Apesar de todo ano celebrarmos o Dia Mundial do Meio Ambiente em 5 de junho, ainda temos muito o que aprender, principalmente, a imprensa. Uma das razões é pelo fato de que os veículos de comunicação abrem pouco espaço para o meio ambiente e práticas sustentáveis. Geralmente, o assunto ganha destaque quando há uma tragédia. No entanto, é um tema que precisa ser tratado como algo cotidiano, já que interfere nas vidas das pessoas todos os dias.
Observando os veículos de comunicação como um todo, é notável a boa vontade dos jornalistas com o assunto. Todos os profissionais que já conversei mostram interesse e vontade de aprender. No entanto, repara-se que há pouco conhecimento por parte da imprensa.
Além disso, vemos jornais que ocupam páginas e páginas sobre esporte e política. Porém, para o meio ambiente só oferecem espaços esporádicos. Isso não quer dizer que outros assuntos não mereçam ser notícia. A grande questão é como a imprensa pode promover um debate mais inteligente.
Quando lemos alguma notícia sobre o meio ambiente, só vemos a discussão da falta de árvores, plástico nos oceanos, a poluição e as enchentes. Não adianta falar só sobre os sintomas e não difundir ações concretas que atacam nas causas.
É fundamental falar sobre caminhos que levam para boas soluções. Quando discutimos práticas sustentáveis, parece que estamos falando contra o sistema econômico ou capitalismo. Mas isso é bem ao contrário. A briga é pela exigência de que todos os aspectos da cadeia produtiva sejam levados em consideração.
Quando uma empresa vai lançar seu produto, é essencial que toda a cadeia produtiva leve para um ciclo e não para um fim, que normalmente é o lixo destinado aos aterros sanitários. Por exemplo, ao comprar uma pasta de dente, o que as pessoas devem fazer com o tubo depois? A cobrança é por soluções sustentáveis com a empresa que comercializou tal material.
Outro caso é com as garrafas pet. Hoje, conseguimos reciclar a garrafa. Mas o que fazemos com o rótulo de BOPP (polipropileno de baixa densidade) e a tampa PP (polipropileno)? Você separa os três? Como tem feito isso? Para quem não sabe, os três são recicláveis, mas só um que está tendo atenção.
O problema está no fato da pessoa não separar o rótulo e a tampa para outro lugar fazer a reciclagem. Esse pequeno detalhe acaba virando perda de material no processo. Isso acontece porque a pessoa que faz a coleta não entende da importância disso ou não sabe para onde levar. São cadeias de pertencimento diferentes.
Quando mandamos todos esses materiais juntos, sem fazer a separação, o processo de reciclagem se torna muito mais caro, perdendo valor agregado. A garrafa pet se for entregue separada dos outros materiais, ganha-se um ágio de 100% do material. Enquanto segregado, o valor despenca consideravelmente.
Essa queda acontece pelo fato da empresa, que recebe o material, acaba gastando com o processo de tirar o rótulo. Sem contar que as tampas vão ser retiradas manualmente, encarecendo os custos da separação e da reciclagem.
A imprensa pode ter um grande papel na sociedade educando e alertando que práticas simples podem facilitar a vida de todo mundo. Quando fazemos o nosso papel, toda a cadeia é beneficiada: os catadores de materiais recicláveis, aqueles que fazem a coleta, as empresas de reciclagem entre outros. Quanto mais valorizarmos os trabalhos deles, menos lixo teremos nas ruas.
O grande propósito de todo profissional da área do meio ambiente é horizontalizar o conhecimento. É preciso desmistificar as práticas sustentáveis, fazer com que se torne conhecido por mais pessoas. Chega a ser estranho falar disso com as pessoas e soar como fora da realidade delas. Minha meta é tornar esse tema mais acessível para a sociedade.
Os jornalistas podem ser ferramentas maravilhosas para essa mudança. A imprensa sempre será uma grande ponte entre as pessoas e o conhecimento. Porém, é preciso de mais esforço nesse sentido. Somente assim para virarmos esse jogo. O nosso futuro depende disso.
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Por Victor Correa. Geógrafo, fundador do Grão Coworking e consultor de resíduos sólidos.
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