Multimídia. Além de tantas outras qualidades, Ricardo Boechat poderia ser definido dessa forma: um jornalista multimídia. Oriundo da mídia escrita, ganhou destaque ao decorrer de sua trajetória na imprensa no rádio e na televisão. Ultimamente, também chamava a atenção nas redes sociais. Só no Facebook, mais de 1,4 milhão de internautas seguem a fan page que leva o seu nome. Página que não contará com mais conteúdos críticos que marcaram a carreira do profissional. Nesta segunda-feira, 11, Ricardo Eugênio Boechat morreu em queda de helicóptero na cidade de São Paulo.
Ele tinha 66 anos de idade e mais de quatro décadas dedicadas ao jornalismo brasileiro. Boechat era, aliás, um brasileiro com orgulho — e por opção. Nascido na Argentina, devido à carreira diplomática de seu pai, cresceu no Rio de Janeiro. Os primeiros passos na comunicação foram dados justamente em redações cariocas, conforme relembra perfil publicado pelo Portal dos Jornalistas. Em 1970, aos 18 anos, entrou para o time de colaboradores da coluna do saudoso Ibrahim Sued no Diário de Notícias. Depois, precisamente em 1983, trocou de impresso ao ser contratado pelo veículo que durante anos ficaria atrelado ao seu nome: O Globo.
Swann foi a coluna com a qual o comunicador iniciou a relação com o jornal carioca. Tempos mais tarde, tornou-se titular do espaço. Com hiato de 1987 a 1989, quando passou pela Secretaria de Comunicação fluminense e pelo Estadão, a relação de Boechat com o Grupo Globo permaneceu até 2001, quando também participava do ‘Bom Dia, Brasil’. Vínculo que chegou ao fim de forma conturbada. A Veja divulgou conversa telefônica entre o comunicador e o empresário Paulo Marinho. Eleito primeiro suplente de Flavio Bolsonaro nas últimas eleições, Marinho discutia com Boechat o teor de um texto a ser publicado. A conversa indicava que o jornalista estaria atuando em favor de Nelson Tanure numa disputa contra Daniel Dantas — o que foi categoricamente negado. “Cruzei a barreira da boa conduta profissional por um motivo tolo: vaidade”, disse ao se desculpar após ser demitido.
Tendo de seguir com a carreira fora de O Globo, Boechat foi ser colunista no Jornal do Brasil, então recém arrendado por Nelson Tanure. Além das notas diárias, ganhou mais espaço e responsabilidade, sendo durante um ano o diretor de redação do impresso. Depois de deixar a equipe do JB, voltou às atividades no colunismo político em outra marca da imprensa carioca, O Dia. Nesse período, acumulou a função com a de professor da Faculdade da Cidade. Voltou à função de gestor no Grupo Bandeirantes, em 2005, como diretor de jornalismo da filial carioca da Band. Um ano mais tarde, estreou como âncora do ‘Jornal da Band’, o que culminou em sua mudança para São Paulo.
Reinventando-se como jornalista, o então contratado do Grupo Bandeirantes não se contentou em ser somente um apresentador tradicional de telejornal. Despojado e crítico ao mesmo tempo, chamava a atenção — e quase sempre virava notícia — à frente das câmeras. Foi o caso de quando pediu para o operador da emissora voltar o teleprompter para poder anunciar corretamente uma informação. Conduta que deu certo. Tão certo que foi escalado para comandar o horário nobre da rádio hard news criada pela empresa em 2005, a BandNews FM. No dial, mídia em que estreou profissionalmente com mais de 50 anos, conquistou mais prestígio e reconhecimento.
Em posse do microfone da BandNews FM, o comunicador não parou de ganhar títulos. Só no Prêmio Comunique-se foram cinco troféus erguidos na categoria ‘Âncora de Rádio’. Quina de vitórias que o ajudou a se transformar no maior ganhador da história da premiação. Foram 18 conquistas desde 2006. Foi, no evento, reconhecido como “Mestre do Jornalismo” em quatro divisões: Âncora de Rádio, Âncora de TV, Colunista de Notícia (devido ao trabalho que mantinha na revista IstoÉ) e Nacional de Mídia Falada. Prêmios que se somam a dois Esso e outros tantos. Prêmios que mesmo em meio a polêmicas – como quando mandou o telepastor Silas Malafaia ir “procurar uma rola” e discutiu com uma produtora (na última semana) – reforçam o que Ricardo Eugênio Boechat foi para a imprensa brasileira: um verdadeiro MESTRE!
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