“Especialistas nos assuntos do momento – inclusive na política e na Justiça – oferecem suas opiniões no Twitter e no Facebook. Diante desse cenário, para que serve a imprensa? O que ela pode oferecer de útil ao leitor? Ela ainda é verdadeiramente imprescindível a uma democracia? Por quê?”. Mesmo tendo esses questionamentos em mente, o jornalista Diego Escosteguy resolveu empreender no meio da informação online. Ciente de que a mídia profissional pode se tornar ainda mais útil ao público consumidor de notícia e ser vista como item precioso no jogo democrático, ele está à frente do Vortex Media. 100% online, o projeto tem estreia oficial programada para a próxima terça-feira, 8 de outubro.
Da data em diante, o veículo de comunicação digital, que nasce com 30 integrantes, promete se destacar com a produção focada em reportagens exclusivas e análises que irão além de meras opiniões, mas que ajudem a contextualizar os assuntos que estiverem em alta. E nem tudo será notícia no Vortex Media. O site terá como foco coberturas sobre política e Justiça. Para isso, o escritório foi montado em Brasília. Fato que fez profissionais se mudarem para a capital federal, caso do diretor de produto Leonardo Mendes Júnior, ex-número 1 do jornalismo da paranaense Gazeta do Povo.
Próximo dos bastidores do poder, Diego Escosteguy sinaliza que um dos diferenciais de sua criação será ter como base o relacionamento frequente — e sincero — com os leitores. Nesse desafio, ele contará com apoio da equipe. E justamente a formação do time inicial e as razões que levaram a fundação do projeto pautam a primeira parte da entrevista de Diego Escosteguy ao Portal Comunique-se.
Confira a entrevista com Diego Escosteguy, fundador e diretor-presidente do Vortex Media:
Como, quando e por que surgiu a ideia de criar um site de jornalismo voltado à cobertura política e a questões do Judiciário?
A ideia da plataforma nasceu em agosto de 2018, quando deixei a Infoglobo. Ela decorre de anos de estudos sobre dois eixos, ambos relacionados. Trata-se de perguntas fundamentais para as quais busco respostas há bastante tempo. O primeiro eixo é aparentemente óbvio, mas não deixa de ser difícil: o que é ou deve ser considerado jornalismo de interesse público num mundo ultraconectado, em que a imprensa perdeu o monopólio da fala e da distribuição de informações relevantes?
Hoje, como sabemos, autoridades, empresas e cidadãos podem se comunicar entre si e diretamente com o público, por meio, sobretudo, de redes sociais e plataformas como YouTube e WhatsApp. Isso contempla todo tipo de conteúdo, dos mais banais aos mais sérios – o que inclui fatos relevantes e de interesse público, como anúncios de políticas de governo, declarações de autoridades e informações gerais sobre ações dos três Poderes. Especialistas nos assuntos do momento – inclusive na política e na Justiça – oferecem suas opiniões no Twitter e no Facebook. Diante desse cenário, para que serve a imprensa? O que ela pode oferecer de útil ao leitor? Ela ainda é verdadeiramente imprescindível a uma democracia? Por quê?
O segundo eixo, da quebra do modelo de negócios da imprensa, vincula-se ao primeiro, do próprio significado e relevância do jornalismo. Leva à seguinte pergunta: é possível fazer jornalismo, de modo sustentável e independente, na era digital? Afinal, as perguntas acima não são meros exercícios filosóficos. Existem porque, simplificando um pouco, um número extraordinário de leitores, na maioria das democracias, deixou de pagar pelo jornalismo oferecido pela imprensa tradicional. A expressiva maioria dos que assinavam jornais ou revistas impressos abandonou esse hábito de leitura e, claro, deixou de pagar por isso.
Alguém pode falar: ah, mas nunca houve tantos leitores como agora. É uma meia verdade, que escamoteia a gravidade da crise da imprensa. Se você pegar apenas os números de visitantes únicos e de pageviews dos grandes veículos, parece que tudo vai bem. Tudo na casa dos milhões ou dezenas de milhões. São as métricas usadas para impressionar. O problema é que, por baixo, por baixo, 95% desses milhões são os “fly-bys“, pessoas que, em determinado período, passearam dez ou vinte segundos por uma matéria, entre dezenas ou centenas das produzidas. Quase todos não voltam.
Dito de outro modo: são poucos, raros mesmo, os leitores habituais, que entram com frequência nos sites dos veículos tradicionais. Por isso são ainda mais raros aqueles que, oras, aceitam pagar por esse jornalismo. Se eu não leio, por que vou pagar? Isso não é um problema do leitor. É um problema nosso, dos jornalistas. E não tem a ver somente com mudanças nos hábitos e no “attention span” das pessoas. Tem a ver, na minha avaliação e de muitos, com a qualidade do produto que vendemos. Se a larga maioria do jornalismo que se produz é ignorada, o que isso diz sobre o modelo atual de jornalismo?
Ressalto essa questão da pouca leitura e, portanto, da qualidade do que oferecemos, porque a explicação comum sobre a crise do jornalismo, embora contenha um forte componente de verdade, é conveniente para nós. Explico-me. É comum na nossa indústria atribuir todas as nossas agonias às grandes plataformas de tecnologia, em especial Facebook e Google. Afinal, o dinheiro da publicidade, que sustentava a indústria nos tempos do papel, com margens altíssimas, migrou velozmente, na era digital, para essas empresas. É verdade – creio que poucos discordam que esse fenômeno é um fator decisivo para a penúria dos veículos tradicionais.
Mas o peso que se costuma dar a esse fato e a dificuldade que tantos têm em buscar soluções decorrem do modelo que nos sustentava – de uma mentalidade que persiste e nos impede de encontrar soluções substantivas para o jornalismo. Quase todos estavam no negócio de vender anúncio, não no negócio de vender jornalismo. Isso se refletia, ainda se reflete em muitos casos, na organização, na cultura e no perfil dos executivos de alguns do veículos tradicionais. Como não esperar mais do mesmo?
O Vortex nasce como uma das possíveis soluções para esses problemas. Acreditamos que é possível fazer jornalismo de modo sustentável e independente. Acreditamos que o jornalismo não é apenas possível na era digital; ele é necessário. Nosso jornalismo pretende ser útil e imprescindível ao leitor porque sempre oferecerá somente e tão-somente matérias exclusivas e originais, que sejam relevantes, profundas e de interesse público. Publicaremos investigações de impacto, reportagens especiais e análises ágeis sobre fatos políticos e jurídicos do momento.
Nosso método é inovador: aliaremos jornalismo qualitativo (a apuração tradicional, com fontes humanas) com jornalismo quantitativo (construção e uso de grandes bancos de dados). Nossa postura também é diferente: nosso jornalismo só será completo com a participação substantiva do leitor. Para nós, jornalismo não é apenas o que publicamos. É também e especialmente o diálogo que se segue com os leitores – uma conversa na qual se constrói e se amplia o significado dos fatos, em que os dois lados aprendem. É, em suma, o que batizamos de “jornalismo em movimento”.
Esperamos, mediante essas e outras inovações, cumprir a missão à qual nos propusemos: ajudar a elevar o debate político e jurídico do Brasil. Temos um propósito, e isso guia nossa ações. Esperamos conquistar e manter, por anos e anos, leitores que enxerguem valor no que faremos juntos. Porque, para cumprirmos nossa missão, precisaremos da participação e da ajuda dos leitores. Afinal, cobraremos por assinaturas. É a maneira de sermos independentes e termos um negócio que se mantenha no longo prazo.
Enquanto fundador do projeto, quais foram os principais fatores que o fizeram a chegar aos nomes que compõem a equipe de redação?
Busquei profissionais de qualidade, claro, mas que entendessem, concordassem e se animassem com a minha proposta de jornalismo. Que curtissem a ideia de participar de algo inovador e de integrar uma cultura nova, num ambiente de colaboração constante e de forte experimentação. Tentei compor a equipe com a maior diversidade possível – de experiências de vida, perspectivas e de competências profissionais. Não temos apenas repórteres e editores. Temos times de dados e jornalismo visual, de produto e experiência do leitor (não usamos o termo “usuário”), de marketing e negócios digitais. Temos desde um engenheiro e uma estatística até programadores e designers visuais. Todos estão unidos pelo mesmo objetivo: produzir um jornalismo extraordinário.
Você tem experiência na mídia impressa, sobretudo na Época (Grupo Globo). Nos últimos meses, qual tem sido o seu preparo para tocar um veículo nativo digital?
Encarei esse desafio como se fosse uma grande investigação ou reportagem. Apesar de minha experiência com a prática jornalística e com o lado executivo da imprensa, sabia que tinha muito a aprender. Ainda tenho, naturalmente. Dediquei-me integralmente, durante um ano, a estudar o máximo possível sobre os principais aspectos que envolvem a criação e manutenção de uma empresa exitosa de jornalismo e tecnologia – afinal, somos uma startup que atua na intersecção entre as duas áreas.
Esse esforço envolveu, por baixo, dez viagens aos Estados Unidos e à Europa para conhecer experiências inovadoras, seja em veículos tradicionais, seja em startups, seja e conferências. A minha experiência na Columbia University me ajudou a retomar contatos com colegas altamente capacitados. Conheci e pude estreitar laços com gente inteligente, que está pensando e repensando o que o jornalismo pode ser num momento de tamanha transformação nas nossas vidas. Li e reli estudos, livros e artigos sobre tecnologia, jornalismo, produto, negócios digitais, estratégia – enfim, a gama de assuntos é enorme.
O mais importante desse processo – dessa apuração, vamos dizer – foi ter clareza sobre o que eu poderia saber e o que seguiria fora do meu alcance. Do que só virá com a experiência de empreender, com os aprendizados e os inevitáveis erros que acompanham qualquer empreitada nova – ainda mais uma com tamanha ambição. Hoje, ao menos tenho a convicção do norte que quero seguir e de que esse norte é viável.E tenho o mais importante: uma equipe talentosa e dedicada, que acredita no caminho que escolhemos. Ainda tento, quase sempre sem sucesso, separar o que está ao meu controle do que não está. Mas tenho consciência da responsabilidade que carrego, diante da promessa que me fiz e que fizemos aos leitores.
Vortex Media. O que motivou o nome? Cogitou-se adotar alguma outra nomenclatura? Por quê?
Como tudo nesse projeto, o nome foi aprovado após meses de testes. Tivemos dezenas de opções. Queríamos um nome forte, de impacto – como nosso jornalismo pretende ser. O encontro de duas forças opostas nos pareceu apropriado. Apesar da minha paixão pela língua portuguesa, queríamos um nome que também pudesse ser usado em inglês. Teremos produtos voltados ao mercado internacional. A palavra “media” entra nesse contexto e no nosso desejo de comunicar nosso alicerce digital.
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