Nos últimos dias, quatro casos de intimidações, ameaças e agressões contra jornalistas foram registrados pelo Brasil. Entre as ações, que chamaram a atenção do público e de entidades de classe, dois prefeitos estão envolvidos.
A semana de violência contra jornalistas começou no domingo, 9, tendo Leandro Demori como alvo. O editor-executivo do site The Intercept Brasil foi ameaçado por um homem enquanto caminhava pelas ruas de Balneário Camboriú (SC) ao lado da esposa e do filho. “Te liga que a vida do teu filho depende de ti”, teria dito o intimidador, registra o site da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Sob ameaça, Demori registrou boletim de ocorrência. De acordo com a Abraji, que acompanha o caso e cobra apuração com “rigor e rapidez”, o homem já foi identificado pela Polícia Militar de Santa Catarina. O delegado Davi Queiroz instaurou inquérito e está coordenando as investigações.
Um dia após o caso envolvendo Demori, ato de violência contra comunicadores foi protagonizado por membro do poder público. Integrante do mesmo partido do ex-juiz Sergio Moro, o prefeito de Formosa (GO), Gustavo Marques (Podemos), tentou impedir que a repórter Aline Tavares e o cinegrafista Jefferson Marcelo, ambos da For Up 92, registrassem o desabamento da estrutura de uma das pontes da cidade. O político chegou a partir para cima da dupla de jornalistas — e trecho desse momento foi devidamente registrado e divulgado no YouTube.
Na manhã de quinta-feira, 14, a região metropolitana de São Paulo foi palco de ação contra profissional da imprensa. Durante um link (participação ao vivo) para o ‘Primeiro Impacto’, do SBT, a repórter Melina Saad foi agredida por um homem envolvido em acidente automobilístico em Diadema (SP). A jornalista estava no local justamente para levar ao público informações sobre a colisão. Aos berros, o agressor saiu de seu carro, xingou a comunicadora, tirou o microfone da mão dela, derrubou o equipamento no chão e começou a pisoteá-lo — momento em que a reportagem saiu do ar.
Melina Saad não ficou sozinha na lista de alvos de ataques na quinta-feira. O prefeito de Bagé (RS), Divaldo Pereira Lara (PTB), divulgou nas redes sociais vídeo em que revelou a identidade visual de Giovani Grizotti. Conhecido por ser o “repórter sem rosto” da RBS TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Sul, justamente para manter a sua identidade sob sigilo diante do premiado trabalho investigativo que realiza há mais de uma década, o jornalista ganhou o apoio e a solidariedade da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors).
Uma imprensa livre e ativa garante a informação e o desenvolvimento da sociedade. Não existe democracia sem jornalismo
“Assim, o Sindjors e a Fenaj repudiam a atitude do prefeito Divaldo Pereira Lara, no referido vídeo, porquanto ataca um jornalista no seu direito ao livre exercício da profissão, ao de proteção à vida, dele e de sua família”, reclamam as duas entidades em nota conjunta. “Ao fazê-lo, também ataca a liberdade de imprensa, tão necessária à democracia e garantida na Constituição Federal de 1988. Uma imprensa livre e ativa garante a informação e o desenvolvimento da sociedade. Não existe democracia sem jornalismo”.
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