Não existe nada mais injusto do que negar a um colaborador o direito a despedir-se de seus colegas, retirar seu material pessoal, usar seu portfólio, incluir suas realizações em seu currículo… O mínimo que se espera dessa cordialidade corporativa é uma despedida com direito a agradecimentos de ambas as partes.
E no caso da comunicação de massa ainda tem algumas peculiaridades… o público (consumidor) se confunde com os companheiros de ofício. Não à toa que o maior deles, Silvio Santos, chama eternamente seu auditório, eminentemente feminino, de “colegas de trabalho”.
Não vou entrar em detalhes do imbróglio Fausto Silva X Rede Globo porque meus companheiros que cobrem Celebridades já estão, com muito mais competência do que eu, dissecando, repercutindo ou “suitando” (que no jargão jornalístico significa dar continunidade) essa história.
Por isso quero tratar o caso pelo lado do comportamento corporativo no mercado da comunicação. E ele traz justamente uma contradição numa empresa que busca a profissionalização e que vem promovendo rigorosas práticas de compliance, organizacionais e de transparência em seus processos administrativos, mesmo que para isso tenha que sofrer cortes na própria carne.
Esses tipos de medidas só são realmente interiorizadas ao processo se forem executadas em mão dupla e horizontal – ou seja, sirva para todos e em ambos os lados. Se não, fica parecendo só para “inglês ver” (no caso, investidores, financiadores, patrocinadores e público). As condutas, relacionamentos e práticas éticas-comportamentais devem ser cobradas de seus colaboradores da mesma forma como as ações da direção.
Trago aqui 2 casos recentes. Apenas porque tornaram-se públicos pelas partes e, assim mesmo, de forma meramente ilustrativa, sem querer abrir agora nenhum juízo de valor ou criar um “nariz de cera” (termo utilizado por jornalistas quando se desvia do assunto principal da pauta, principalmente no início do texto).
Marcius Melhem e José Mayer – afastados compulsoriamente pela Rede Globo por comportamentos considerados inadequados – de acordo com as regras de compliance. Será que agora, a mesma medida deveria ser tomada para a Globo se autoavaliar eticamente diante da postura adotada com o comunicador Fausto Silva? Houve exagero por parte de seus superiores?
Alguém trabalhou 32 anos sem nunca faltar (deixando pronta antecipadamente até suas férias). Faustão se ausenta pela primeira vez por um problema de saúde e, aproveitam sua substituição de urgência e a transformam como definitiva até o final do contrato que extingue em dezembro e que não foi renovado. Óbvio que, diante dessas circunstâncias, já tinham a intenção de afastá-lo, mas teriam tomado tal atitude se não tivessem esse empurrãozinho?
Lembrando que a história da TV é repleta de casos como este… Chacrinha largando a Globo em 1972, Dercy Gonçalves afastada da mesma forma, Flávio Cavalcanti na TV Tupi, Jota Silvestre ao deixar o SBT e até Hebe Camargo – ressentida de não ter podido fazer seu último programa na Bandeirantes – conforme relatado na minissérie que a própria Globo produziu sobre a Rainha da Telinha, coincidentemente, envolvendo a mesma concorrente, a Bandeirantes.
Já não fazia sentido, naquela época, achar que conseguiriam abafar a ausência do colaborador com efeito surpresa, antecipando sua saída, impedindo despedidas, boicotando seus comerciais ou tentando apagar todos os seus vestígios…
Quando os meios de comunicação tradicionais vão entender que não são mais a única voz dominante? Imagina agora, com o poder das mídias sociais! Faustão e os Saad agradecem… Não poderiam ter feito de forma mais eficiente essa maciça e virática campanha de divulgação que a Globo presenteou gratuitamente para o novo empreendimento da Band!
Só serviu para atiçar o público, angariar empatia e solidariedade, criar expectativa, além de termômetro do mercado publicitário para a concorrência. Isso sem falar em injustas comparações de Faustão com os colegas Tiago Leifert e Luciano Huck – improvisados sem um projeto próprio. Ou seja, anteciparam e amplificaram uma agenda positiva só para a concorrência e que só aconteceria em 2022 e, assim mesmo, diluída no mar de novidades das grades de programação.
Só falei com Faustão uma vez. E foi justamente no enterro do patrão Roberto Marinho, num velório reservado na Casa do Cosme Velho e que, hoje, virou Centro Cultural…
Estava pela internacional Reuters. Tinham alguns jornalistas no momento, mas mesmo assim chamou a atenção a deferência com que fez questão de atender a cada um de nós isoladamente, independente do prestígio e repercussão dos veículos. E nesse grupo, estava justamente uma equipe da Bandeirantes, emissora da qual tinha saído para estrelar na Globo e para onde, ironicamente retorna agora com esse episódio desnecessário.
Bom, para os não terraplanistas, o Globo(a) é redondo(a) e a Terra dá voltas! Ah… se dá!
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