A Copa do Mundo de 2018 será especial para um jornalista brasileiro. Eraldo Leite já está na Rússia para acompanhar in loco o seu mundial de número 10. E, desde 1982, Eraldo Leite e a cobertura do principal torneio de futebol de seleções acabam sendo significado de um meio de comunicação: o rádio. Há 26 anos, ele acompanha de perto os sucessos de personagens improváveis e as inglórias de craques para o dial.
Em 26 anos acompanhando as Copas, o jornalista registra passagens pela Super Rádio Tupi e Rádio Nacional, ambas do Rio de Janeiro. Em solo russo, cobrirá o evento esportivo pela sétima vez para a praça carioca da Rádio Globo. O trabalho como “homem do rádio” e a evolução do meio – e da imprensa como um todo – são os destaques da segunda parte da entrevista exclusiva concedida por Eraldo Leite à reportagem do Portal Comunique-se. Afinal, até o início da década de 1990, a “cobertura exigia muito mais transpiração”.
Para quem é oriundo do meio rádio, quais os principais fatores positivos da evolução tecnológica? Como era ter de cobrir uma Copa do Mundo sem computador e telefone celular? Até onde é lenda (ou verdade) a história de que tinha gente que fazia transmissões por meio dos chamados orelhões?
O telefone celular e a internet facilitaram muito a vida dos jornalistas de hoje. Da Espanha, em 1982, aos Estados Unidos, 1994, a cobertura exigia muito mais transpiração. Desde a pesquisa de informações até a transmissão dos jogos, tudo era mais difícil. Essa história de narração pelo orelhão, entretanto, pode até ter acontecido, mas não numa Copa do Mundo. O orelhão é um produto brasileiro, não existia à beira do campo nos estádios do mundo (risos).
De todos os países em que você já esteve para cobrir Copa do Mundo, qual foi o pior para o trabalho dos jornalistas? E o melhor? Acredita que a imprensa terá problemas para fazer um bom trabalho na Rússia?
A Copa mais difícil de trabalhar foi a de 2002, Coreia-Japão. Além da dificuldade do idioma, foi a primeira Copa em que as seleções não jogavam duas vezes na mesma cidade. Foi a Copa da “casa nas costas”: chegava numa cidade, jogava, pegava as malas e saía para outra cidade. Não se podia criar raiz num lugar, montar um escritório ou redação. Na Rússia, vamos ter problema com o idioma e com a pouca hospitalidade (dizem) dos donos da casa. Mas talvez a simpatia brasileira consiga dobrar os russos. Veremos.
Quem está de fora tem a sensação de que a Fifa privilegia emissoras de televisão na cobertura da Copa do Mundo. Isso procede? Quais os segredos para jornalistas de outros meios conseguirem realizar um bom trabalho durante o mundial?
Na verdade, há regras para todos os meios. A Fifa é uma casa de comércio: quem paga mais, tem mais privilégios. E as TVs têm maior poder econômico, além de poder mostrar em imagens os acontecimentos da Copa, coisa que dá visibilidade ao evento que ela (Fifa) promove. Mas todos conseguem dar o seu recado, dentro de suas possibilidades e necessidades.
Pelo Portal Comunique-se, notícias sobre demissões no jornalismo brasileiro têm se tornado, infelizmente, pauta comum. Isso também tem ocorrido na imprensa internacional? Copa após Copa há menos jornalistas acompanhando os torneios in loco?
Em razão dessa limitação, de que falei, que a Fifa impõe, o número de jornalistas credenciados se mantém. Talvez até cresça, em algumas TVs. Mas poderia ser muito maior. No Brasil cresce o número de webrádios, na Argentina se multiplica a quantidade de TVs fechadas e por aí vai.
Escalado para a sua décima Copa do Mundo, Eraldo Leite passou por apuros ao acompanhar um jogo da seleção brasileira em Guadalajara, no mundial realizado no México em 1986. Do futebol, o trabalho dele virou caso de polícia.
Confira o álbum com as fotos cedidas por Eraldo Leite à reportagem do Portal Comunique-se. As imagens mostram o trabalho dele nas últimas nove Copas do Mundo.
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