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Por que Tavolaro é um dos melhores nomes para liderar a CNN

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Douglas Tavolaro tem um mérito gigantesco. Se hoje o telespectador muda de canal para a Record quando algo está acontecendo a “culpa” é do Douglas. Em artigo, Rodrigo Hornhardt analisa o novo desafio do jornalista: liderar a implementação da CNN Brasil

Estive na CNN em Atlanta para um estágio de um mês em junho de 2015 e vi muita coisa que o jornalismo da Record já fazia no Brasil. Relatei detalhadamente o que vi e aprendi em dois textos:

jeff zucker - douglas tavolaro - cnn
(Imagem: divulgação)

Em síntese, quando Jeff Zucker assume a direção da CNN, vindo da NBC Universal e da Disney, com o desafio de colocá-la de volta no jogo da audiência, aposta em algumas estratégias:

  1. Predomínio do ao vivo. Os jornais com o resumo das notícias ficam em segundo plano . Apresentadores e repórteres ficam horas martelando o mesmo assunto e ouvindo uma infinidade de fontes com sides e ângulos sobre cada coisa
  2. A CNN tem que estar no local antes de todo mundo com sinal e repórter ao vivo quando algo acontece
  3. São escolhidos de quatro a cinco assuntos diariamente. Podem ser novos ou continuações de cobertura. São escolhidos a partir do retorno de audiência, principalmente através das métricas online. A programação da CNN doméstica basicamente se reveza nesses quatro ou cinco assuntos. O telespectador não fica o dia todo na frente da tela. Mas com certeza, o tempo que ele ficar na CNN lhe dará assunto pra conversar sobre o que todo mundo está comentando…
  4. Há espaço para a grande reportagem e para a reportagem investigativa. Os jornais acabam sendo o espaço para o “lançamento” desse material premium. Os repórteres são desestimulados a fazerem passagens — standups. É valorizada a passagem em movimento, com sentido, mostrando detalhes do local e da cena em que o repórter está. Ele tem que ser uma testemunha. Tentei explicar aos colegas jornalistas da CNN que no Brasil chamamos isso de “Vem comigo…” — a tradução ficou no mínimo esquisita — “Come with me!”

Quando me deparei com esses pontos, me perguntei se Zucker tinha visto a Record…

Douglas Tavolaro tem um mérito gigantesco de transformar essa TV. Se hoje, o telespectador muda de canal para a Record quando algo está acontecendo a “culpa” é do Douglas. Esse é um ativo que não tem preço. Com ele, o jornalismo ganhou prioridade absoluta na programação. Trabalhei na cobertura do acidente da estação Pinheiros em 2007. Foram horas e horas de jornalismo ao vivo. Sujeito a erros? Sim… Mas se corrigindo no ar, com a cultura do instantâneo. Algo próximo a internet : errou, corrige.

douglas tavolaro - cnn
(Imagem: divulgação)

Outro grande mérito, a Record passou a investir na grande reportagem e na investigação. São inúmeros núcleos de reportagem pra abastecer semanalmente as séries do Jornal da Record, a Grande Reportagem do Domingo Espetacular e a programas como o Câmera Record e o Repórter Record. São dezenas de produtores, repórteres e editores com salários acima da média do mercado. Os orçamentos de produção sempre foram muito bons. Se a história for boa, sinal verde pra viagens e dias de investimento…Isso se traduziu em inúmeros prêmios Esso, Embratel, Herzog etc.

Outro paradigma que Douglas quebrou — jornalismo dá audiência. Por vezes, ou na maior parte das vezes, há um exagero em surrar determinados assuntos? Sim, há. Mas o público parece querer isso.

“Outro grande mérito, a Record passou a investir na grande reportagem e na investigação”

Tradicionalmente, o produto jornalístico aparecia na programação televisiva para dar credibilidade , tendo que ser ensanduichado por dois produtos de alta audiência para não derrubar a grade. Ele já era visto como sucesso se conseguisse entregar para o próximo produto com a mesma audiência que recebeu …

Na história do telejornalismo brasileiro, podemos citar o “Aqui Agora” do SBT como exemplo na direção contrária ao que descrevi no parágrafo anterior. Hoje, o “Balanço Geral” e o “Cidade Alerta” atingem constantemente o primeiro lugar .

Quantas “meninas Vitórias” ficamos conhecendo pela Record? Esses casos reais viram novelas. São explorados a exaustão.

Espetáculo da realidade? Sensacionalismo? Sim, mas o crime é notícia.

O público tem interesse mórbido e a Record só está explorando isso? Talvez, mas acho que a questão é um bocado mais complexa. Uma vez, o Renato Meirelles (ex-Datapopular e atual Instituto Locomotiva) me disse que grande parte do interesse do público nesse tipo de assunto é a necessidade de aprender para prevenir. Como evitar que minha filha/neta/sobrinha tenha o mesmo destino que a menina Vitória…

No período em que estive na CNN , não vi a cobertura de um caso exatamente igual aos que a Record costuma explorar. Acompanhei a que ficou conhecida como New York Manhunt — uma caçada a dois assassinos que fugiram de um presídio de segurança máxima em New York . Horas a fio de repórter em beira de estrada acompanhando buscas… especialistas mil tentando falar sobre como localizar pessoas no meio da mata — até mesmo um caçador foi chamado pra dar seus pitacos…

Essa exploração de quatro/cinco assuntos que a CNN faz durante um dia é sensacionalismo? Talvez. Mas o fato é que isso ajudou um bocado na recuperação da audiência…

Os Estados Unidos vivem o período que está sendo denominado de Trump Bump na indústria da informação. New York Times, Washington Post e a própria CNN ganharam assinantes interessados no que o presidente Trump vem xingando de Fake News…

Aqui no Brasil o interesse na política (que atualmente praticamente se cobre como editoria de polícia) também vem bombando a audiência da Globonews e de portais. As peripécias iniciais do governo Bolsonaro elevam bastante a audiência no realtime dos telejornais.

Nesse contexto, surge a CNN Brasil.

As primeiras notícias são animadoras:

  • 400 vagas para jornalistas em um mercado em extinção
  • Escritórios em São Paulo, Rio e Brasília, correspondentes dentro e fora do país
  • Operação de TV paga e multiplataforma
  • Dinheiro novo vindo de outro setor com um empresário que diz quer colaborar com a democracia…

A saída do Douglas Tavolaro da Record, onde ele tinha uma posição absolutamente confortável, é por si só um bom sinal. Vai ser um chacoalhão na indústria brasileira…

Agora, algumas questões estão em aberto. Como será a condução editorial de uma CNN no Brasil? Ela terá a mesma postura que a matriz em relação ao governo Trump?

O licenciamento que a CNN faz mundo afora estabelece o cumprimento de uma série de regras e procedimentos. Vamos assistir, na prática, o quanto isso é fiscalizado…

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Por Rodrigo Hornhardt, jornalista pós-graduado em jornalismo digital pela ESPM. Texto publicado originalmente na página do Virando Pauta no Medium.

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