Em novo artigo para o Portal Comunique-se, Adalberto Piotto analisa como a relevação de documento da CIA sobre a ditadura foi tratada por jornalistas brasileiros
Dois fatos sobre a repercussão do documento da CIA acerca do governo Geisel que merecem atenção.
Um sobre parte do jornalismo brasileiro: basta um fato novo, independentemente se checada a veracidade deste, e automaticamente se transforma em prova inconteste se acaso atender à tese de vida do jornalista ativista em questão. Tomo o caso presente como exemplo, mas a esperteza e a prática são recorrentes.
O bom jornalismo requer parcimônia, checagem e uma boa dose de dúvida que normalmente revela interesses ocultos. Não foi o que fizeram muitos. A prova da CIA, não raro sempre de integridade questionada como agência acerca de assuntos da América Latina, é seletivamente apontada como inquestionável no momento.
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Parem as rotativas!
O segundo aspecto é que a ditadura militar e seus crimes de Estado, admitidos inclusive pelo presidente Geisel, de amplo e irrestrito conhecimento e repúdio entre os democratas – retirem-se os revolucionários de ditaduras de esquerda porque usam do mesmo expediente violento quando chegam ao poder – não podem abrir espaço para novas e injustas críticas generalizadas às Forças Armadas.
Elas são parte essencial deste país, feitas de homens e mulheres brasileiros que, como militares, cumprem seu papel constitucional de serviços à nação. Serviços incomparáveis, inestimáveis, inexoráveis à vida nacional e insubstituíveis.
Há instituições competentes neste país para apurar os fatos e separar os eventuais personagens e momentos sob quaisquer que sejam as conclusões das análises do documento.
Com isso, evitar-se-ão retrocessos da sociedade e arroubos de teses de um e de outro lado neste “nós contra eles” indigente que se tornou tudo neste país.