Se tem algo raro hoje em dia é jornalista que honra o jornalismo. Digamos que, de tão escasso, dá para contar nos dedos de uma só mão – e olhe lá – quais profissionais são realmente isentos e incansáveis no compromisso com a verdade e com a transformação positiva do mundo de forma sustentável.
Boechat era uma dessas valiosas e admiráveis pedras preciosas que lutava por manter a profissão respirando com o mínimo de dignidade, mesmo observando pelo vidro essa nova geração seguir na contramão daquilo que sempre lutou por preservar: a credibilidade.
Ricardo Eugênio era o “senhor” que, pelas ondas do rádio, me acompanhava todas as manhãs na ida ao trabalho (para me dar aula de jornalismo). Sem que soubesse, ele me acolhia ao anoitecer pela tela da Band (presenteando com uma segunda e inspiradora preleção).
Ricardo Eugênio era o “senhor” que, mesmo sem me conhecer, despertava diariamente em mim alguma reflexão capaz de me conscientizar e me (des)construir enquanto ser humano. Embora, não raras vezes, os tapas na cara me deixassem um tanto desconsertado e cético sobre aspectos que depois viriam a fazer total sentido.
Ricardo Eugênio era o “senhor” que, por ser dono de uma sabedoria tão poderosa, me fazia ter vergonha de dizer “sou jornalista” quando ele estava em cena. Afinal, quando ele estava ali, em qualquer microfone que fosse, só o que me restava era colocar o rabo entre as pernas, ficar calado, lhe prestar reverência, aplaudir e, se o raciocínio acompanhasse, tentar aprender algo.
Foi-se uma de nossas mentes mais brilhantes. Aquela que nos representava exercitando papel imprescindível de ombudsman por dias melhores. Uma lacuna irreparável que nos deixa órfãos e sem um substituto à altura.
É como se neste 11 de fevereiro de 2019, a notícia não fosse “queda de helicóptero mata o jornalista Ricardo Boechat”, mas sim: “Brasil perde seu mais onisciente dedo na ferida”.
Enfim, perdi o tipo de colega que ainda me fazia ter um pouco de orgulho dessa tão desvalorizada profissão. Perdi um colega que, consequentemente, mantinha acesa dentro de mim uma chama de que ainda/sempre vale a pena.
Gratidão pelos ensinamentos, mestre, Boechat. Agora, descanse. Seguimos por aqui, na luta. Boa noite.
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