Junho de 2014. Jorge Kajuru se despede do Esporte Interativo. A decisão foi tomada pelo desejo do jornalista em se dedicar à política. Estratégia que, de início, não saiu como o planejado. Filiado desde então ao nanico PRP, o cronista esportivo se candidatou a deputado federal por Goiás há quatro anos. Não foi eleito. Apesar da derrota, não voltou para a TV e seguiu na vida pública. Persistência que deu certo. Em 2016, foi eleito vereador de Goiânia, sendo o mais votado na ocasião. Agora, deixa o cargo para se preparar para outra função. Eleito senador, será um dos representantes de Goiás no Senado a partir de 2019, fazendo parte da chamada Bancada do Microfone.
Para conquistar o direito de se tornar parlamentar em nível federal, Jorge Kajuru superou políticos tradicionais nas urnas. Atrás de Vanderlan (PP), conquistou a segunda cadeira em disputa. Com mais de 1,5 milhão de votos, o jornalista superou os atuais senadores Wilder Morais (DEM) e Lúcia Vânia (PSB). Também teve o gostinho especial de vencer Marconi Perillo (PSDB). Ex-senador e governador por quatro mandatos, o tucano, que chegou a ser preso nesta semana, teve menos de um terço dos votos conquistados pelo comunicador. Kajuru e Perillo são desafetos públicos. O jornalista já deu declarações culpando o peessedebista pelo fechamento da Rádio K, em 2003. A emissora era controlada pelo profissional da imprensa.
A história envolvendo Jorge Kajuru, Marconi Perillo e a Rádio K começou em 1998, quando o tucano foi eleito governador de Goiás pela primeira vez. A única experiência do jornalista como empresário de comunicação tinha se iniciado um ano antes. Com tom crítico ao político e abrindo mão de publicidade de órgãos governamentais, o veículo de comunicação apresentava, ao longo de sua programação, denúncias ligadas a figuras e entidades da base de apoio ao político do PSDB. Com a emissora fechada em definitivo, depois de ser suspensa seis vezes ao decorrer da administração de Perillo, o comunicador desabafou. “Sou perseguido pelo governo, mas nunca fiz uma denúncia sem documentação”, disse Kajuru, em 2003, à reportagem da Folha de S. Paulo.
Rádio fechada e se dizendo perseguido pelo ex-governador de Goiás. Tudo isso ficou para trás ao decorrer dos dias subsequentes ao pleito. Jorge Kajuru teve o que comemorar. Na quarta-feira, 10, viu o seu algoz ser preso pela Polícia Federal. Nas redes sociais, o jornalista e senador eleito festejou a notícia. “Marconi está preso!”, publicou em sua página no Facebook. Destacou, ainda, que a informação foi dada em primeira mão por ele. “Honrada polícia federal cumpre missão”, complementou, antes de fazer uma previsão: “vai conseguir habeas de algum ‘juiz’ seu, mas voltará para a cadeia, igual ao Sérgio Cabral”. Um dia após ser detido, o tucano Marconi Perillo foi solto após o poder Judiciário conceder habeas corpus, mesmo com ele sendo suspeito de receber R$ 12 milhões de propina da Odebrecht, informa o G1.
Natural de Cajuru, cidade do interior de São Paulo com 35 mil habitantes, a trajetória política e na imprensa de Jorge Reis da Costa Nasser não se resume aos embates com Marconi Perillo. Aos 57 anos, ele tem décadas de atuação como cronista esportivo. Passando por emissoras de rádio e televisão da região de Ribeirão Preto (SP), conquistou fama nacional ao ser contratado pela Rede TV no início dos anos 2.000. Na então jovem emissora, fez tabelinha com Juca Kfouri, que comemorou a eleição do colega para o Congresso Federal. Passou por outros canais televisivos baseados na cidade de São Paulo, como TV Cultura, SBT e Band. No veículo do Grupo Bandeirantes, jura que foi demitido por ter criticado o então governador de Minas Gerais, o homem que sinalizou que poderia mandar matar o próprio primo: Aécio Neves (PSDB). A empresa de mídia e o político sempre negaram a informação.
As polêmicas de Jorge Kajuru no meio da comunicação vão além do caso da demissão da Band. Ao longo de sua trajetória no jornalismo esportivo, discutiu com entrevistados, colegas e celebridades. Chegou a ser ameaçado de agressão ao vivo ao chamar um boxeador de covarde na tela da TV Bandeirantes. Foi processado por diversas vezes. Entre centenas de processos que respondeu, esteve a ação movida pela apresentadora Luciana Gimenez. Em 2005, foi condenado a 18 meses de prisão. O motivo? Criticar a relação do primeiro governo de Marconi Perillo com o Grupo Jaime Câmara. Maior conglomerado de mídia de goiano, a empresa controla a afiliada da TV Globo no estado. A condenação do comunicador foi, na ocasião, revertida em prestação de serviços.
Mesmo com ensino superior incompleto, Jorge Kajuru fez carreira no jornalismo esportivo. No momento de se registrar como candidato ao Senado, o comunicador, porém, informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter outra profissão. Em vez de aparecer como “jornalista ou redator”, candidatou-se como “jornaleiro”. Por falar em informações prestadas à Justiça Eleitoral, o futuro parlamentar federal não declarou ser dono de nenhum imóvel, terreno ou automóvel. Seus bens se resumem a R$ 95 mil, frutos de “quotas ou quinhões de capital”. Tendo a candidatura devidamente deferida pelos órgãos competentes, Kajuru conquistou o direito de ser, como o próprio integrante da Bancada do Microfone enfatiza, o empregado público do povo goiano em Brasília. Se depender dele, o Senado vai tremer.
Exatamente 450 comunicadores tentarem se eleger a cargos públicos nestas eleições, conforme noticiou o Portal Comunique-se. Parte desses candidatos conseguiram se eleger, sobretudo para a Câmara dos Deputados e para o Senado. Ao longo das próximas semanas, o site apresentará alguns desses casos, destacando, assim, a Bancada do Microfone que se formará no Congresso a partir de 2019. Aguardem as próximas reportagens.
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