Opinião

Um jornalista, 10 Copas: testemunha ocular do futebol

Portal Comunique-se publica a primeira parte do especial com o jornalista Eraldo Leite. Integrante da equipe esportiva da Rádio Globo do Rio de Janeiro, ele se prepara para cobrir a sua 10ª Copa do Mundo. Em destaque, o trabalho de servir como testemunha ocular dos últimos mundiais de futebol

Os mexicanos Antonio Carbajal e Rafa Márquez, o alemão Lothar Matthäus e o italiano Gianluigi Buffon compartilham o mesmo feito no mundo do futebol. Eles são os jogadores a serem convocados para mais Copas do Mundo na história: cinco no total. Em termos de recorde, porém, o quarteto de atletas é facilmente superado por jornalistas que também vão aos mundiais a trabalho. Um em específico se prepara para cobrir a sua décima Copa. E ele é brasileiro: Eraldo Leite.

De malas prontas para a Rússia (viaja neste domingo, 10), Eraldo Leite vai acompanhar a Copa de 2018 pela Rádio Globo do Rio de Janeiro. Antes de partir para o país que pode render à seleção brasileira o hexacampeonato, ele conversou com a reportagem do Portal Comunique-se. Na entrevista – dividida em três partes -, ele fala, entre outros pontos, da relação de trabalho com os treinadores que estiveram à frente do Brasil desde o torneio de 1982 e “brinca” de ser Tite. Na função de cronista esportivo, afirma que faria mudanças na lista de convocados.

Confira a primeira parte da entrevista com Eraldo Leite:

TESTEMUNHA OCULAR DE COPAS DO MUNDO

Sua primeira cobertura in loco de Copa do Mundo foi em 1982, na Espanha. Até hoje, o time montado por Telê Santana é lembrado como exemplo de futebol arte. O que faltou para o Brasil ser campeão naquela oportunidade? Por parte da imprensa brasileira, houve encantamento demasiado com essa seleção?
Houve encantamento, sim, e não foi demasiado. Quando a Itália eliminou o Brasil, nem os jornalistas italianos acreditavam no que tinha acontecido. Em 1982, o Brasil montou uma seleção espetacular, com craques em quase todas as posições. Não foi campeão por um capricho dos deuses do futebol. Aliás, o futebol é o único esporte do mundo que permite que o melhor time não seja o campeão. Jamais aconteceria no basquete ou no vôlei, por exemplo.

Depois de 1982, 1986 e 1990, com a seleção brasileira sequer chegando às semifinais da Copa, você imaginava que os comandados de Parreira poderiam voltar dos Estados Unidos campeões?
A seleção campeã em 1994, nos Estados Unidos, era um time de operários, com dois craques: Bebeto e Romário. Os dois zagueiros titulares se machucaram (Ricardo Rocha e Ricardo Gomes) e Raí não correspondeu. Restou ao Parreira montar um time fiel ao esquema tático, deixando os craques resolverem lá na frente. Mesmo assim, fomos campeões nos pênaltis. A seleção não encantou, mas levantou a taça. É o que vale. É o que fica.

“Em 1982, o Brasil montou uma seleção espetacular, com craques em quase todas as posições. Não foi campeão por um capricho dos deuses do futebol”

Telê Santana, Sebastião Lazaroni, Carlos Alberto Parreira, Zagallo, Luiz Felipe Scolari, Dunga e Tite? Qual desses treinadores teve um relacionamento mais difícil com a imprensa?
Disparado, o mais querido foi Telê, e Dunga o de pior relação com a imprensa. É preciso estabelecer os tempos distintos em que viveram. Telê dava entrevistas cercado de microfones, cara a cara com os jornalistas, assim como Lazaroni, Parreira e Zagallo. Havia, literalmente, uma proximidade. Dunga é do tempo das coletivas, instituídas por Luxemburgo, que criavam um clima de distanciamento.

Telê permitia que os jornalistas vissem os treinos e fizessem questionamentos sobre seus métodos. Dunga ia para as entrevistas armado até os dentes, rebatendo todas as perguntas como se estivesse num tribunal de inquisição. Ele jamais entendeu o papel dos jornalistas. Zagallo, Parreira e Felipão sabiam tratar os jornalistas e permitiam até mesmo a resenha após treinos, aquela conversa informal.

“Dunga é do tempo das coletivas, instituídas por Luxemburgo, que criavam um clima de distanciamento”

Das 9 Copas do Mundo que você cobriu, em seis a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) era presidida por Ricardo Teixeira. Durante os mundiais, qual era a relação dele com a imprensa
Ricardo Teixeira dirigiu a CBF como se tivesse nas mãos uma caixa preta, inviolável. Era avesso a entrevistas e repelia a simples presença de jornalistas ao seu redor. Só falava em entrevistas pré-agendadas, quando havia algo muito relevante a dizer. Custou a cair e a CBF até hoje mantém seu distanciamento da imprensa e do torcedor brasileiro.

De todas essas 10 copas que você já acompanhou de perto, qual o jogador brasileiro que mais lhe causou estranheza ao estar na lista final de convocados para uma Copa?
Todas as seleções brasileiras sempre tiveram convocações estranhas, muito por causa do grande número de bons jogadores que o Brasil produz. Na fantástica seleção de 82, Roberto Dinamite era o preferido de todos, mas Telê insistiu com Serginho. Em 94 Ronaldão (zagueiro) foi campeão do mundo, assim como Paulo Sérgio (atacante). Agora Taison vai à Copa e Luan (Grêmio) e Diego (Flamengo) não. Tem nível de comparação técnica entre Taison e Luan (ou Diego)? Não tem.

Um jornalista, 10 Copas | Aguardem…

  • [PARTE II] ACOMPANHANDO O TRABALHO DA MÍDIA = 12 DE JUNHO
  • [PARTE III] EXPECTATIVAS PARA RÚSSIA 2018 = 14 DE JUNHO

História curiosa

Eraldo fala da confusão em que se envolveu com a polícia de Guadalajara, no México, durante a Copa de 1986.

Linha do tempo

Confira a lista das edições de Copa do Mundo em que o jornalista brasileiro Eraldo Leite foi convocado:

 

 

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Anderson Scardoelli

Jornalista "nativo digital" e especializado em SEO. Natural de São Caetano do Sul (SP) e criado em Sapopemba, distrito da zona lesta da capital paulista. Formado em jornalismo pela Universidade Nove de Julho (Uninove) e com especialização em jornalismo digital pela ESPM. Trabalhou de forma ininterrupta no Grupo Comunique-se durante 11 anos, período em que foi de estagiário de pesquisa a editor sênior. Em maio de 2020, deixou a empresa para ser repórter do site da Revista Oeste. Após dez meses fora, voltou ao Comunique-se como editor-chefe, cargo que ocupou até abril de 2022.

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