Atibaia, SP 5/10/2021 – A relação entre o aumento de consorciados ativos e a redução na inadimplência nos seis últimos anos evidenciou a mudança de postura dos interessados
Apesar das consequências provocadas pela pandemia, índice cai 32% de 2015 para 2020
Próximo a completar 60 anos, o sistema de consórcios vem apresentando gradativo decréscimo no índice de inadimplência de 2015 até o ano passado.
Em contrapartida, neste período houve crescimento de 9,2% no total de participantes ativos, saltando de 7,17 milhões, no final de 2015, para 7,83 milhões, em dezembro de 2020.
“A relação entre o aumento de consorciados ativos e a redução na inadimplência nos seis últimos anos evidenciou a mudança de postura dos interessados em adquirirem bens ou serviços de forma planejada e pelo consórcio”, diz Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC – Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios.
Na recente divulgação feita no Panorama do Sistema de Consórcios, publicado pelo Banco Central do Brasil, observaram-se resultados animadores por parte das administradoras. “Ao analisar o período de 2015 a 2020, verificou-se tendência de queda persistente do indicador”, comenta Luiz Antonio Barbagallo, economista da ABAC.
Os números da inadimplência, considerando os valores não pagos pelos consorciados contemplados há mais de 90 dias e menos de um ano, reduziram-se de 3,74%, em 2015, para 2,54%, em 2020, anotando queda de 32,1% no índice.
Paralelamente, os da pré-inadimplência, incluindo valores em atraso pelos consorciados contemplados há no máximo 90 dias, a retração foi de 5,10%, em 2015, para 3,11%, em 2020, isto é, 39% menos.
“Embora o índice de inadimplência, ou seja, ação ou efeito de não cumprir um compromisso, tenha tido pequena elevação no ano passado com relação ao anterior, 2019, o da pré-inadimplência recuou”, diz Barbagallo, “o que mostrou a tendência de queda futura na inadimplência”, complementa.
Em levantamento feito sobre as razões que levam as pessoas a ficarem inadimplentes, verificou-se que a maior causa está no desemprego, uma situação que obriga o consumidor a mudar seu comportamento, priorizando certas despesas em detrimento de outras. O agravamento da inflação com a consequente redução do rendimento mensal do trabalhador, que reduz seu poder de compra, também é um fator que contribui para o aumento da inadimplência.
Outra situação que contribui para a ampliação do total de inadimplentes está na ausência de conhecimento sobre educação financeira. “Este motivo, comum tanto em períodos de crescimento quanto em períodos de recessão da economia, determina a falta de critério por parte do consumidor e o leva, em muitas oportunidades, ao superendividamento e ao consequente descontrole das finanças”, explica o economista.
Como continuidade, o desconhecimento da essência da educação financeira pode ser mais um motivo gerador de inadimplência: ausência de planejamento financeiro. “Não se planejar é não definir objetivos claros para uma boa saúde financeira, pessoal ou familiar, e, quando não sabemos onde queremos chegar, a possibilidade de se perder é muito grande”, esclarece Barbagallo.
Por vezes, a facilidade na obtenção de crédito torna-se mais um agravante para aumento dos inadimplentes. “Existem várias opções de linhas de crédito disponíveis no mercado e a tentação de parcelar desejos imediatos pode ser uma armadilha com custos elevados”, diz o economista.
A inadimplência e o PIB
Em termos macroeconômicos, há uma estreita relação da inadimplência com o PIB. Recessões econômicas trazem a reboque todas as consequências já conhecidas, sendo que alguns setores são mais afetados do que outros, mas, de forma geral, todos são atingidos. Para o sistema de consórcios não tem sido diferente. “Ao analisar a evolução do PIB e da inadimplência geral de 2010 a 2020, que é calculada entre todos os consorciados contemplados ativos e não somente para aqueles em débito há até 1 ano, constata-se essa estreita relação”, adianta Barbagallo.
A relação entre PIB e inadimplência no período de 2010 a 2019 leva a uma correlação negativa de – 70%, reafirmando que índices de inadimplência são influenciados pelo desempenho da economia.
Nos anos de 2015 e 2016, essa relação ficou mais evidente, como confirmam os indicadores de PIB negativo, -3,5% em ambos, e a inadimplência saindo de 5,03%, em 2014, para 6,42%, em 2015, e para 7,09%, em 2016. “O fato curioso é que o ano de 2020 fugiu à regra, pois a inadimplência caiu mesmo com o PIB registrando queda de 4,58%, quando deveria subir”, diz Barbagallo. “Se incluirmos esse ano no cálculo, o percentual de correlação se modificará para -46%, o que claramente mostra a contaminação do cálculo pela relação atípica dos indicadores em 2020”, conclui.
Com a pandemia vivenciada no ano passado, surgiram várias decorrências. A principal foi o impacto inicial, amortecido pela rápida recuperação do sistema de consórcios nos meses seguintes. “Vale destacar também, como apontado no relatório do Banco Central, a contribuição dos esforços das administradoras em suas campanhas de renegociação, parcelamentos e recebimentos futuros”, justifica o economista. “Some-se as parcerias com seguradoras e as fundamentais flexibilizações permitidas pela Circular do Banco Central 4.009, de 2020”, aponta.
Outros fatores, que também colaboraram na recuperação, foram, primeiro, o auxílio emergencial, um benefício para garantir uma renda mínima aos brasileiros em situação mais vulnerável durante a pandemia de Covid-19, distribuído pelo governo. Houve também o aquecimento de setores ligados ao agronegócio, com inclusão do transporte rodoviário de carga com os veículos pesados e pelas máquinas e implementos destinados à agricultura. Outro importante setor foi o dos serviços de entregas, realizados com o delivery, feito especialmente por motociclistas.
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