Depois da guinada extremamente conservadora com Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, a revista Veja dá sinais de mudança editorial? Seria a gestão André Petry? Seria uma consequência da situação do governo Temer? E o PSDB, como fica nisso?
Neste começo do mês de abril, não se fala de outro assunto no meio político. Depois de defender o senador tucano Aécio Neves em 2010 e em 2014, a revista Veja o “jogou aos leões”. Na capa “A vez de Aécio”, uma reportagem de Renato Onofre diz que o ex-presidenciável do PSDB recebeu propina numa conta de Nova York atribuída a sua irmã, Andrea Neves. Ela seria a operadora do esquema, assim como é acusada de operar no escândalo da Lista de Furnas.
Aécio diz que a revista é “mentirosa”. Andrea gravou um vídeo chorando e afirmando ser inocente. A paulada da Veja em um dos principais quadros do PSDB é inédita, mas não é a primeira.
Em novembro de 2016, quando a delação da Odebrecht começou a dar sinais de surgir diante da Operação Lava Jato, a revista deu capa para as denúncias envolvendo Michel Temer, Geddel Vieira, Eliseu Padilha e Moreira Franco, os nomes fortes do governo que deu o golpe em Dilma. Nas duas chamadas superiores, mais duas pauladas em Geraldo Alckmin e José Serra. PMDB e PSDB não foram poupados. “Como a Odebrecht operava a propina de Serra na Suíça” e “O ‘santo’ nas planilhas da empreiteira é ele mesmo: Alckmin” foram duas manchetes que marcaram uma mudança de posicionamento da publicação.
No entanto, em março de 2017, a revista apostou em suas reportagens que as denúncias da Odebrecht vão atingir tanto Dilma quanto Temer. Numa outra capa, de dezembro de 2016, Veja bajula a primeira-dama Marcela Temer, apontando-a como “a aposta do governo” de seu marido.
A Veja é um instrumento de política e não esconde isso, muito além do jornalismo factual.
Nasceu em 1968 nas mãos de Mino Carta e Roberto Civita. Sua inspiração era a revista Time norte-americana, uma das referências na educação de Roberto. Com a esquerdização de Mino e a morte de Vladimir Herzog, o antigo líder se demitiu da equipe e Roberto Civita cresceu em poder. A revista, no entanto, estava quebrada nos primeiros anos.
Roberto colocou José Roberto Guzzo e Elio Gaspari, uma dupla que subiu a tiragem da publicação de 100 mil para praticamente um milhão de exemplares. Mario Sergio Conti, nos anos 90, subiu ainda mais as vendas e contribuiu para a queda do governo Fernando Collor. A participação no episódio político fez Roberto Civita se envolver profundamente com a política nacional, sobretudo próximo a Fernando Henrique Cardoso e fazendo oposição aos petistas.
O diretor de redação Tales Alvarenga deu ares de autoajuda para a revista e deu as bases do antipetismo que seriam desenvolvidas por seu sucessor, Eurípedes Alcântara, que promoveu uma verdadeira caçada editorial a Lula e ao PT. Roberto Civita, o chefe deles, morreu em 2013.
O conservador Eurípedes criou os colunistas Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo. Dado o impeachment de Dilma, foi substituído em 24 de fevereiro de 2016 por André Petry, que é um jornalista mais centrista. Na época de Lula, Petry foi um dos que defendeu “voto nulo” em uma de suas colunas políticas.
No início da gestão, o diretor seguiu a linha de Eurípedes Alcântara. Mas isso foi mudando aos poucos. Uma pesquisa interna da editora Abril apontou que Veja, sua revista mais importante, só atrai leitores “velhos e reacionários“.
Publicamente, Reinaldo Azevedo está tentando se soltar de leitores que louvam defensores da ditadura militar, como Jair Bolsonaro.
Ao que tudo indica, Veja está mudando para algo que era no passado. Sua mudança pode influenciar concorrentes que a copiam editorialmente, como ISTOÉ (que foi da esquerda para direita) e Época (que acentuou sua posição direitista).
Mas será que irá mesmo pra centro-direita?
A ver.
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