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Vereador é suspeito de ser mandante do assassinato de radialista

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Jairo de Sousa foi assassinado em junho na cidade de Bragança, no Pará. Detido pela polícia, vereador do PR é suspeito de ser mandante do crime. Caso envolvendo a morte do radialista é investigada de perto pela Abraji

O vereador Cesar Monteiro (PR), 45 anos, é suspeito de ter contratado um grupo para matar o radialista Jairo de Sousa, 43 anos. O comunicador foi assassinado na madrugada de 21 de junho, na cidade de Bragança, no Pará. Monteiro se apresentou em 20 de novembro na Divisão de Homicídios em Belém, após ter tido sua prisão temporária decretada durante a Operação Pérola, deflagrada quatro dias antes. Os delegados Dauriedson Bentes da Silva e Eduardo Rollo, responsáveis pelo caso, tomaram o depoimento do vereador. Até agora, a polícia prendeu oito pessoas; uma ainda está foragida.

No último sábado, 17, o vereador deu uma entrevista ao radialista Gerson Peres Filho, da Pérola FM, onde Jairo de Sousa trabalhava. Ele negou envolvimento com o crime e disse temer por sua vida. “Muita coisa aconteceu até agora. E eu começo a fazer uma reflexão para colaborar com a justiça”, afirmou.

As investigações apontam para a motivação do crime como uma forma de impedir as denúncias diárias apresentadas no programa de Jairo de Sousa contra a administração pública daquela cidade e de outros municípios vizinhos.

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A morte do radialista é o segundo caso investigado pela equipe da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) dentro do Programa Tim Lopes. O primeiro foi o de Jefferson Pureza, 39 anos, em Edealina, no interior de Goiás. O comunicador foi executado com três tiros na cabeça enquanto descansava na varanda de sua casa, em 17 de janeiro de 2018. Seis pessoas estão detidas.

Programa investigativo

O Programa Tim Lopes foi desenvolvido pela Abraji, com o apoio da Open Society Foundations, para combater a violência contra jornalistas e a impunidade dos responsáveis. Em caso de crimes ligados ao exercício da profissão, uma rede de veículos da mídia tradicional e independente é acionada para acompanhar as investigações e publicar reportagens sobre as denúncias em que o jornalista trabalhava até ser morto. Integram a rede hoje: Agência Pública, Correio (BA), O Globo, Poder 360, Ponte Jornalismo, Projeto Colabora, TV Aratu, TV Globo e Veja.

O grupo suspeito de assassinar Jairo de Sousa, de Bragança,  é investigado por atuar no interior do Pará com pistolagem, morte por encomenda. As investigações indicam que o vereador teria negociado o assassinato do radialista com José Roberto Costa de Sousa, 48 anos, conhecido como Calar. Ele é apontado como chefe do grupo e preso neste mês em Castanhal (PA). Em 15 de novembro, os policiais localizaram Dione Sousa Almeida, 29 anos, acusado de atirar no radialista, em uma casa na cidade de Cachoeira de Piriá, também no Pará.

No dia 16 de novembro, foi deflagrada a Operação Pérola – alusão ao programa de rádio ‘Show da Pérola’, apresentado por Jairo de Sousa. Foram nove pedidos de prisões temporárias e quatro mandados de busca e apreensão. Sob a coordenação da Divisão de Homicídios, mais de 50 policiais participaram das buscas que tiveram apoio da Divisão de Repressão do Crime Organizado, da Superintendência da Região do Caeté e da Polícia Civil de Bragança. O vereador Cesar Monteiro escapou de ser preso por ter ido a uma festa e dormido fora de casa.

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Jairo de Sousa foi assassinado dentro das dependências da rádio em que trabalhava (Imagem: reprodução/Abraji)

Ações da polícia

Segundo o delegado Dauriedson Bentes da Silva, foram transferidos para Belém Jadson Guilherme Reis de Sousa, 22 anos, filho de José Roberto Costa de Sousa; Octacílio Antonio da Silva, 53 anos; Moisaniel Sousa da Silva, 50 anos, que seria o armeiro do grupo; e Jedson Miranda da Silva, 22 anos, filho de Moisaniel. O sétimo acusado, Edvaldo Meireles da Silva, já estava preso respondendo por outro homicídio. Madson de Melo ainda está foragido.

Na noite de 16 de novembro, a pouco mais de 10 quilômetros de Bragança, algumas pessoas da comunidade de Parada Bom Jesus, incendiaram o carro e a casa onde morava Octacílio, um dos presos na operação. De acordo com policiais, o incêndio teria sido provocado por dois homens não identificados que estavam em uma moto.

O crime

Segundo a investigação, depois de ter sido contratado pelo vereador, o grupo organizou duas emboscadas para surpreender o radialista. Jairo de Sousa frequentemente saía da rádio às 9h e seguia para a localidade de Montenegro, onde almoçava com a ex-mulher Cristina de Sousa e seus filhos. O grupo organizou a tocaia naquele local, durante duas noites, entre 20h e 5h. Sem sucesso e desconhecendo o endereço do radialista em Bragança, onde vivia com sua mulher à época, os bandidos resolveram praticar o crime quando ele estivesse chegando à rádio, no centro da cidade.

O grupo usou dois carros no dia do assassinato. Jairo de Sousa foi morto com dois tiros, quando subia a escada que dava acesso à rádio. Há 12 anos, usava colete à prova de balas devido às ameaças recebidas ao longo da carreira, em emissoras de municípios vizinhos e em Bragança. Naquela madrugada, estava sem o colete.

Durante a Operação Pérola, foram apreendidos documentos nas sedes das empresas Terra Forte Terraplanagem e Terra Forte Construção e Serviço, que pertencem a Yann Victor Monteiro Leite e Odivaldo de Lima Leite Filho, conhecido como Dinho. Os dois são sobrinhos do vereador Cesar Monteiro.

Outro caso

Em Edealina, no caso do assassinato de Jefferson Pureza, o vereador José Eduardo Alves da Silva (PR), acusado de ser o mandante, e outros dois homens que participaram da negociação do crime, aguardam julgamento. Três menores cumprem medidas socioeducativas: um atirou, o outro pilotou a moto e o terceiro recrutou os demais para a realização do crime, que custou R$ 5 mil mais um revólver 38.

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Por Angelina Nunes.

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Abraji

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Criada em 2002 por um grupo de jornalistas brasileiros interessados em trocar experiências, informações e dicas sobre reportagem, principalmente sobre reportagens investigativas. É mantida pelos próprios jornalistas e não tem fins lucrativos.

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