Preguiçosos? Antenados? Superprotegidos? Superpoderosos? Os Millennials são um pouco de tudo isso. E estão mudando o mundo
“Por que devo memorizar esses dados se posso consultá-los a qualquer momento via smartphone conectado à internet?” Esta talvez seja a melhor maneira de entender o que se passa pela cabeça de personagens que, a cada dia, ganham mais espaço na mídia, nas redes sociais e, principalmente, no budget das empresas pelo mundo afora: os Millennials.
Eles simplesmente não acreditam no conceito de tradição ou localização. São uma geração que não sabe o que é a vida sem a tecnologia digital. Também dão como certo que você pode colocar uma sala de jogos, uma biblioteca de pesquisa, um cinema e as páginas amarelas (alguém ainda se lembra delas?) do mundo inteiro em seu bolso.
E o pior, para quem não os entende, é que estão corretos. Porque são, de verdade, uma geração diferente de tudo o que já vimos em relação à sociedade de produção e de consumo que permeou os últimos três séculos. Afinal, no decorrer da história humana recente, os agricultores ficaram presos a seus campos e pastagens; os industriais, a suas fábricas; e os chamados “mad men”, a seus escritórios. Mas os Millennials não estão presos a absolutamente nada – ou melhor, apenas a seus devices conectados à torre de celular mais próxima ou a uma “wi-fi zone”.
E como a cobertura da rede celular e da internet vem se espalhando a ritmo frenético (nem tanto no Brasil, infelizmente) e os dispositivos móveis se tornam cada vez mais poderosos, as correntes estão se tornando menos e menos restritivas a cada dia.
Para quem ainda não entendeu, a Geração Millennial, também conhecida como Geração Y, é composta por aquelas pessoas que nasceram entre o começo dos anos 80 e o final dos anos 90 – e representa, atualmente, cerca de 20% da população mundial – no Brasil, são 55 milhões de pessoas, entre os 18 e os 34 anos de idade, segundo o IBGE. Ou seja, você tem, com certeza, muitos amigos nessa faixa etária e nem havia percebido suas idiossincrasias.
Para os Millennials, a web, por exemplo, é muito mais do que uma comodidade; trata-se de necessidade essencial. E os laptops, tablets e smarphones, em particular (eles são 100% familiarizados com dispositivos móveis e comunicação em tempo real), criaram condições para que se conectem uns com os outros como jamais ocorreu com nenhuma geração anterior. São considerados, portanto, a pedra (ou seria o chip?) fundamental das redes sociais.
Estudo recente do MindMiners sobre as razões de ser dos Millennials destaca algumas características inerentes à geração. Entre outras, eles são inclusivos, estão sempre dispostos a discutir e derrubar barreiras impostas pelo social. Seja pela facilidade em aprender ou por estarem mais acostumados à tecnologia e a executar diversas atividades ao mesmo tempo, tendem também a alcançar altos postos no mercado de trabalho mais rapidamente do que os profissionais de gerações passadas. Os gênios do Vale do Silício são apenas o exemplo mais fácil de se identificar.
Ao mesmo tempo em que adoram desafios e querem, sim, mais poder para mudar o mundo, a maioria é desapegada de bens de consumo caros a gerações passadas, como o carro e a televisão (embora esta tenha sido substituída por devices portáteis, que os acompanham onde quer que vão). Por isso mesmo, ainda segundo o MindMiners, os Millennials veem o mundo através de seu smartphone/tablet e da internet.
Já no âmbito profissional, os representantes da Geração Y querem ganhar bem e desenvolver uma carreira produtiva, mas prezam o equilíbrio do cotidiano no emprego com a vida pessoal. Buscam, também, atuar de forma empreendedora, visando reconhecimento, mas fazem isso com comunicação transparente, em real time e contextual – um grande avanço se levarmos em conta a capacidade que a dissimulação dentro das empresas tem de causar prejuízos em larga escala.
Mimimi. É, também, uma geração que tem sido acusada de ser preguiçosa, porque, segundo seus detratores, foi excessivamente mimada – como se houvesse outra forma de ser mimado. Mas, será mesmo? Quem leu A História do Homem que era Preguiçoso Demais para Fracassar, conto que faz parte do livro Amor Sem Limites(Time Enough For Love), de Robert Heinlein, sabe do que estamos falando. Segundo o célebre autor, “o progresso é feito por homens preguiçosos que procuram modos mais fáceis para fazer as coisas”. Tem ou não tem todo o sentido?
O ponto de partida para um Millennial é atingir seus objetivos, independentemente de como chegará a eles – e pode apostar que a maioria concluirá as tarefas de forma inédita, porque tem uma capacidade cognitiva muito mais acentuada. Essa geração tende a descobrir o resultado desejado e como obtê-lo em seus próprios termos. Por isso mesmo, nada mais natural do que serem os mais propensos a compras online de produtos e serviços, por exemplo – mercado que cresce exponencialmente em todas as faixas etárias, mas, principalmente, entre a Geração Y.
A mais recente pesquisa da Ipsos sobre o assunto, feita sob encomenda do PayPal, a gigante dos pagamentos eletrônicos, prova que a premissa é mesmo verdadeira. No Brasil, 70% dos Millennials fizeram compras online no ano passado – a média das outras faixas etárias não ultrapassa 67%.
Já quando o assunto são compras realizadas fora do Brasil, a Geração Y (que parece ter crescido com um mouse no lugar da chupeta) aumenta a vantagem: 58% dos entrevistados disseram comprar produtos e serviços em sites no exterior (a média das outras faixas etárias é 49%). E também garantiram usar mais o smartphone na hora de fazer negócios (16% contra 14%).
O uso de dispositivos móveis para fazer compras via internet, diga-se, é outro ponto que merece destaque. De acordo com estudo do e-Bit, os Millennials já respondem por mais de 10% de tudo o que é vendido online no País – mercado que, em 2016, segundo o Relatório Conversion, bateu os R$ 69 bilhões. Ou seja, pensar nessa fatia de consumidores é mais do que apenas inteligente, pode significar vida ou morte de qualquer negócio no curto prazo.
Do meu jeito. Só que se antecipar ao Millennial é tarefa ingrata, para dizer o mínimo. Isso porque ele pensa de maneira diferente da geração que o antecedeu e é mais consciente de sua força do que a Geração Z, que veio na sequência e ainda precisa de um tempo para se firmar neste mundo.
Levando-se em consideração suas atividades econômicas, o Millennial só admite comprar produtos e/ou serviços de empresas que geram impactos positivos na sociedade. Também prefere que o empresário trabalhe em prol da coletividade. Até por isso, faz parte de uma geração que mostra maior lealdade a líderes que colocam o propósito à frente do sucesso financeiro de seus negócios.
Quer um sintoma que reflete perfeitamente essa mudança de comportamento? O fato de que o home office vem aumentando muito no mundo inteiro. Para um Millennial, se a palavra de ordem é produtividade, então não há melhor lugar para se estar (e ser realmente produtivo) do que sua própria casa. Estudo da Home Office Brasil destaca que 68% das empresas brasileiras já praticam o chamado teletrabalho, em suas diferentes modalidades (home office, trabalho de campo etc.). Ainda é pouco se comparado a mercados mais maduros, como EUA e Canadá (85%), França e Alemanha (77%), mas parece tratar-se de tendência irrevogável.
Outro dado que precisa ser levado em consideração quando olhamos mais atentamente para a Geração Y vem de pesquisa da Accenture anunciada no começo deste ano: daqui a uma década, ela representará mais de 75% da força de trabalho no mundo inteiro. Ou seja, estará dando as cartas. E sabe bem o que quer.
Até porque cresceram vendo seus pais sacrificarem a vida pessoal para atingirem seus objetivos profissionais, os Millennials não estão nem um pouco dispostos a fazer o mesmo. Jogam online enquanto trabalham e trabalham enquanto atualizam suas redes sociais. São, talvez, a primeira geração realmente multitask da história. Os Millennials executam múltiplas tarefas e fazem malabarismos cotidianos. E esperam que seus empregos sejam tão flexíveis quanto.
Mais: comparados a outras faixas etárias, são os mais propensos a aceitar uma redução salarial (ao trocar de emprego, por exemplo), renunciar a uma promoção ou se realocar com o objetivo de manter vida pessoal e profissional 100% balanceadas. Ou seja, para atraí-los e mantê-los felizes, as empresas têm de deixá-los o mais à vontade possível. E isso, convenhamos, não é coisa simples – até porque o conceito de “à vontade” é bastante flexível, principalmente para essa geração.
Outro ponto fundamental para entender as razões de ser dos Millennials diz respeito à relação que eles têm com a empresa onde trabalham e com as que cercam seu cotidiano. Para se ter ideia do que estamos falando, pesquisa da Deloitte (The Millennial Survey 2016) conclui que as empresas precisam mudar, urgentemente, a forma de conquistar a lealdade de seus jovens profissionais ou correm sério risco de perder grande parte de seus futuros líderes. Cerca de 44% dos Millennials entrevistados pela Deloitte esperam deixar as organizações onde trabalham atualmente até 2018. E o número cresce para 66% quando o período é ampliado para 2020.
Por tudo isso (e muito mais), essa geração, que veio depois dos baby-boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e da Geração X (de nascidos entre 1967 e 1977), é considerada a mais influenciadora de outras faixas etárias – tanto um pouco mais novas quanto um pouco mais velhas.
Segundo o estudo da Accenture, os Millennials têm um forte senso de responsabilidade social e um desejo genuíno de contribuir para a sociedade. A pesquisa também observou que somente 15% dos recém-formados estão à procura de emprego em grandes empresas; a maioria garante preferir um emprego em um ambiente que considere mais desafiador e relacionado às suas expectativas e valores. Essa geração tem uma forte convicção de que pode, mesmo, melhorar o mundo.
Decifra-me. Os Millennials são, também, inquietos – estão sempre em busca de novidades e nunca se acomodam ou defendem causas e marcas se não se sentirem totalmente representados por elas. Segundo uma pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA/USP), 99% desses jovens dizem que só se mantêm envolvidos em atividades das quais gostam, e 96% deles encaram o trabalho como uma ferramenta de realização pessoal – não mais uma necessidade ou obrigação.
Essa inquietude se reflete também no mercado de trabalho: 56% dos profissionais dessa geração querem ser promovidos em um ano. Pode parecer uma incoerência com o que veio pouco acima, porém, a explicação para isso é bem a cara dos Millennials. Eles querem ter renda suficiente para poder priorizar experiências em vez de compras materiais: 72,9% dizem que seu maior sonho é viajar e conhecer outras culturas ao redor do mundo; 43% esperam ganhar o suficiente para ter uma vida confortável; menos de 10% declaram querer enriquecer; e os outros 43% esperam poder bancar pequenos luxos em seus futuros.
Uma geração tão plural quanto a Y, com enorme acesso a informações sobre tudo – e praticamente em qualquer lugar –, não é tão fácil de ser convencida por discursos e anúncios. Os Millennials são exigentes e estão sempre atentos: para eles, uma compra não representa apenas uma compra. Significa, principalmente, valores éticos que querem passar para seu círculo pessoal, dentro e fora das redes sociais.
De acordo com dados da Edelman, 7 entre cada 10 integrantes dessa geração se dizem leais às marcas que admiram, e a grande maioria (97%) também afirma não gostar de atitudes de produtos e serviços que sejam consideradas antiéticas. Ou seja: para se tornarem relevantes à Geração Y, as marcas (e, por conseguinte, as celebridades) precisam trazer consigo um discurso com posicionamentos claros sobre assuntos tão díspares quanto sustentabilidade, racismo e homofobia.
O maior problema para quem não faz parte da Geração Millennial é que ela “sabe de tudo”. Ou, pelo menos, sabe instintivamente onde procurar, o que desafia o aprendizado tradicional. “Saber de tudo”, portanto, tem aqui uma outra leitura: significa, simplesmente, ter acesso. E de acesso, é preciso concordar, esse pessoal… sabe mesmo tudo.
*Artigo publicado originalmente na revista Setin.
Daniel Japiassu. Profissional com pós-graduação em Jornalismo Econômico e especialização em Relações Internacionais. Experiência em jornalismo cultural e canais de Internet.
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