Ela é uma das áreas que mais empregam jornalistas (pesquisa de 2012, realizada pela Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj, mostra que 40% dos jornalistas do país atuam em atividades de assessoria de imprensa; ou pelo menos atuavam na época do estudo) e, mesmo assim, continua sendo demonizada e/ou rejeitada.
Os argumentos dos “anti” são variados, sendo o principal o de que assessoria de imprensa não é jornalismo, pois o assessor “tem que falar bem” ou “esconder os podres do assessorado”.
Então, ‘tá’. Vamos começar questionando a tese-base. E já adiando aqui que essa não é uma defesa feita por alguém que nunca trabalhou em redação (antes de atuar em assessoria, fui repórter de diversos veículos, tanto da grande imprensa como da imprensa segmentada).
Em primeiro lugar, o assessor de imprensa que exerce com seriedade e profissionalismo o seu trabalho (e, acredite, existem milhares) não “fala bem” ou “esconde podres”. Pelo contrário. Tenta, sim, destacar ações/produtos/ideias do assessorado na imprensa, mas desde que essa ação, produto ou ideia tenha um link com o “interesse público”, algo que vá prestar um serviço à sociedade ou, ao menos, à parte dela. O press-release (texto utilizado pelo assessor para fazer essa divulgação) é escrito respeitando a linguagem jornalística, sem adjetivos e elogios, e traz informações precisas e apuradas, que comprovam a importância do que está sendo divulgado.
Já os “podres” são trabalhados, pelo bom assessor, de forma transparente (e não varridos para debaixo do tapete), por meio de um plano estratégico de gestão de crise. Os erros são admitidos e ações são tomadas para mostrar o que está sendo feito para amenizar os problemas daquela situação, e para evitar que ela volte a acontecer.
Agora, já que os “antis” insistem, vamos devolver a bola para eles: o jornalista nunca vai precisar “falar bem de alguém” ou “esconder podres” de empresas ou determinados políticos em uma redação?
Ah, por favor! Não vamos ser hipócritas. Todo mundo que já passou por uma redação sabe que a resposta é “sim”. Os veículos jornalísticos, ainda que não admitam, possuem uma política editorial muitas vezes alinhada com determinados grupos políticos e econômicos, e distorções, no processo de produção da notícia, com vieses favoráveis ou desfavoráveis à determinada organização ou personagem, acontecem a todo momento.
Portanto, se existem alguns “maus assessores”, que fazem textos cheios de elogios gratuitos ao cliente e escondem fatos negativos, existem também editores e repórteres que, para agradar suas chefias, se prestam ao papel de ocultar (deixar de investigar) algo negativo ligado a determinado político ou anunciante. E existem jornalistas que são pressionados a fazer isso, sentindo-se feridos e acuados, num ambiente bastante pesado, que passa bem longe de ser considerado “jornalismo de verdade”.
E já que é para falar de ética, o que dizer de repórteres que copiam, na maior cara de pau, o release do assessor de imprensa na íntegra, assinando-o como se fosse uma matéria dele? Isso acontece, infelizmente. Nem todo o jornalista usa o press-release apenas como ponto de partida para um trabalho de apuração e checagem.
E as reportagens ancoradas apenas em uma fonte, que são verdadeiras “propagandas” para a empresa ou profissional que foi entrevistado?
Por essas e outras, nessa coluna que é direcionada aos focas, convido todos que ainda nutrem preconceitos sobre a atividade de assessoria a reavaliarem suas posições. Principalmente o estudante de jornalismo que busca o desejado estágio. Você, caro aluno, precisa estar aberto a toda sorte de oportunidade. Nada de ficar escolhendo vaga, numa fase em que toda experiência é bem-vinda.
E, acredite, a área de assessoria de imprensa vai lhe proporcionar muitas habilidades que serão essenciais, até para você trabalhar depois em uma redação. Com o tempo, você conhecerá o perfil dos colegas que estão nos veículos; o que vira notícia e o que não vira; vai saber escrever sobre diferentes temas (em uma assessoria você pode pegar clientes variados, com business bastante específicos); e ganhará muito jogo de cintura para lidar com pessoas de diversos estilos (se exercita muito, em assessoria, o ‘relacionamento”), o que será bom para suas futuras entrevistas como repórter.
Isso sem contar que é um ramo da atividade jornalística que costuma pagar melhor que a redação, e que oferece um pouco mais de tranquilidade ao jornalista, já que, com exceção de dias em que se tem um evento do cliente à noite ou no final de semana, existe hora certa para entrar e para sair.
Sou uma apaixonada pelo jornalismo e, tendo atuado nos dois lados do balcão (assessoria e redação), sempre defenderei as duas atividades. O importante é trabalhar com profissionalismo e amor pela profissão. Aquela vaga de assessoria de imprensa que você AINDA não respeita poderá te oferecer gratas surpresas.
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