A decisão adotada pelo SBT desde o Dia da Criança, em colocar o garoto Dudu Camargo, de 18 anos, na apresentação do ‘Primeiro Impacto’ pode ser vista como atitude que “despreza jornalistas”. Ao menos essa é a visão do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Em texto assinado por José Augusto Camargo, profissional que integra a diretoria das duas entidades, criticas foram disparadas à emissora controlada pelo empresário e animador Silvio Santos.
Na nota oficial, as instituições endossam o fato de o novo âncora do telejornal matinal ser conhecido como o “Homem do Saco” do programa ‘Fofocando’, também do SBT. A questão de o jovem nem ao menos estudar comunicação social serviu para as entidades pontuarem que isso legalmente não é problema, uma vez que em 2009 o Supremo Federal Tribunal (STF) tirou a obrigatoriedade do diploma de graduação em jornalismo para o exercício da profissão no país. “Tal decisão abriu virtualmente as portas da profissão para qualquer pessoa”, afirma o sindicalista também conhecido como Guto.
A Fenaj e o SJSP afirmam que receberam inúmeros contatos de colegas que se mostraram “indignados” desde que Dudu Camargo foi definido como o titular do ‘Primeiro Impacto’, ocupando os lugares das jornalistas Joyce Ribeiro e Karyn Bravo – que de acordo com a direção do veículo de comunicação continuam na casa, aptas a participarem de reportagens especiais da escala dos demais noticiários. “O que torna esta alteração ainda mais desastrosa para a profissão é que ela comprova, mais uma vez, que o jornalismo é visto como uma atividade marginal na emissora do sr. Sílvio Santos”, reclamam em conjunto as entidades.
“Tratar o jornalismo como entretenimento e não informação criteriosa é um desserviço ao cidadão, um ataque à qualidade da informação e, mesmo, uma afronta à Constituição que estabelece como princípios que os meios de comunicação devem zelar pela sua função social e dar ‘preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas’”, seguem com as críticas as instituições jornalísticas. As entidades garantem, ainda, que a situação prova o quanto é importante que os profissionais da área se unam para defender o setor e o mercado de trabalho.
Confira a íntegra da nota assinada por José Augusto Camargo, 1º vice-presidente da Fenaj e diretor do SJSP:
SBT mais uma vez despreza jornalistas
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, com o apoio da Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj, vem a público protestar contra a alteração ocorrida no telejornal Primeiro Impacto do SBT – Sistema Brasileiro de Televisão que afastou as jornalistas Karyn Bravo e Joyce Ribeiro.
No feriado de quarta-feira, 12 de outubro, quando também se comemorou o Dia da Criança, a direção do SBT afastou da bancada do telejornal as duas jornalistas e as substituiu por Eduardo Camargo.
O “âncora”, de apenas 18 anos, atuava no programa Fofocando interpretando a personagem ‘Homem do Saco”, um comentarista que não mostrava o rosto, o qual permanecia encoberto por um saco de papel. Em seu currículo também consta a participação na novela Revelação e no programa Domingo Legal, no quadro “Lendas Urbanas”.
Vários jornalistas procuraram o Sindicato manifestando sua indignação. O protesto não se dá apenas pelo fato de a direção substituir duas experientes profissionais por uma única pessoa, o que tem se mostrado uma política usual das emissoras, fato que vem precarizando cada vez mais a profissão.
Tampouco o protesto se deu pelo fato de o novo apresentador não ser jornalista profissional. Prática que se tornou possível uma vez que a decisão desastrosa do ministro do STF, Gilmar Mendes, considerou a necessidade de formação específica em jornalismo desnecessária para o exercício profissional. Tal decisão abriu virtualmente as portas da profissão para qualquer pessoa.
O que torna esta alteração ainda mais desastrosa para a profissão é que ela comprova, mais uma vez, que o jornalismo é visto como uma atividade marginal na emissora do sr. Sílvio Santos.
Tratar o jornalismo como entretenimento e não informação criteriosa é um desserviço ao cidadão, um ataque à qualidade da informação e, mesmo, uma afronta à Constituição que estabelece como princípios que os meios de comunicação devem zelar pela sua função social e dar “preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”.
As profissionais, que apresentavam o noticiário não foram demitidas, mas estão afastadas da função.
Casos como este demonstram o quanto é necessária a união dos jornalistas em defesa da profissão e da qualidade do trabalho jornalístico.
Escrito por: José Augusto Camargo