a rentabilidade.
“Definir a distribuição das unidades entre público corporativo e de turismo não deve acontecer por acaso. Isso deve ser resultado de uma estratégia de inteligência de mercado, visando compreender a penetração e as tarifas, além de desenvolver serviços que dialoguem com as necessidades desse público empresarial, que apresenta peculiaridades e necessidades distintas de um turista convencional”, esclarece Boeger.
Destinos e tendências do turismo corporativo
São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Brasília são, segundo o administrador, os destinos mais procurados pelo turismo de negócios, mas ainda assim há outras opções surgindo. “São Paulo é o destino mais bem consolidado para este mercado há muitos anos. A cidade possui uma oferta hoteleira bastante preparada para atender as necessidades e expectativas deste tipo de cliente. No entanto, outros destinos também entraram no radar de forma consistente, como Belo Horizonte, Salvador, Recife, entre outros”, explica.
Boeger ainda conta que o aumento do turismo corporativo possibilitou a chegada de uma nova tendência: o bleisure (junção das palavras business/negócios e leisure/lazer). O novo conceito ganhou forças no pós-pandemia e se caracteriza por conciliar trabalho e lazer no mesmo destino. O Rio de Janeiro é um bom exemplo de cidade turística que consegue associar suas atrações ao turismo de negócios.
“Os hóspedes corporativos podem estender a viagem de trabalho para efetivamente fazer turismo, visitando pontos turísticos do local em que estão, podendo, em alguns casos, ser este o critério adotado na motivação da escolha do destino por parte das empresas. No período de lazer, a presença de amigos ou familiares dos viajantes pode ser uma opção dos hóspedes para o final de semana, ou mesmo para os dias livres extras já negociados com a empresa, sendo uma forma de aumentar a atratividade ao destino”, explica Boeger.
Desafios do setor
Uma das principais dificuldades que o setor hoteleiro vivencia atualmente é a recuperação dos preços praticados antes da pandemia. De acordo com o consultor, nos destinos mais afetados, somente no final de 2022 houve essa melhoria e o maior desafio, agora, é a reposição da inflação dos últimos quatro anos.
Outra grande dificuldade do segmento, desta vez a nível mundial, é a captação e manutenção da mão de obra. A redução do turnover (rotatividade de funcionários) e do absenteísmo estão no radar dos principais gestores deste mercado. “Compor as equipes com qualidade acaba sendo um pré-requisito crítico para atender o aumento da demanda de mercado”, comenta Boeger.
Apesar do aumento significativo no número de viagens corporativas, a rede hoteleira segue atenta às adaptações que são essenciais nas demandas voltadas a trabalhos e eventos on-line. Para atendê-las com eficiência, os hotéis precisaram repensar seus serviços e estruturas, para continuar em sintonia com o mercado e encantar seus clientes.
“Todo o design, iluminação, disponibilidade de tomadas, cardápio do room service, itens do frigobar e salas de eventos ociosas transformadas em espaços de coworking (local de trabalho) precisaram ser repensados. Muitos hotéis já atuam com serviços por meio de aplicativos mobile ou, ainda, pela televisão interativa. Percebeu-se, inclusive, que pelo dispositivo mobile os hóspedes pedem 20% a mais, sendo essa uma oportunidade de upsell (vender a mais), o que no contato telefônico, com o tradicional ‘room service analógico’, raramente ocorreria. A hotelaria deve acompanhar o dinamismo das mudanças comportamentais da sociedade e seguir oferecendo experiências memoráveis, esteja o hóspede como turista de lazer ou em uma viagem corporativa”, conclui Boeger.
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