O Instituto Reuters de Estudos do Jornalismo divulgou em janeiro seu relatório anual com análises sobre 2018 e previsões para 2019 no campo jornalístico. Foram entrevistados 200 pessoas que de alguma forma contribuem para a estratégia digital dos veículos em que trabalham. As principais tendências apontadas pelo relatório estão ligadas à percepção dos usuários sobre o ambiente digital.
As redes sociais são consideradas cada vez mais tóxicas e polarizadas, segundo o estudo. O instituto apontou que as pessoas estão mais conscientes do tempo que desperdiçam na internet. Por isso, há um movimento para deixar as redes sociais, ferramentas para “desintoxicação” digital e um foco maior em conteúdos significativos.
A queda da credibilidade do jornalismo, acompanhada pela falta de confiança em grandes empresas de tecnologia, colocarão privacidade, qualidade e experiência do usuário em foco em 2019. Após o escândalo da Cambridge Analytica, por exemplo, o Facebook restringiu o alcance de conteúdos postados por empresas de mídia e mudou suas políticas de publicidade, povoando o feed de notícia do usuário com mais informações compartilhadas por amigos. A mudança afetou anunciantes e veículos que focavam suas atenções no Facebook como o BuzzFeed, que reduziu sua operação no Reino Unido e encerrou as atividades na França.
O Instituto Reuters observou que, além de veículos terem se afastado do Facebook, a curadoria surge como uma ferramenta de engajamento dos usuários, principalmente se a seleção for feita por humanos, não por robôs. As redes sociais operam com algoritmos difíceis de compreender, que acabam despertando desconfiança.
A startup Kinzen, citada no relatório, se propõe a refundar a maneira como as notícias são consumidas. O modelo de negócios e a plataforma ainda estão em fase de teste, mas o funcionamento da Kinzen depende em parte do trabalho voluntário dos usuários para a realização de uma curadoria de informações. Um usuário que gosta, por exemplo, de jornalismo investigativo, pode entrar no grupo sobre esse assunto no site da Kinzen e descrever quais são suas fontes de informações e compartilhar conteúdos que ache interessante. Outros usuários com o mesmo interesse podem fazer a mesma curadoria ou apenas acessar o que foi postado sobre o tópico. Além disso, a plataforma investe em comunicação para que o funcionamento da curadoria seja mais transparente do que em outras redes sociais.
Outra iniciativa citada pela Reuters é a Curio.io que, com o slogan “escute o que importa”, transforma em áudio textos publicados por veículos como The Washington Post e The Economist. O serviço oferece o período de teste de um mês. Depois disso, é necessário fazer uma assinatura. Assim como a Kinzen, a startup destaca sua curadoria de notícias feitas por editores e acompanha outra tendência observada pela Reuters: o crescimento da importância do áudio.
A pesquisa que deu origem ao relatório apontou que 75% dos entrevistados considera que o áudio se tornará parte importante de seus conteúdos e estratégias comerciais. O modelo de assinaturas e associações tornou-se uma prioridade das organizações de mídia, com mais da metade (52%) dos entrevistados esperando que essas sejam as principais fontes de renda dos veículos em 2019.
O veículo The Correspondent, fundado na Holanda e em fase de expansão para os Estados Unidos, foi mencionado como uma empresa jornalística emergente com a proposta de desacelerar as notícias. Com uma cobertura menos reativa e mais atenta ao que os apoiadores querem ler, o veículo pretende melhorar o engajamento e sustentar seu modelo de negócios por assinaturas.
O ano passado foi considerado pelo instituto como negativo para grandes empresas de tecnologia. O Facebook foi protagonista de diversos escândalos, como o vazamento de dados pessoais dos usuários, que prejudicaram a credibilidade da empresa.
A proliferação de notícias falsas também contribui para a queda da confiança em redes sociais. De acordo com o relatório, após os acontecimentos de 2018 as plataformas deixarão de ser vistas como espaços neutros e “estão condenadas a serem bolas de futebol políticas neste e nos próximos anos”.
O Brasil foi citado no relatório de tendências assinado pelo pesquisador Nic Newman em dois momentos: na menção ao Projeto Comprova e na ascensão do WhatsApp, que também aconteceu em outros países em desenvolvimento como a Índia. “Quando só alguns aplicativos constroem a principal forma de compartilhamento de informação utilizada pela população, os riscos de desinformação e manipulação crescem exponencialmente”, pontua o relatório.
O Instituto Reuters disponibilizou os resultados obtidos na pesquisa apenas em inglês. No site, é possível saber mais sobre essas e outras tendências apontadas para 2019.
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Por Natália Silva.
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