Em artigo para o Portal Comunique-se, o jornalista Thiago S. Gomide cita o caso Bettina. Ele chama a atenção para o fato de agências de investimentos estarem colocando dinheiro em ações de comunicação e até em projetos jornalísticos
A Bettina saiu de mil e poucos reais para R$ 1 milhão em três anos. 11 milhões de views teve o vídeo com ela confidenciando isso – e estimulando a entender a fórmula mágica. O que considero mais interessante desse negócio é que chegou com toda força a briga de produção de conteúdo por donos de agências (bancos) de investimento/treinamentos.
Há algum tempo, a XP Investimentos, hoje do Itaú, comprou o InfoMoney. O negócio é influenciar opinião. O resto vem no barco. Há algum tempo, a Empiricus, a empresa que a Bettina trabalha e viu o milagre acontecer, investiu no Antagonista. Vejo pouca gente trazendo isso para a conversa. Dá uma pauta gigantesca.
Esse movimento não é novo no Brasil, dirá lá fora. Nos Estados Unidos, na Inglaterra e no Japão, diversos grupos de investimentos em bolsa deslancham uma bolada em informação. Há, inclusive, como era de se esperar, briga por cliques. Cliques não garantem retorno, mas aumentam o alcance. O buzz. Algoritmo, baby.
Voltando à Bettina
Daí voltamos à Bettina. Ela abre a história dizendo que o tempo não está ao lado dela. Alguém que lucra R$ 1 milhão em três anos jamais deveria dizer isso. Convenhamos. Piadinha à parte, ela tem razão. Algum outro grupo vai gerar uma nova Bettina, que provavelmente irá dizer que ganhou R$ 5 milhões em duas semanas.
Quer saber? Basta pagar o curso. Os cinco segundos do comercial do YouTube são fichinhas. Bettina precisa vender. Reter. Encantar. E ser mais eficiente que a concorrência.
No Brasil, menos de um milhão de brasileiros investe na bolsa de valores. Esse número é péssimo, se compararmos com países vizinhos, como Chile e Colômbia. Gringos pesados? Nem pensar. Bettina, querendo muito, estimula o pensar sobre o ganho naquela que passou dos 100 mil pontos nesta semana e bateu recorde.
Os bancos de investimentos nos Estados Unidos, na Inglaterra, no Japão… e no Brasil precisam que esse número cresça. Por isso, treinam, informam e vendem.
O Jornal do Brasil impresso foi para a lona novamente. Omar Catito Peres vociferou que informação em papel não existe mais. Resultado: 20 jornalistas foram demitidos. Mas… dá-lhe Bettina.
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Por Thiago S. Gomide. Jornalista formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Idealizado do projeto Tá Na História e coordenador de projetos da MultiRio.